Bilhetes pelas paredes

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Eu não acreditava que Arya podia ter praticamente se jogado para cima do Logan. Me virei para Lolla, que caminhava pensativa.
- A sua prima é muito atirada. - Eu disse, emburrada. Ela se voltou para mim.
- Ah, é o jeito dela. Ela sempre foi assim, não ligue. Mas ela é muito divertida, se conhecer ela melhor, você verá. - A mesma terminou a frase sorrindo.
Fiz uma careta.
- Mas o Logan não é grande coisa para o monte de meninas ficarem se agitando assim. - Insisti, desviando de um poste.
- Bem, convenhamos, ele chama bastante a atenção. - Lolla respondeu, gesticulando e olhando para o céu.
Me voltei para ela.
- Não... Só porque ele ficou... Diferente? Diferente não, arrogante, repugnante! - Exclamei, parando, e encarando ela.
- Até parece que não conhece as putas da nossa escola Sam. Elas gostam de gente assim. - A mesma disse, dando de ombros.
Abri a boca.
- Você falando assim... Até parece ter gostado de quase ser estuprada por ele! - Despejei, franzindo a testa. Lolla ficou em silêncio por alguns minutos, apenas me olhando.
- Você... Você gostou?! - Gaguejei. Ela fez uma careta, se virando e começando a andar.
- Claro que não! Por favor, estou apenas observando esse seu ciúme ridículo. - Ela devolveu, desviando o olhar de mim.
- Eu?! Ciúme?! Dele?! Como... Hã?! Mas... Nossa, nada a ver, Lolla! Da onde você tirou isso?! - Eu quase grutei, estranhando minha reação.
- Pensa que eu não vi o beijo de vocês, Sam? - A mesma disse, com um tom de deboche.
Atônita, senti meu rosto formigar.
- A... Aquilo não quer dizer nada. - Respondi, juntando as sobrancelhas, e coçando a cabeça. Lolla riu.
- Ok. Vamos fingir que não. - A mesma devolveu, voltando a seriedade.
- Você disfarça muito bem o fato de gostar dele. - Ela sussurrou. Ergui os ombros, e curvei os lábios.
- Não gosto dele. Ele me dá nojo. - Respondi. E era verdade. Odiava a companhia repugnante dele.
- Agora até pode ser. Mas será que não gostava antes de tudo isso acontecer, e ele ainda ser o Logan preocupado com tudo e com você? - Ela disse, sorrindo.
Parei para pensar. Sim, ela tinha razão. Eu gostava dele, caso o contrário, porque eu teria o beijado?
Dei de ombros, sem a responder. O fato de eu ter gostado daquele crápula uma vez na vida, me dava raiva de mim mesma.
Dobramos a rua, saindo para a calçada da escola. Engoli em seco ao olhar para seus vidros escuros e manchados. Alguns quebrados. O telhado continua uma cabeça de boneca.
Depois dessa pequena discussão com Lolla, pareceu meio chato tentar falar com ela, que caminhava olhando para o chão, fingindo não prestar atenção nas coisas a sua volta.
- Essa escola as vezes da arrepios né? - Balbuciei, desconfortável. Ela balançou os ombros, sem interesse.
- Tanto faz. Já to ai a tanto tempo, que já me acostumei. - Ela contou. Ergui a sobrancelha.
- Tanto tempo? Desde quando está aqui? - Perguntei.
- Desde que me mudei para cá, pequena. Caso você não saiba, de tarde, à aulas para crianças, do primeiro ao quinto ano. Depois do quinto, as pessoas tem que ir para manha. Estou aqui desde minha segunda série. Me assustei no começo... Lembro que sempre me deixavam sozinha na sala de aula. As crianças iam embora, e eu tinha que ficar, para fazer atividades que a diretora passava para mim. Ela dizia que ia pegar alguma coisa em outra sala, mas nunca voltava... Me deixava sozinha ali... Com as cadeiras dando solavancos para trás, sozinhas. As canetas dos outros alunos caindo ou rolando pela mesa... Sozinhas. Sem nenhum vento. - Ela sussurrou, relembrando.
- Eu, criança, me assustava facilmente ai. E os outros riam da minha cara. Até um garotinho do primeiro ano morrer. - Ela acrescentou, olhando sombriamente para uma das janelas da escola.
Percebi que nós havíamos parado em frente a ela, sem nenhum motivo.
- Morreu... Como? - Perguntei, aflita. Ela se virou para mim, afastando o cabelo que caia pela bochecha.
- Morreu com uma caneta enfiada na garganta. - Ela respondeu. Fiz uma careta.
- Que horror... Quem fez isso? - Consegui perguntar fracamente, levando a mão até a boca. Lolla deu de ombros.
- Ninguém sabe. Nunca soube. Depois daquele dia, pararam de rir de mim. Passaram a acreditar no que eu dizia. Então chegou Agatha. A garota que passou a ser tachada de estranha pelo colégio inteiro. Talvez pela sua vida, ela não gostava de se misturar. Tentava falar com ela, mas parecia temer qualquer amizade. - Lolla suspirou, alisando o cotovelo.
- O garoto que morreu, foi achado no banheiro dos deficientes. Bem, ele era um deficiente na verdade... Ele havia dito levado pela cuidadora, mas ele nunca retornou para a sala... A cuidadora foi encontrada presa, dopada, no armário de limpeza das empregadas da escola. Culparam ela, mas depois de um tempo, perceberam que ela realmente não sabia de nada do caso. E ela gostava tanto desse menino... Se preocupava tanto com ele. - Lolla disse, lentamente.
Consegui engasgar.
- E... Esse deficiente, ele era... Um cadeirante? - Soltei para ela.
- Sim, era. Como sabe? - A mesma perguntou, estranhando.
Engoli em seco, sentindo o vento do começo da manhã bater em meu rosto.
- Apenas deduzi. - Respondi, secamente. Ela deu de ombros.
- Lembro que nessa época, vários alunos saíram da escola. Outros, sumiram... Estranho né? Sim, sumiram. Sem explicação. Simplesmente iam para o intervalo e não voltavam mais. - A mesma terminou de explicar.
- E mesmo com tudo isso. Porque a escola não fechou? - Perguntei, indignada.
- Essa escola tinha e tem, algo que não deixa o aluno sentir vontade de sair daqui. Nem os professores. É estranho... Talvez porque seja a única escola perto, daqui da região. - Ela foi dizendo, mas seu olhar vidrou em alguma parte da parede azul clara da escola.
Segui seu olhar, intrigada, e vi um rabisco vermelho em um ponto da suja parede.
- E... Hey, o que é aquilo? - Lolla apontou, franzindo a testa, e chegando mais perto.
A segui, e li o rabisco:
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Samantha Dylan
O jogo ainda nem começou
--
Lolla leu também, entortando a boca, e me olhando, com uma expressão um tanto assustada.
A tinta vermelha escorria, dando certa impressão de ser sangue.
Meu coração batia violentamente. Mais parecia que a parede tinha sido arranhada com as letras possuindo grandes garranchos.
No fim das palavras, se encontravam as iniciais:
L.M
Com um nó na garganta, raciocinei, rapidamente na minha cabeça.
Logan Miller.
Eram as iniciais do nome daquele imbecil.

Tem alguém aí? - Volume 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora