How To Fight Loneliness

16.

Luca ficou parado no meio da rua, assistindo Julia ir embora. Entrou no bar, e Ceci olhou pra ele confusa.

- Cadê menina Julia?

- Foi embora puta. Ela achou que tinha visto a gente junto agora e não quis nem me ouvir.

- Eita. - ela abaixou e pegou uma cerveja na geladeira. Abriu e entregou pra ele.

- O Léo vai ficar puto com você me dando cerveja de novo, eu te pago logo mais.

- Não, não vai, ele tá ali atrás com a Dri bebendo. A gente não vai abrir hoje, eu descobri, e eu fui despedida.

- O que?

- Vem comigo ali com eles, a gente te conta. - ela pegou uma cerveja também, fechou a porta da frente do bar, e eles sentaram com o Léo e a Dri.

- Vem aí, Luca, junte-se a nós, os mais novos fudidos da cidade! - disse Dri, brindando com ele.

- O que rolou, gente?

- O dono do Celsius é um babaca, isso que rolou. - disse Léo, brindando também. - Ele me ligou, quando eu tava vindo pra cá, e disse que não precisava abrir hoje. Ele vendeu o prédio, e o Celsius vai fechar. Parece que esse prédio e mais dois do lado vão ser demolidos.

- Que beleza. Mas tudo bem, nenhum de vocês gostava daqui. Só vinha babaca aqui mesmo, e só dava bosta. - disse Luca.

- Pois é, acho que eu vou voltar pra publicidade. Mandar uns e-mails pros amigos de agência, voltar pra rotina de 9 às 6. - Léo continuou.

- Bom, boa sorte com isso, nunca vi ninguém numa agência sair às 6. - disse Dri. - Eu acho que vou procurar outro bar mesmo, gosto do horário, das bebidas, mulheres, iates.

Os quatro riram juntos. Ceci pulou na cadeira, e soltou:

- E eu me vou! Eu só ia ficar mais duas semanas aqui, vou comprar a passagem e ir mais cedo.

- Pra onde dessa vez, Ceci?

- Pros Estados Unidos de novo, eu acho. Talvez a costa oeste. E você, Luca, o que você vai fazer agora?

- Eu não acabei de ser demitido, galera.

- Mas você odeia seu emprego.

- Eu sei, acabaram de esfregar isso na minha cara de novo ali fora. Sei lá. Nunca vi pedir demissão como uma opção, sempre achei que fosse tudo a mesma merda. Vocês acham que vale a pena?

- Bro, eu nunca fiquei tão feliz de ser demitido na vida! - riu Léo. - Imagina pedir demissão? Que maravilha seria. Fazer o "Procurado" e meter um "Vão todos se foder, babacas do caralho!" Mas vamos roubar mais uma ou duas cervejas cada um e sair fora, gente. Ninguém merece ficar aqui de castigo.

Dri e Léo subiram a rua juntos em direção ao metrô, e Ceci e Luca caminharam para a casa dele.

- Você vai embora antes mesmo?

- Vou, né? Eu só tava aqui pra juntar uma grana, pegar umas coisas em casa. Não vou caçar outro emprego agora. Mas não é sobre isso que a gente devia estar falando. O que aconteceu, exatamente?

- Foi simples assim mesmo, a Julia viu a gente, entendeu que eu estava com você, e ficou puta. Disse que eu gosto de sofrer, que só fico com uma ex que me deixa mal, num emprego que eu odeio porque daí eu sempre vou ter do que reclamar.

- Ela tá certa. Eu sempre achei, bom, não que você gostasse de sofrer, mas que rolasse um conformismo.

- Porque legal mesmo é mudar o que você quer fazer da vida a cada cinco segundos, né, Cecilia?

- Luca, alguma vez nessa puta vida você me viu reclamar? Se a sua estrela não brilha, não tente apagar a minha - ela gargalhou. - Eu posso nunca saber o que eu quero, mas eu nunca estou chateada com o que eu faço.

- Mas como você dorme sem saber onde vai estar na semana seguinte?

- Fechando os olhos e relaxando, como todo mundo. Luca, você precisa ser mais de boas. Nenhum emprego vale esse stress, ou como dizem, nenhum CNPJ vale um AVC. Faz o que você quiser da sua vida, cara.

Eles chegaram em casa e Ceci arrumou as malas. Se despediu de Luca, chamou um táxi para a casa dos pais para o resto do seu tempo de Brasil. Parados na porta do apartamento dele, ela o abraçou e disse:

- Luquinha, vou sentir sua falta. Quando estiver pra voltar, te aviso. Mas a gente se fala. Agora que você tá solteiro de novo. - ela piscou para ele, e ele deu um passo pra trás.

- Ceci, não. Você mesma falou, eu sou muito conformado, preciso correr atrás dela.

- Sei lá, achei que depois de te ver de mãos dadas com a ex, ela ia desistir de vez.

- Você fez de propósito? Ser fofinha comigo no caminho? - ele sentia o rosto ficar vermelho, enquanto Ceci ria.

- Claro. A menina não aguenta uma ceninha de carinho entre ex, e já surta contigo? Aff, se livra.

- Ceci, sua maldita! Ela tá puta comigo por sua causa!

- Aff, eu tava te fazendo um favor. Mas se você gosta tanto dela, vai se e se redime. Leva flor, chocolate, sei lá. Que bichice ela gostaria mais?

Luca bateu a porta na cara dela. Ceci ainda estava gritando e chamando de ridículo do outro lado, mas ele se manteve forte ignorando os gritos. Agora só precisava consertar a gracinha dela.