Capítulo 5

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Savannah e eu corremos pela campina. Entramos em uma plantação de Girassóis, Savannah finge fugir de mim. Damos nossas mãos e nos encaramos e apreciamos uns aos outros apaixonadamente. Os dentes caninos de Savannah começam a crescer e sangue começa a escorrer de sua boca.

Levanto-me rapidamente da cama. Foi um pesadelo Heleno. Apenas UM pesadelo.

Comemos um café da manhã feito pelas delicadas mãos de Savannah. A melhor omelete que já comi em toda minha vida. Savannah e eu continuamos sentados à mesa, enquanto minha mãe lava a louça.

 E então Savannah... dormiu bem?

 Sim. O sofá é muito confortável. Acho que posso comprar um carro com a quantidade de moedas que saiu de dentro dele.

 Quando seus pais retornam?

 Por volta das 14:00...

 E o que vamos fazer até lá?

 Bom, minha mãe me disse para cuidar de suas flores enquanto ela estiver fora... você pode me ajudar.

 Já que insiste.

Nos trocamos e saímos a caminho da casa de Savannah.

 Vocês vão sair do país novamente?

 Depende... à viagem ou definitivamente?

 Definitivamente.

 Talvez... meu pai vive viajando à trabalho, e as vezes por um longo prazo... então temos que nos mudar.

 E seu irmão? Digo... por que ele saiu de casa tão cedo? São próximos?

 Não  Ela suspira  Ele saiu de casa aos 20, quando começou a namorar a Simone. Ele conseguiu uma grande proposta de emprego aqui, e claro, ele não recusaria trabalhar pouco e receber muito.

 Pra quem nasceu em outro país, e rodou o mundo, você não tem um sotaque.

 Desde pequena fui obrigada a aprender muitos idiomas. Esse é o preço de não se ter nada para fazer o dia todo.

 Já morou em muitos países?

 Nem tantos... 8 no total. Depois que nasci, meus pais voltaram para a Suíça, onde meu pai nasceu. Desde então, começamos a rodar o mundo. Dinamarca, Hungria e Coreia do Sul em apenas dois anos. Então dos 3 aos 12 anos na Holanda e aos 13 nos Emirados Árabes Unidos. Depois disso meus pais planejavam viver permanentemente em Los Angeles, mas novamente por conta de negócios, meus pais tiveram que se mudar, e então estou aqui, aos 17, ansiosa para me formar, e parar de depender de meus pais para sobreviver.

O único detalhe sobre ajudar Savannah a regar as flores de sua mãe é o seguinte: As flores ficam no jardim. E o jardim fica na Casa do Lago. Lugar cujo prometi a mim mesmo nunca atravessar os portões. Lugar cujo sempre tive medo durante toda minha infância. Mas tenho que por em mente de que não sou mais uma criança. De que A Casa não é mais A Casa. De que tudo o que de "ruim" que existia aqui, foi "apagado" depois que os Von Morgante se mudaram para cá. Que hoje tenho 17 anos, e não 4. Que provavelmente tudo aquilo que aconteceu no passado era invenção da minha cabeça. Era minha imaginação. Não notei que fiquei parado em frente ao portão, enquanto Savannah me espera para entrar. Perplexo, observando a imensidão dessa enorme e velha casa de madeira legítima.

— Está esperando o que para entrar de uma vez?

— Eu não...

 Savannah! — Alguém grita do lado de dentro da Casa.

Procuramos rapidamente pela voz, e notamos que vinha da porta da frente. São os pais de Savannah.

 Savannah, onde esteve!  Grita Helene, correndo para abraça-la.

 Deveria ter nos avisado que iria passara noite fora. Além do mais, onde passou a noite?  Diz Nicolai.

 E-Eu fui assistir um filme na casa do Heleno  Ela diz  Eu não gosto de ficar sozinha à noite, então passei a noite lá, nada mais!

A única coisa que posso fazer é assistir. Pois mesmo calado, estou errado, até mesmo porque se minha filha passasse a noite fora sem me avisar, eu reagiria da mesma forma. Savannah errou em não os informar.

 E quem é você, garoto?  Pergunta Nicolai.

 Heleno... Heleno Delanté.

Nicolai estende o braço para me cumprimentar; É claro que não irei o deixar no vácuo, sabe-se lá o que ele faria comigo, seria muito grosseiro entrar na propriedade dos outros e nem ao menos cumprimentar o dono.

 Prazer em te conhecer, Senhor Von Morgante.

 Pode me chamar apenas de Nicolai. De onde conhece minha filha? 

  Da escola, eu.. sou um amigo. Só amigo...  Digo com um pouco de medo. Afinal, ele deve achar que sou namorado de Savannah.

 Heleno e eu viemos cuidar das Bromélias e das Hortências  Savannah nos interrompe.

 Ótimo  Diz Helene, tentando acabar com a discussão de uma forma simpática  Podem ir. Mas Heleno, depois disso, você vai precisar ir embora, pois teremos uma conversa séria com Savannah — Ela põe a mão no ombro dela.

Savannah e eu seguimos para o jardim, pelo caminho que fica ao lado da Casa. Não me sinto nem um pouco confortável em atravessar aquele portão. Nem em caminhar pelo jardim que temi minha vida toda. O jardim que era coberto por plantas mortas e pequena pragas, que hoje é forrado de arbustos e flores das mais variadas cores.    

Quando chegamos ao jardim, Savannah me entrega um regador cheio d'água; Regamos, podamos e entre outras coisas relacionadas à jardinagem, terminamos a tarefa.

 Bom Heleno, é melhor você ir. Tenho que me preparar para um tsunami de lições de moral. Até mais.

 Já que é fã de Jogos Vorazes, que a sorte esteja sempre a seu favor. Pois você vai precisar... e muito.

 Me desculpe pela atitude de meu pai, eu não achei que eles fossem voltar mais cedo. Obviamente o voo foi cancelado.

 Tudo bem, eu sempre tive medo de entrar nesse terreno mesmo...

 Como assim medo?

 Eu era apenas uma criança. Sempre achei que era uma casa mal assombrada, nunca ninguém se mudou pra cá além de vocês em todos os anos em que vivo nesse bairro. Tive uma infância muito perturbada por conta dessa casa.

 Tenho o leve pressentimento de que você está tentando me assustar. Agora vá embora logo, antes que meu pai surte.

Após ir embora, de longe, à alguns metros de minha casa, e cerca de 30 metros da de Savannah, me viro para trás. Vejo os três discutindo. Não entendo o que dizem, estou muito longe, mas da pra notar que estão gritando. Savannah entra correndo para dentro, e bate a porta da entrada.

Parabéns Heleno, você arruinou a vida de Savannah. E mais uma vez o dia não foi salvo por Heleno Delanté.



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