Capítulo 33

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Depois de uma longa viajem de carro ao aeroporto — Sem ninguém dizer uma sequer palavra — No avião, finalmente posso me comunicar com Savannah.

Nos sentamos juntos e, com sorte, longe de Helene, Simone e principalmente Erik.

— O voo é muito longo? — Pergunto, tentando puxar assunto enquanto coloco o sinto de segurança. 

— Talvez... depende se você gosta de ficar quase 10 horas seguidas preso num avião. Não se cruza o atlântico tão rápido o quanto parece. — Ela responde, de uma maneira sutilmente grosseira.

Está evidente que Savannah está evitando se comunicar comigo. Mas não só ela, como o restante de sua família... é como se eles estivessem de luto por alguém.

Até mesmo Erik e Simone, que de manhã estavam eufóricos, agora estão ambos calados, dizendo apenas o mínimo do necessário.

— Eu não deveria me sentir diferente? — Pergunto.

— Não sei se existe algum sintoma, eu já nasci assim, então... ao menos, eu sei que, pelos relatos de Simone, você deveria se sentir mais "saudável". Não sei o que ela quis dizer com isso.

Posso jurar que não sinto diferença alguma em meu corpo.

— E o que é se sentir mais saudável?

— Já disse que não sei! — Ela se estressa. — Você deveria perguntar estas coisas à Simone, não à mim.

— Por que estão tão calados? Isso não deveria ser normal. Pelo que eu saiba, vocês discutem lá dentro por um bom tempo.

— Exatamente, nós discutimos durante a reunião. É meio que uma tradição. Nos mantemos calado em luto pelas pessoas que tiveram sua morte decidida à dedo por nós.

— Ainda não entendi como vocês fazem para tudo o que querem que aconteça realmente aconteça... é logicamente impossível!

— Só acontece. Não dá pra questionar. Depois da reunião, cada decisão é escrita em um grande livro de mais de 3 mil anos. Cada página representa um ano... e cada detalhe de cada frase irá acontecer justamente como foi escrito. Simplesmente acontece. Alguns membros dizem que aquele livro é o centro do universo; patético.

— Isso é demais para mim. — Savannah me encara, querendo compreender o que quero dizer. — Primeiro, tenho a melhor noite da minha vida, e em seguida, o pior. Bom, provavelmente o pior até agora. Com certeza outros irão vir.

Só de pensar que... até o fim do dia vou estar decidindo as pessoas que irão morrer ou viver no próximo ano... penso se tudo isso vai valer a pena.

Se ter conversado com Savannah debaixo daquela arquibancada na escola valeu a pena... até mesmo se "estragar" minha vida namorando, ficando ao seu lado valeu a pena.

Mas logo me lembro que vale. Tudo o que fiz realmente valeu a pena. Cada segundo que passei ao lado dela até então é como se fosse o último. E gosto dessa sensação.

Por uma pequena fração de segundos, me recordo sobre o dia em que Savannah chegou... a reforma na Casa, os gritos, o apagão... o apagão!

— É... Savannah? — O avião começa a passar por uma turbulência. — Preciso que me explique algo...

— O que é agora? — Ela bufa.

— Se lembra de quando você e sua família chegaram a cidade? Dos gritos... daquele apagão medonho...

— Como eu iria esquecer? Você ficava me lembrando daquilo a cada cinco minutos!

— Então... é que você não me explicou aquilo direito. — Sussurro em seu ouvido, tentando ao máximo não estressá-la.

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