Uma canção macabra

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Arya me seguiu apressadamente com um ar de contrariedade. Atravessei a rua, com ela um pouco mais atrás e gritei:
- Mais rápido Arya, vem logo! - Ela fez cara de tédio e apertou o passo. Já estávamos perto da escola, o que quer dizer que teríamos que caminhar mais ainda para a casa de Agatha, e pior, eu não sabia o que estava acontecendo.
****

Logan

A casa escura formava uma tensa energia, que era confortante para mim.
Olhei enojado para Marisa, que sorria para o papel a sua frente.
- Então meu filho, já que o Halloween se aproxima, seu aniversário pode ter atores disfarçados de monstros. - Ela disse, repugnantemente feliz.
- Não me chame de "filho". - Devolvi, me voltando para a parede e levando a boca a Vodka que eu tinha no copo.
Ela riu, como se fosse normal. Revirei os olhos, impacientemente, olhando pela janela.

- Hã... filho, estava pensando em fazer como uma festa de terror - A doida continuou. Me virei para ela, rosnando.

- Para de me tratar como criança! - Quase gritei, largando o copo na frente da televisão. A outra me olhou, séria.

- Mas fi... Logan. Estou apenas tentando ser legal - Marisa sussurrou, agora sorrindo, mas suas palavras soaram vazias. Trinquei os dentes, e balancei a cabeça, em sinal de reprovação, indo em direção da porta, a abrindo violentamente, saindo logo em seguida.

Eu precisava de álcool. Precisava de sangue.

¶Agatha¶

Emily sorria tranquilamente para mim. Como não chegar perto? Como resistir a tentação de abraça-lá? Ela parecia tão feliz. E eu não sabia onde estava Lee. Tomara que fique longe de mim e dela.

- Venha Agatha! Não sente minha falta? Lembra que você ia cantar uma música para mim? Estou com tanto sono... - Suas palavras voaram pelos meus ouvidos, como uma canção suavemente cantada pela voz inocente de uma criança.

Sorri de lado, ainda com a mão estendida para a mesma. Não prestava atenção em nada á minha volta. Apenas na minha irmãzinha, que precisava de atenção... ontem mesmo brincamos por esse jardim de cemitérios...

Ela riu. Uma risada fraca e cativante, nos tirando totalmente do transe do pensamento.

Dei um passo vacilante em sua direção, e Emily fez o mesmo, abrindo o sorriso amarelo em seus lábios de criança.

Sam

- AGATHA! PARA! - Gritei, avistando a mesma. Logo em seguida vendo a criança que eu havia visto no dia em que fui na casa dela. Uma caixinha de música, hipnotizava com sua música macabra e triste, quase como a trilha sonora de um enterro.

A outra virou a cabeça lentamente para mim, mas mantinha os olhos pregados na entidade a sua frente.

- Agatha, você está doente! Amnésia! Sua irmã está morta! Não existe Emily! - Cuspi as palavras, arquejando com a dor que se formou no cotovelo do meu braço machucado.

- EU NÃO CONHEÇO VOCÊS! ME DEIXEM EM PAZ COM A ÚNICA PESSOA QUE ME FAZ BEM! - A garota berrou, se virando totalmente para mim, tirando o fantasma da atenção. Os cabelos negros se misturavam com a neblina. A meia luz fraca do sol, não alcançava a frente da casa de Agatha, fazendo parecer mais sombrio.

Puxei o ar, vagamente, ainda encarando Emily.

- Exatamente, Sam. - A criança fantasma disse, sua voz serpenteando friamente entre meus tímpanos. O jeito que ela pronunciou meu nome, com um toque de ironia na voz, fez minha espinha tremer de uma ponta a outra.

Arya passou a língua pelos lábios, suspirando.

- Olha, não vou ficar perdendo meu tempo com uma múmia, que nem você, Agatha. - A mesma dise, lentamente, depois parando e exibindo um sorrisinho sem graça - Sem ofensas, claro - Ela completou, erguendo as mãos e olhando para a criança, que mantinha os dentes trincados.

- Luke, venha aqui. Saia da entrada do cemitério - Falei, pressentindo algo errado. Ele me olhou, confuso, saindo de lá, lentamente. A fantasma parecia ter percebido que tinha alguma coisa errada também.

O tempo ficou mais pesado. O sol naquela região, pareceu se esconder ainda mais. Me encolhi, abraçando meu braço enfaixado, olhando para os lados, aflita.

Agatha parou, confusa, com a expressão relutante.

O céu acima de nós, ficou cinza. Tinha a impressão de que as nuvens formavam um pequeno rodamoinho, de acordo com o vento. A neblina apertou um pouco mais, chegando cada vez mais a nossa pele, de modo que eu conseguisse sentir seu ar gelado e perfurante.

Olhei para a fantasma, com as sobrancelhas juntas. Emily sorriu, lentamente. Sua aparência mudando vagamente. A pele, antes alva e aveludada, agora criava pequenos hematomas, juntando com marcas descascadas pelo braço. Um corte se abriu na altura de seu cérebro, fazendo um filete de sangue começar a sair do mesmo. O sorriso antes inocente e amigo, agora macabro e aterrorizante.

A caixinha de música parou com um tranco.

Tudo ficou em silencio por alguns segundos. Arya observava com o semblante de terror a fantasma a sua frente. Luke encarava a mesma, boquiaberto. Agatha parecia não vê-la.

Ouvi, devagar, um som monótono de piano. Começou, a principio, com um som baixo. Depois, foi aumentando. E aumentando, ficando com um som dramático e ao mesmo tempo macabro.

Arregalei os olhos, abrindo a boca, levando as mãos pesadamente sobre os ouvidos. Mas o som insistente, continuava a torturar o mesmo, como um som berrante e maldoso, que teimava em martelar em minha cabeça.

Com a medida que o som ia aumentando, Arya berrou, fechando os olhos, se encolhendo com o som alto. A criança gargalhou, competindo com o barulho do piano. Não pude ver a reação de Luke, tamanho o barulho, que parecia me ferir mesmo sem tocar.

Tossi, lembrando da entidade pianista. O Logan tinha razão. Agatha também...

Espera!

Exatamente as duas pessoas que me alertavam sobre esse tal pianista, agora estão com problemas... Agatha não se lembra de nada, Logan está...

Arregalei os olhos, ignorando o som estridente aos meus ouvidos.

Agatha caiu da escada, por culpa de um fantasma. Logan ficou assim, porque...?

Possuído.

Só podia ser. Como seu jeito mudaria tanto, de uma hora para outra?! Era impossível!

Agarrei o pulso de Arya, fingindo não ouvir o toque macabro do piano, e a gargalhada de Emily.

De duas coisas, eu tinha certeza. Logan estava possuído, e Pianista havia saído da escola. De alguma forma, o aviso de Kate, havia acontecido. O fantasma havia se libertado da escola, junto com Taylor.



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