Capítulo 1

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Existem motivos pelos quais garotos tem medo de garotas. Mas quem diria que o motivo que o motivo de eu temer uma garota seria tão estranho.

Mas, vamos começar do início. Embora não esteja lendo esta história só pra saber sobre a vida de um zé ninguém como eu, eu sou a peça mais importante disso tudo. Bom, pelo menos uma vez na vida eu precisava fazer algo que preste.



Tudo começou com quando minha mãe ainda estava grávida de mim. Nenhuma mulher quer engravidar aos vinte e um, mas é o que aconteceu. Elisa Delveccio. Mais conhecida como minha mãe, engravidou de um dos mais cobiçados atletas da universidade. Seu nome? Rodrigo Delanté. Embora tenha se assumido como pai, nunca fez parte da minha vida. Nunca sequer deu um centavo para minha mãe, que me criou sozinha. Uma vez ou outra, sou levado para passar um ou dois dias junto dele. Às vezes semanas por completo.

Depois de engravidar, minha mãe teve de trancar a faculdade. A única fonte de dinheiro que tinha era o valor que ganhava como colunista do jornal da cidade. Posso dizer que com sorte, nunca passamos nenhum tipo de necessidade. Ela iria se tornar doutora em literatura inglesa se eu não tivesse nascido. Nos mudamos. Para longe, muito longe de onde tudo aconteceu. Longe da universidade. Longe de seus amigos. Longe de meu pai. Acho que eu teria melhores experiências crescendo no berçário da universidade do que no bairro onde moro com minha mãe desde então.

Dez atrás. Eu tinha apenas sete anos de idade, era a primeira vez que saía para brincar na rua com alguns vizinhos. Foi assim que conheci meu então melhor amigo, Thomas. Crescendo juntos no mesmo bairro, desde criança. Era uma rua sem saída. Sempre tive curiosidade de saber o que existia no final dessa rua, até que um dia decidi ir junto de Thomas para ver o que havia no final da rua do bairro onde moramos. Algo que eu nunca deveria ter feito. Duas conhecendo o bairro onde moram, nada mais natural. O único problema, é que o que existia no final da rua, era algo que eu nunca mais gostaria de ver na minha vida. Uma casa enorme e velha de madeira, uns três andares, com muros de pedra e grades e portões de ferro negro. Um "jardim" com plantas mortas e pequenas pragas, ao lado de um lago que eu nunca tinha visto na minha vida. Não era um lago comum. Ele me transmitia maus pressentimentos. As águas eram mais negras do que petróleo, e ele exalava um cheiro horrível. Em minha opinião, cheiro de morte. A forte luz do Sol do meio-dia desaparece. O céu uniformemente azul estava tomado de nuvens negras. Tudo escureceu. Parados na calçada em frente a velha casa, Thomas e eu encaramos um ao outro tentando entender o que estava acontecendo. Um raio atingiu certeiramente o centro do lago. Tudo se iluminou. A Casa se iluminou. Podemos ver nitidamente a silhueta de uma garota na janela da frente. A única coisa que me lembro daí em diante, foi que corremos. Corremos muito rápido. E para piorar, ainda tive de ficar de castigo depois que contei tudo isso para minha mãe. Ela disse que eu estava dizendo "calúnias".

E foi assim que criei meu medo sobre essa casa. A Casa. Vivi minha infância toda crendo que aquela casa era assombrada por demônios. E quanto aos meu vizinhos? Só pioraram a situação! Todas as vezes em que eu tentava contar o que aconteceu para algum adulto, ele sempre diziam que isso acontecia com frequência. Que ocorreu um homicídio lá dentro. Que foi realizado um culto satânico naquele terreno. Que a casa é assombrada. Resumindo tudo, tive uma infância perturbada. Sempre fui alguém sociável em meu bairro, fiz muitas amizades, mas todas as vezes em que me chamavam para brincar perto da Casa, sempre recusei. E sempre recusarei.

Hoje, não posso dizer que "perdi o medo". É difícil ser um adolescente cujo o único medo é uma casa. Na verdade, não é difícil. É vergonhoso

Mas um dia, isso tudo mudou. A casa deixou de ser A Casa.

Uma simples manhã qualquer de sexta-feira. Onze da manhã. Estou deitado no sofá, onde passei a noite jogando video-game com Thomas, que passou a noite aqui em casa. Thomas está deitado do outro lado do sofá, que faz uma curva na parede, formando um L. Deitados, olhando para o teto, com os olhos inchados e cheios de remela, pois acabamos de acordar. Felizmente hoje não tem aula. Feriado. Aniversário da cidade. E obviamente, não ter aula = dormir até tarde. A tv está ligada, sintonizada no noticiário matinal local.

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