Capítulo 8

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Chego em casa de madrugada e, por sorte, minha mãe ainda está dormindo. Olho pela janela da sala e posso avistar a Casa. Savannah está na janela de seu quarto acenando para cá. Entro em meu quarto em silêncio e me jogo na cama. Esse foi um dos dias mais estranhos de toda a minha vida. Acabo dormindo com a mesma roupa, acordo por volta das três da manhã, é melhor vestir um pijama ou minha mãe vai suspeitar de alguma coisa.

Savannah corre para dentro de sua casa, e eu a sigo. É um dia ensolarado, corro atrás dela pelos corredores de sua casa. Nossos longos passos fazem um barulho muito alto no piso de madeira. Acabamos entrando no misterioso alçapão. Savannah dá as mãos para mim. Uma fraca luz se ascende e quatro mulheres totalmente cobertas por um véu branco surgem. É possível ver parte de seus rostos: Olhos e nariz; nada mais.

— Obrigado pela oferenda, Heleno — Diz Savannah.

Um circulo vermelho começa a brilhar em minha volta e afunda. Sangue começa a escorrer das paredes e do chão, as afeições faciais de Savannah e das mulheres estão muito diferentes, é como se elas estivessem sentindo prazer em me ver afundar neste circulo. Savannah olha em meus olhos e pisca.

— Obrigado novamente — Ela diz.

Levanto-me nervoso da cama, outro pesadelo com Savannah. Olho para o lado e vejo meu despertador ao lado da cama: Já é meio-dia! Dormi demais... acho que invadir a casa de Savannah foi realmente uma má ideia, talvez eu realmente esteja paranoico. A porta do meu quarto é aberta e a intensa luz do Sol do meio-dia invade meu quarto. É minha mãe.

— Pelo jeito você voltou do coma — Ela ri — Sabe que horas são?

— Sei.

— Então levante logo antes que eu pegue um balde d'água e te dê banho aí mesmo.

Ela sai do quarto e deixa a porta aberta, para a luz me impedir de voltar a dormir. Me levanto e vou direto paro o banheiro. Me olhando no espelho, me sinto acabado. Enormes olheiras em meus olhos e meu cabelo está pior do que um dia comum do cotidiano. Se eu sair em público assim, vão perguntar se passei por um furacão. Abro a torneira e jogo água em meu rosto. Reergo a cabeça para me ver no espelho quando vejo Nicolai no reflexo, bem atrás de mim. Em um movimento único, me viro para trás, temendo o pior. Não há ninguém. Mas o quê foi isso? Então quer dizer que além de pesadelos, vou ter visões com os Von Morgante? Ouço meu celular tocar em meu quarto; destranco a porta do banheiro e corro para atender.

— Alô?

— Heleno?

— Quem é?

— É a Savannah.

— O quê você quer?

— Se lembra de ontem?

— Sim. Por que não me lembraria?

— Não se lembre.

Savannah desliga em minha cara. O que ela está pensando? Num dia me beija e no outro pede para esquecer tudo? Quero satisfações, não sou nenhum tipo de marionete. Me troco com muita pressa, e saio de casa para encontrar Savannah.

— Onde vai Heleno? — Minha mãe pergunta da cozinha.

— Resolver uns problemas, mãe — Respondo abrindo a porta.

Caminho pela calçada, cada passo é como se fosse um terremoto, tão pesados como se fossem abrir uma cratera no chão. Ao chegar no muro, grito Savannah. Imediatamente sua mãe sai para fora me atender.

— O que desejas? — Ela diz.

— Preciso falar com Savannah.

— Mas...

— Agora. É urgente.

— Vou ver se ela está disposta.

Helene abre a porta e no mesmo instante, Savannah desce as escadas da entrada e segue até o muro. Helene já entrou quando ela apoiou seus cotovelos no muro à espera do que eu tenho a dizer.

— O quê você quer?

— Só me explique uma coisa: Como assim "Não se lembre"?

— Olha... foi por impulso.

— Você me beija, me pede para esquecer e ainda diz que foi por impulso?

— Meus pais não iriam aceitar.

— Aceitar o quê?

— Você sabe... Só quero atingir o menor número de pessoas possível.

E nesse momento me veio em mente um dos trechos de um livro de John Green.

— Como assim o menor número de pessoas possível?

— Você sabe, eu vou me mudar em breve, e não gosto de me despedir.

— Não me importo. Quer saber?

Puxo Savannah e a beijo com volúpia. Ela finge tentar me empurrar, mas sei que ela não vai fazer isso. Apenas sei.

— Então é isso o quê você quer? Vir até minha própria casa, me beijar e tudo fica por isso mesmo?

— Só quis retribuir.

— Ah claro, isso é super normal.

— O quê você sabe sobre ser normal?

— Muito mais que você!

— Claro, disse a garota que assiste filmes de exorcismo num volume tão alto que até um surdo pode ouvir.

— Eu só não quero magoar ninguém! — Uma lágrima escorre pelo seu rosto.

— Olha, me desculpe por qualquer coisa ruim que te fiz — Enxugo sua lágrima com meu polegar — Eu só não quero mais segredos.

— Heleno...

— Chega. Nos vemos amanhã. Não tenho energia nem estabilidade psicológica no momento para conversar.

Dou as costas à Savannah e volta para casa. Não ouvi Savannah se despedir até porque eu também não me despedi. Apenas ouço seus pés nas escadas da entrada e a porta principal batendo com força naquela velha estrutura de madeira.

Enquanto ando pela caçada, o Sol desaparece e nuvens negras surgem. Só posso estar em um clipe de música triste. Passo a passo vou chegando até minha casa, sinto pequenas gostas d'água em minha pele. está garoando.

A garoa se intensifica cada vez mais, estou a 5 metros de minha casa. As pequenas gotas aumentam seu tamanho e frequência, já posso ouvir os trovões, há uma tempestade à caminho. Parece uma cena de filme melodramática, após uma briga, tudo fica cinza, tudo fica morto. Sou o único louco a andar por aí nessa chuva, até mesmo sendo domingo, sinto falta das crianças brincando na rua.

Chegando em casa, logo ao entrar, minha mãe começa a gritar.

— Heleno! Pnde foi? Num parque quático? Está encharcado! Quer pegar uma pneumonia?

— Eu fui na cada da Savannah... e então começou a chover bem no meio do caminho enquanto eu voltava.

Esse é meu único comentário a fazer. O quê está acontecendo comigo? Amor?

Vou direto para meu quarto, escuto minha mãe gritas, mas não dou ouvidos. Me jogo em minha cama, pego meu notebook, abro o Google e pesquiso: "Sintomas da paixão". O que é que estou pensando... coloco uma das mãos em minha testa e coloca novamente o notebook ao lado da cama. Vou passar o resto do dia aqui., com a janela e a porta fechada, bloqueando totalmente a luz do dia e refletindo minha situação. Estou apaixonado?


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