Capítulo 15

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Enquanto os quatro estão no pátio exterior, posso ouvir gritos. Os gritos de Thomas, que como uma garota grita "Por favor, Savannah!". Não me admira que ele esteja gritando assim, até eu correria e gritaria se Savannah viesse atrás de mim para me bater. Coloco minha mochila e a de Savannah sobre um dos bancos de concreto, e quase gargalhando, vou ver se Savannah não matou um deles

— Agora você vai ir lá e pedir desculpas para ele! - Savannah grita, puxando Thomas pela orelha em minha direção —

— Me desculpa Heleno! — Thomas implora, torcendo para que Savannah solte sua então avermelhada orelha.

— Claro que te desculpo, Thomas... se disser que sou mais atraente que você?

— O quê? — Ela olha para Savannah — Savannah, pode arrancar minha orelha se quiser, mas nunca que eu diria isso para ele!

— Já que insiste... — Savannah finge puxar a orelha de Thomas.

— Heleno, você é dez mil vezes mais atraente que eu... era isso o que queria?

— Pode soltar ele Savannah.

Levantando-se do chão, Thomas limpa a calça que está cheia de poeira... Savannah o arrastou por quase todo o pátio, puxando-o apenas pela orelha... não imagino o que ela tenha feito com a Andreia...

— Gostava mais quando era solteiro — Thomas resmunga — É ótimo saber que seu melhor amigo desencalhou mas, isso é loucura!

Depois dessa "lavagem de roupa suja", eu, meus amigos e Savannah subimos para a sala de aula. Outra manhã entediante na escola se vai, e algo diferente acontece na saída. Logo saindo do portão, vejo do outro lado da rua, Thomas gritando da janela de traz do carro de seu pai para mim pegar novamente uma carona com eles. Não vejo porque não. Um altíssimo barulho de um carro acelerando surge a centenas de metros da escola... o carro do irmão de Savannah... pensei que teria a sorte de nunca mais ver ele na vida, mas meu mais novo cunhado parece ter ido com a minha cara. Ele estaciona o carro na frente da escola e sai do carro. Praticamente todos os alunos começam a olhar para ele, principalmente as garotas. Juro que vi uma gota se saliva pingar da boca de Camila. Savannah abre a porta do carro e parece se lembra de algo; ela se vira para mim e grita:

— Está esperando o quê?

Tenho a leve impressão de que ela está me convidando para entrar no carro de seu irmão. Mas é claro que não! Nem eu mesmo deixaria minha irmã mais nova levar um garoto para meu carro! Eu mesmo me dou ao respeito de recusar, mas ela insiste... o que posso fazer? Negação não é a opção. Respirando fundo, aparentemente impaciente, Erik diz:

— Será que dá pra você entrar logo no carro?

A gota d'água. Se ele mesmo pediu - ou mandou - Eu vou atender. Fico feliz por não ter entrado no carro antes, assim faria papel de interesseiro... afinal não é todo dia que um garoto de 16 anos tem a oportunidade de entrar em uma BMW. Sigo até os dois e sento no banco traseiro junto de Savannah. Ele reentra no carro e dá a partida. Sinceramente, não vejo necessidade de arrancar à 80 km/h na frente de uma escola. Não sei como Savannah ainda não teve um infarto... ou melhor, não sei como ele ainda não perdeu a carteira de habilitação ou ainda não sofreu um acidente — Não que eu queira que ele sofra um — Ele não deveria dirigir assim por aí... na verdade, em lugar nenhum.

O alto barulho das rodas é o único som que resta... assim como no carro do pai do Thomas.

— E então... Heleno... é esse seu nome não é? — Ele ri — Qual é a sensação de namorar minha irmãzinha?

— É...

— Ela já te deu um? — Ele ergue a mão direita, exibindo o mesmo anel que estou usando - Em breve, essa belezinha vai trocar de mão. Você sabe que está convidado para o casamento, não é?

— Ah é... — Savannah murmura — Esqueci de te dar o convite... o casamento deles vai ser esse final de semana...

— O quê? E com que roupa você acha que eu vou?

— Não tem problema — Erik sorri — Minha mãe tem guardados inúmeros ternos e quando eu tinha sua idade... nunca usei nenhum, posso te emprestar um.

— O terno branco não... — Savannah implora — Empreste a ele qualquer terno, mas o branco não!

— Você tem um terno branco? — Dico com uma voz empolgada — São os mais bonitos ternos que existem!

— Ah não... — Savannah diz — Agora nós vamos nos passar por idiotas no casamento.

— Como assim "passar vergonha"?

Ela põe a mão na testa e encosta a cabeça no vidro. Penso num motivo para que Savannah se incomode com esse terno branco... se ele nunca o usou, ela provavelmente não tem nenhum tipo de trauma com ele... a não ser que...

— Por acaso você vai com um vestido branco?

— Exatamente.

— Qual é o problema? Isso seria legal!

— Viu só, Savannah — Concorda Erik — Ao menos alguém aqui concorda comigo. Sempre quis usar ESSE terno quando tinha sua idade, mas nunca tive motivos.

— Na verdade teve sim — Savannah a mão esquerda no ombro de Erik — Quando a dia Odete morreu... mas você não seria burro o suficiente para ir ao velório com um terno branco.

Erik para o carro. Mal notei que já estávamos na frente de minha casa. Chegamos rápido — Como não chegaríamos? estávamos a mais de 100 km/h! Abro a porta, e dou de cara com minha mãe de braços cruzados me esperando na porta da frente.

— "E que a sorte esteja sempre à seu favor" — Savannah diz.

— Boa sorte, Heleno... vai precisar — Diz Erik.

Isso não é bom. Simplesmente não pode ser bom. Estou imaginando como ela se sente em ver seu único filho voltando da escola num carro de um estranho. Bom, agora só preciso contar que ele não é um estranho e sim meu cunhado. E que Savannah é sua... nora.  







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