Capítulo 11

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...Dali, Savannah e eu seguimos andando.

— Não vai mesmo me contar o que irá fazer hoje à noite?

— Já te disse, verá quando chegar lá.

— Odeio suspense.

— É o que passo todos os dias.

— Olha, eu já te disse, não há nada de errado acontecendo em minha casa.

— Nunca se sabe...

Continuamos o trajeto até minha casa.

— Você não quer entrar? Digo, o almoço talvez esteja pronto.

— Não, eu... preciso arrumar meu quarto, ele... está uma bagunça.

— Uma bagunça? Ele estava perfeitamente arrumado quando eu o "visitei"

Savannah continua a caminhada. Eu não acreditei no que disse. Como ela pode, de um dia para o outro, bagunçar um quarto tão arrumado com aquele? Mesmo sendo amigo Savannah, ela continua a esconder algo de mim, posso sentir isso.

Penso que tipo de coisa acontece lá dentro... uma seita secreta? Não... ninguém os visita, isso é descartável. Rituais? Sacrifícios? Possessões? Todos os vizinhos tem um gigante preconceito contra os Von Morgante, nem quando se mudaram pra cá, foram bem recebidos, mas fizeram por merecer. Gostaria de saber mais sobre essa casa... parece ser de uns dois séculos atrás... mas seria difícil encontrar algum vestígio com a casa tão adulterada.

O celular toca, outro número desconhecido.

— Alô?

—Heleno? É a Savannah.

— Eu deveria ter adicionado esse número aos meus contatos, não costumo receber muitas ligações.

— Eu acabei de chegar, e... o almoço não está pronto ainda, preciso me distrair pra poder esquecer a fome.

— Quer esquecer da fome conversando comigo?

— O que mais eu iria fazer?

— Que tal...

— Não.

— Não o quê?

— Não quero fazer outra coisa.

— Está bem... sobre o que você quer conversar?

— A vida? Você não tem cara de quem curte conversas profundas, pensativas e filosóficas.

— Ei, eu sei conversar!

— Claro, e tem só quatro amigos que só conversam sobre League of Legends.

— E daí? Não quero ser o senhor popularidade.

— Não quis dizer isso.

—Então o que queria dizer com isso?

— Quis dizer que isso é bom.

— Bom? Acha legal ter apenas quatro amigos numa escola com quase 1500 alunos?

— Ao menos não é o senhor popularidade, como disse. Nem se quer tenta ser, e isso é bom.

— Você realmente acha isso bom? Sou basicamente invisível naquela escola.

— Não mais.

— Como assim não mais?

— Viu o modo e a quantidade de pessoas nos encarando quando estávamos andando juntos?

— Aquilo não um tipo de atenção boa, era como se tivessem nojo de nós dois.

— Nojo? Acho errado desprezo que sentem por mim.

— Por você?

— É, semana passada me encontrei com a Camila no banheiro. Ela ficou me chamando de estranha, eu bateria nela, mas a inspetora me avisou pra não brigar com mais ninguém ou seria expulsa.

— Por que não me contou isso?

— Não havia necessidade.

— Não havia necessidade? Você sofreu bullying e ainda acha que não há necessidade de contar isso pra alguém.

— Claro que não, sou superior a Camila... ela é a miss popular, ou ao menos tenta ser.

De costas, me jogo no sofá da sala, passar tanto tempo de pé falando ao celular é cansativo.

— Superior? Ela pode acabar com sua reputação num piscar de olhos!

— Que reputação? A de estranha? Durona? Não dou a mínima aos rótulos que dão aos alunos, isso não afeta ninguém, pelo menos eu não. Ela acha que é a dona da escola, ela mal sabe que tudo o que ela tem na escola não terá nada de útil na vida.

— Ela sempre foi assim, no jardim de infância, ela apagava as lições de cadernos alheios dizendo que as respostas estavam "erradas". Ela sempre foi a queridinha das professoras, teve sempre os melhores materiais escolares, pois seu pai era dono da maior papelaria da cidade, antes dele ir à falência.

— Ele faliu?

— Sim. Hoje eles dependem do emprego de sua mãe, uma advogada bem sucedida. Não entendo, se são ou eram tão ricos, por que ela estuda em uma escola pública? Pergunto o mesmo para você também.

— Meus pais são humildes, e acho que os dela também são. Só estudei em uma escola particular uma vez na vida; no jardim de infância. Foi na Hungria. As escolas públicas de lá são um horror, na verdade, quase toda a Europa oriental é um horror. Tive que ir pra uma escola integral, passava quase o dia todo lá pra não aprender nada no fim do dia.

— As escolas particulares do Brasil são muito esnobes — Admito, nem todas — Você não gostaria de estudar em uma escola particular, mesmo tendo um ensino avançado, é mais divertido e saudável estudar numa escola pública.

— Sabe Heleno, você até que é um bom ouvinte. O almoço já está pronto, vou comer, te vejo hoje à noite.

— Ela desliga o celular no mesmo segundo. Seus pais não lhe deram educação? Não acredito que ela desligou sem ao menos me dar um tchau.



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