Capítulo 13

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Aceito. Aceito. Aceito... a palavra ecoa pelo meu corpo, música para meus ouvidos, carnaval para meus pensamentos. E essa é a primeira vez que amo alguém de verdade. 

Savannah me puxa e me abraça, sua pele fria exala sua temperatura por meu corpo, um abraço que mesmo sendo frio, é quente. Um calor que não e'qualquer um que pode ter o prazer de sentir.

— Um sensação que não senti em toda minha vida morando em oito países diferentes... — Ela diz 

— Que sensação?

— Amor. A sensação de amar alguém... de verdade.

Nos afastamos e apoiamos nossas testas umas nas outras.

— Te amo Savannah.

— Te amo Heleno.

Num último beijo, o celular de Savannah começa a vibrar.

— Que droga! — Ela resmunga — Só um minuto...

Sua expressão não é muito animadora quando ela lê a mensagem que alguém a acaba de enviar. Balançando a cabeça, ela digita uma resposta para este alguém.

— Ótimo, tenho que ir embora.

— Mas por quê? Tão cedo?

— É, eu pedi ao Erik para distrair meus pais sobre minha ausência. Acho que ele foi com a sua cara. Ele não deixaria um qualquer namorar sua "irmãzinha".

— Bom saber. O quê ele te enviou?

—"Eles começaram a suspeitar sua ausência, eu disse que você está dormindo, então é melhor você voltar antes que um deles vá checar".

— Pena, mas é melhor você ir antes que eles descubram. Te vejo amanhã.

— Assim espero; te vejo amanhã.

Limpando a boca com um guardanapo, Savannah abre a porta com uma certa ira. Deve estar brava pois o encontro foi interrompido... na verdade, quem não estaria? Observo ela indo embora pela janela da sala de estar, chegando em sua casa e seu irmão a esperando do lado de fora. Pensei que ele não morasse lá... pelo menos Savannah disse isso.

É hora de voltar a realidade e arrumar a casa, minha mãe chega amanhã e ela não vai querer encontrar um ambiente de encontro romântico bem no meio da sala. Arrastar a mesa de vidro de volta para a cozinha, jogar as velas roxas de Lavanda fora e reposicionar as poltronas de  volta em seu lugar. Uma noite que deveria ficar para história, 16 de setembro, o dia em que Heleno Rodrigues, o garoto dos cabelos extremamente loiros, teve seu primeiro encontro. Mesmo não dando certo, consegui pedir Savannah em namoro, porém foi difícil e fácil ao mesmo tempo. Tive que me segurar para a ansiedade não me dominar e acabar vomitando aquele macarrão passo e não deixar uma lágrima correr pelo meu rosto, assim como ela.

Foi provavelmente o dia mais importante de minha vida, depois do dia em que dialoguei com Savannah pela primeira vez debaixo da arquibancada. Ela estava tão linda nesse dia... bom, todos os dias Savannah está linda, é algo que eu nem ninguém pode negar.

Ajeitando a sala, ouço o telefone tocando. Só pode ser minha mãe dizendo que esqueceu alguma coisa.

— Alô?

— Que tipo de encontro desanimado foi esse?

— Encontro? Quem é que está falando?

— É o Thomas, seu retardado!

Thomas? Como diabos ele iria ficar sabendo? Eu não comentei nada disso com ninguém a não ser Savannah. Savannah! Não... não pode ser, isso não é possível, sou a única pessoa na escola toda que conversa com ela.

— Como foi que você ficou sabendo? E onde você está?

— Agora é o Igor quem fala — Vozes ao fundo começam a discutir.

— Me devolve esse celular agora — Alguém grita ao fundo.

A ligação cai e ouço um barulho na cozinha. Não pode ser o que estou imaginando. Por favor, não! 

A luz da cozinha se acende, quando me dou conta, já estou no meio do corredor vendo Igor, Adilson e Thomas caídos no meio da cozinha tentando colocar a bateria de volta no celular que acabaram de derrubar no chão.

— Me deem um bom motivo para não socar acara dos três.

— Foi ideia do Thomas - Igor e Adilson apontam para ele.

— Ótimo — Resmunga Thomas — É ótimo ter amigos tão confiáveis!

A maior vontade que senti nesse momento é de dizer para Thomas que a única pessoa que não tem o direito de dizer algo para incriminar os outros é ele. Acabou de invadir minha casa e ainda fica bravo pois o deduraram? Não sei como consigo ser seu amigo. Existe gosto para tudo, não?

—  Eu estava vindo te convidar para ir até minha casa, quando do outro lado da rua, vi Savannah entrar aqui, e você atender a porta; as luzes estavam apagadas, então decidi ligar para esses dois fofoqueiros para entrar junto a mim pelos fundos  e descobrir o que estava acontecendo.

— Quanto vocês assistiram? — Grito nervoso.

— Quase tudo... desde o macarrão até o abraço — Responde Adilson, com um tom de inocência.

— Adilson, você fala demais às vezes! — Grita Thomas.

— Só não bato nos três agora porque estão em maior número, porque não sou nenhum tipo de Anderson Silva e principalmente porque são meus amigos.

— Vamos sair logo daqui — Diz Igor — Antes que o Heleno tenha uma ataque de pelanca.

Adilson e Igor se levantam, pegam o celular e abrem a porta dos fundos. Não ouso me despedir deles, isso foi invasão de privacidade — Mesmo cometendo isso uma vez com Savannah — E isso é errado. Cerro meus dentes e espero o que Thomas tem a dizer em sua legítima defesa.

— Boa sorte com a Senhorita Von Morgante, vai precisar, e muita.

— Ha ha, muito engraçado, agora saia daqui antes que eu chame a polícia.

— Que ira é essa? Só quis assistir de camarote o primeiro encontro do meu melhor amigo.

-—Como eu não os vi quando trouxe a mesa de volta pra cá?

Como se não ligasse, Thomas estende o braço e aponta para o meu quarto. Não nem pensar no tipo de coisas que podem ter feito lá, pode ir de membros genitais desenhados na parede até uma aldeia de hippies morando debaixo da minha cama. 

— O meu quarto!?

Corro imediatamente para lá, temendo o pior que eles possam ter feito com o único lugar onde posso ter paz em minha vida. A luz se espalha pelo ambiente e o quarto está do mesmo jeito que deixei antes de ir jantar com Savannah na sala. A única coisa diferente é um tripé com uma câmera ainda gravando, mirada para a sala.

— E o quê significa isso?

— Adilson trouxe para filmar.

O vídeo gravado nos exibe comento e logo após eu me ajoelhando de frente para Savannah e por fim o nosso abraço.

— Vocês vão apagar isso ou eu quebro a câmera, o tripé e seu nariz.

— Tá legal, nervosinho, amanhã eu venho buscar o equipamento dele.

— E é melhor você nunca mais invadir minha casa.

— Não irei. Da próxima vez irei gravar pelo vitro da sala.

— Não se atreveria.

— Isso é um desafio?

— Cale a boca e saia daqui.

— Mas...

— Saia!





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