5.

120 10 33
                                    

Quando a conversa saiu do território de relacionamentos acabados, Julia e Luca relaxaram um pouco mais. Ou isso ou a muita cerveja que eles tomaram começou a subir, pensou Julia. Mas de fato, eles começaram a discutir livros e teorias da conspiração, e não paravam de falar e rir. Ela nunca tinha se soltado desse jeito com alguém, mas ele a fazia se sentir tão leve, que nada mais importava. O bar já estava fechando quando eles perceberam que tinham passado muito tempo ali.

- Que fechem, é um país livre! - Julia se agarrou nos cantos da cadeira, rindo.

- Tenho quase certeza que eles vão guardar isso lá dentro, gata, você não pode se prender nela.

- Posso, quem viver verá!

- Julia, acho que tá na hora de mocinha ir pra cama, né? Alguém já tá doida do cu aqui.

- Acho que tá, mas só se você for um cavalheiro e me acompanhar.

- Até sua casa? É longe?

- Nada longe, eu moro na rua desse bar. Olha que conveniente.

- Muito conveniente. Vamos, né?

Luca foi segurando Julia pela cintura até o prédio dela, o que ela quis interpretar como romântico, mas sabia que era só porque ela estava tropeçando na rua feito uma idiota. Nada a faria se sentir menos idiota no geral, de Luca guiando seu caminho para que ela não desse com o nariz no chão ao jeito condescendente como ele falava com ela, de quem cuida de bêbado. A parte ruim de não conseguir comer é que a bebida bate que bate que desce estourando. Ela parou na frente do prédio, e ele ficou tenso olhando se ela ia passar mal.

- Tá tudo bem?

- Chegôoo! É aqui. Sobe aí.

- Tem certeza, Julia?

- Já me carregou até aqui, ~baby~, sobe aí. Rouba uma cerveja da minha geladeira.

- Que fique claro que eu só vou roubar pra que você não beba mais.

Os dois subiram no apartamento, e Julia imediatamente correu pro banheiro que ficava dentro do quarto. Bateu a porta atrás de si, temendo que Luca fosse continuar sendo cavalheiro até segurando o cabelo dela. Alarme falso, o enjôo passou. Se sentindo um pouco melhor depois de quase passar mal, lavou o rosto, e se encarou no espelho. Seu rosto ganhava pintinhas rosas quando ela ficava enjoada por motivos que ela desconhecia. Respirou fundo e saiu do banheiro, e Luca estava sentado na cama olhando para a porta, preocupado.

- Tá tudo bem? Precisou de um padre gritando "o poder de Cristo te obriga!", ou algo assim?

- Não, tá tranquilo, não passei mal nem nada. To melhor agora.

- Geralmente é melhor colocar tudo pra fora, você volta zero bala.

- Nossa, Luca, desculpa, eu não achei que fosse ficar tão mal. Te fazer acompanhar essa cena ridícula.

- Baby, se eu te disser que eu tinha gorfado na calçada 5 minutos antes de você chegar, te consola?

- Sério?

- Não, mas vamos trabalhar com essa história a partir de agora, só pra você deixar de ser ridícula por QUASE passar mal. Foda-se. Só come alguma coisa agora, pelo amor de Deus, esse enjôo deve ser fome. E você me deve uma cerveja. TRAGA-ME UMA CERVEJA, MULHER! - ele bateu no peito com os punhos cerrados, e tossiu logo depois do golpe. Ela não resistiu rir da cena e apontou a pequena cozinha logo depois da sala para ele.

Ainda um pouco tonta, não se arriscou a comer nada muito mais pesado que uma sopa de caneca, enquanto ele bebia a prometida cerveja. Os dois continuaram de pé na cozinha, e Luca bocejava.

- Você não dormiu ainda, né? Desde ontem?

- Dormi quase duas horas. Deu pra quase sonhar.

- Você precisava dormir, não? Sua casa é longe daqui?

- Não, é dois quarteirões daqui, na rua do lado do Celsius. Por que você acha que eu me dou o trabalho de ir naquela espelunca?

- Pelos barmans gatos, eu assumi.

- Também. Mas a proximidade é o motivo principal. Mas eu não quero ir pra casa, não. To preocupado com você.

- Sei. Um preocupado você.

- É verdade. Vai que você dá uma de Jimi Hendrix aí? - não prestava um centavo, esse homem. Ela o encarou enquanto ele tomava um gole da cerveja e brincava de rearranjar os imãs da geladeira dela. A alternativa seria dormir numa casa vazia pela primeira vez.

- Eu não acho que eu vou dar uma de Jimi Hendrix, eu juro. Mas não custa nada ter supervisão.

- Perfeito. Mas por favor, fica de conchinha menor dessa vez. Vai que.

- Dessa vez? Haha, pouca presunção sua.

- O quê? O MÍNIMO que eu esperava é mais uma noite pra você ser a conchinha maior e retribuir o favor. Direitos iguais. O patriarcado era um negócio muito mais vantajoso, viu.

Ela deu um soquinho no braço dele, e o guiou para o quarto. Ela trocou de roupa no banheiro e tentou parecer bonitinha de pijama, com o shortinhos cinza e a camiseta de manga comprida preta e justa. Se abanando incontrolavelmente na privacidade do banheiro, ela estava nervosa com a expectativa de deitar na cama com ele, mesmo que nada acontecesse.

Abriu a porta e ele estava deitado em cima das cobertas, já sem os tênis, a calça jeans e o casaco. Ele também tinha apagado todas as luzes da casa e deixado só o abajur da cabeceira aceso. Só de camiseta e boxer deitado com a cabeça sobre os braços, encarando o teto, que visão. Que pernas. Ela estava mudando um pouco o seu julgamento inicial de que ele não era assim, "nossa, que homem".

Puxou as cobertas para deitar, e ele se encolheu para entrar debaixo das cobertas também. Deitados um do lado do outro, se olhando, Luca respirou fundo e sorriu.

- Quando você criou sardas?

- Mais ou menos uma hora atrás.

- Ah tá. Haha. É uma pena que deve sumir. Fica bonitinho em você. - ele passou a mão de leve no rosto dela e deixou escorregar até o braço. Ela ficou hipnotizada nos olhos verdes dele.

Ele a puxou para mais perto e a beijou, primeiro devagar, depois com mais vontade. Julia o abraçou de volta, e acariciou as costas de leve, o que o fez tremer, e sorrir enquanto continuava a beijando. Ele apertou a cintura dela, e desceu a mão para a bunda, fazendo-a soltar um gemido baixo. Como se despertasse com aquilo, ele parou, olhou sério para ela. Respirou fundo e abriu um sorriso, antes de dar um beijo longo no rosto dela e dizer:

- Boa noite, Juju. fica bem aí.

- Boa noite. - ela virou de costas pra ele, esperando que a história da conchinha não fosse só brincadeira. Não era. Assim que ela virou, ele a abraçou forte, e ela o sentiu respirar fundo novamente. Ela queria continuar, e sentí-lo duro encostado nela assim perto só piorava a vontade dela. E ele não estava se escondendo, claramente. Segurou na mão dele, fechou os olhos e tentou relaxar. Dormiu mais tranquila do que jamais dormira no último mês.

How To Fight LonelinessOnde histórias criam vida. Descubra agora