Ela olhou todo o quarto. Sentada na cama, as mãos apertavam a beira do colchão com força. Nada fazia sentido naquela cena. Não fazia sentido que a mala que ficava no armário em cima da porta estivesse aberta no chão, cheia com as roupas dele. Não fazia sentido aquela porta do banheiro que ele acabou de bater, o que fez com que ela apertasse mais a borda do colchão. Ele abriu a porta, respirou fundo e cruzou os braços, encostado no batente.
- Não dá. O que eu ia ganhar ficando, Ju, me diz?
- Não sei. - ela enxugou o rosto e olhou séria pra ele - Não sei o que você ganha indo também.
- O apartamento é seu. Eu não vou dormir na sala pra sempre.
- E vai dormir onde? Embaixo da ponte?
- Lá com certeza vai ser mais confortável que na sua sala.
- Minha sala, Diego? Já é exclusivamente minha sala?
Ele andou até a sala, batendo os pés. Não havia motivo para que ele estivesse nervoso. Ele agia como se aquilo tudo fosse culpa dela. Ela já estava exausta.
Ela conferiu as mensagens no celular e achou a desculpa perfeita. Calçou os tênis e foi até o banheiro. Lavou o rosto, e respirou fundo. Ainda tinha a cara levemente vermelha de choro, mas não se importava. Deu uma ajeitada no cabelo com as mãose andou decidida pela sala, onde ele separava os livros.
- Eu vou sair. - ela disse enquanto caminhava direto pela sala para a cozinha.
- Onde você vai? - ele continuava separando suas coisas, sem olhar para os lados.
- Sair.
Ela o ouviu bufar sozinho. Abriu a garrafa de vodka barata que estava largada na pia da cozinha, puxou um copo de shot da prateleira e encheu até a boca. Virou o copo o mais rápido que podia, e sua cara se retorceu numa careta. Ela não bebia assim, mas nas duas últimas semanas precisava daquele shot diariamente para conviver com ele.
- Você vai sair mesmo? - Ele esfregou o rosto com as duas mãos, sem saber se ela estava avisando ou fazendo uma cena. Olhava pra ela, enquanto sentava no chão, cercado de livros.
- Vou. E por sinal - disse, enquanto puxava dois livros de uma das pilhas - esses aqui são meus.
Ele deu de ombros.
- Não custava tentar.
Ela ia replicar, soltar algum comentário venenoso sobre como ele tinha criado o péssimo hábito de experimentar coisas que não devia. Mas só pegou a bolsa em cima da mesa. Olhou longamente para ele sentado separando as coisas na mala.
- Vê se guarda os meus de volta na estante do quarto depois de separar tudo. Não sou obrigada a chegar tropeçando em livro.
Bateu a porta sem olhar pra trás, mas podia adivinhar que ele tinha bufado mais uma vez pra ela. Fernanda já a esperava na porta do prédio e ajoelhou no chão quando ela surgiu pelo portão.
- Finalmente, Jesus! Achei que ia ter que te arrastar de lá, mulher.
- Não exagera, você ligou há 10 minutos.

VOCÊ ESTÁ LENDO
How To Fight Loneliness
DiversosA primeira coisa que você quer vai ser a última coisa que você precisa. Trilha sonora: https://open.spotify.com/user/tatihc/playlist/2muj15JD4A6cGFwXAiS05o Board: https://br.pinterest.com/tatihc/how-to-fight-loneliness-inspira%C3%A7%C3%A3o/