Capítulo 12

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Não sei o que está acontecendo entre Savannah e eu. O clima fica estranho quando estamos juntos, eu realmente a amo? Ela realmente me ama? Nós realmente nos amamos? É difícil acreditar em cada palavra que ela diz, sinto como se estivesse conversando com um robô, são sem as mesmas configurações: Todas as vezes que alguém perguntar sobre o que acontece na Casa do Lago, negar, negar e negar. Ao menos o que vou fazer para ela é especial. E muito.

Minha mãe não vai passar a noite em casa, ela viajará para a capital para um evento literário cujo ela publicará um de seus novos livros. Sua ausência nos dará um pouco mais de privacidade, não que nós iremos precisar. Procuro em inúmeras gavetas da cozinha por velas de ceira, melhor ainda se tiverem aromas ou forem de cores diferenciadas. Encontro uma embalagem plástica com três baixas e gordas velas roxas. No rótulo diz "Lavanda". Não faço ideia do que pode ser "Lavanda". Espero que minha mãe não precise dessas velas... e que não haja nenhuma queda de energia, pois devem ser as únicas velas que tenho em casa.

Vou cozinhar algo rápido e fácil, sem ser macarrão instantâneo. Talvez uma simples macarronada de massa pronta deve ser o suficiente, pois não sou nenhum tipo de Gordon Ramsey para cozinhar comida gourmet. Só sei que não vou precisar prestando atenção enquanto cozinho;  é só jogar o macarrão na água, esperar ferver e acrescentar o molho. 

Às 16:00 minha mãe recolhe algumas roupas em uma mala e se despede de mim do lado de fora.

— Comporte-se — Ela põe a mão e meu ombro — E nada de festas.

— Então vou ter que cancelar as dançarinas de pole-dance, o DJ e o fornecedor de ecstasy.

Ela arregala os olhos e uma veia começa a ganhar um enorme volume bem no meio de sua testa.

— É brincadeira... não acredito que acreditou, olha só pra mim, tenho cara de quem iria fazer uma festa?

— Não. E quero que continue assim. Não seria nada agradável chegar aqui e se deparar com dezenas de jovens jogados pela casa, de ressaca pela festa que você teria dado.

Ela entra no carro, da a marcha ré, e segue para a saída do bairro. Não tiro o olho do veículo até ela chegar até a esquina, só para ter certeza que ela realmente foi embora.

Finalmente sozinho, posso arrumar a casa e, por sorte, sou filho único e meus pais são divorciados, ou seja, ninguém para me atrapalhar. Meu pai não me vê muito, só durante alguns dias nas férias, passo dois ou três dias em sua nada humilde casa. Ter pais divorciados pode até ser bom e, no meu caso, é ótimo. A única desvantagem é que meu pai tem uma nova esposa. Não gosto nem um pouco dela, se chama Amara, uma socialite famosa. Isso tornou meu pai dependente do dinheiro dela. Ela nunca gostou de mim e eu com certeza não gosto dela. É ridículo o que ela faz, usa meu pai como se fosse um mascote de estimação. Ele é professor em uma escola particular, ou seja, convive com adolescentes mimados, ricos e metidos. De pensar que Savannah poderia acabar estudando na escola onde ele da aula... humilhante. Arrasto a mesa de vidro da cozinha para a sala e a posiciono logo no meio do tapete, no centro da sala de estar. Pego duas poltronas vermelhas da sala e as posiciono para nos sentarmos. Encontrei um pano de mesa em uma das gavetas da cozinha, deve dar um tom mais chique, eu acho. Não sei decorar ambientes, muito menos com o objetivo de tornar-lo romântico. Faço uma faxina na sala à partir daí. 

Às 19:00 tomo banho e visto uma camiseta preta que tem o desenho de uma gravata. É a única maneira que tenho de improvisar, eu usaria um smoking — Se tivesse dinheiro para comprar um —.

Ascendo as velas no centro da mesa de vidro e vou dar atenção ao macarrão. Acho que uma hora na água fervente desse ser o suficiente para amolecer a massa... espero que sim. Coo o macarrão e esquento o molho numa panela separada. Coloco ambos em vasilhas diferentes e levo para a sala. Coloco ambos no centro da mesa também. Olho no histórico de ligações de meu celular para pegar o número de Savannah... é obviamente o mais novo, ela provavelmente ainda não trocou de celular e usa o mesmo número que usava no exterior.

— Alô? Savannah?

— Heleno? O quê foi? Por que me ligou?

— Só liguei para avisar que já está tudo pronto, você já pode vir.

— Por sorte disse aos meus pais que iria fazer um trabalho aqui, e que se não fizesse, ficaria de recuperação. Sou ótima em contar mentiras — Jura? Não me diga! 

O Sol já se pois, e teremos um jantar à luz de velas e de uma lâmpada de baixa frequência.

Ouço a campainha, ela deve ter chegado. Sigo até a porta, e ao abrir, Savannah já vai entrando, como se a casa fosse sua. Interessante, ela só veio aqui uma vez em toda sua vida, e já age como se fosse daqui. É assim que se comportam nos países norte americanos e europeus? Sua roupa não é tão, assim como a minha. Uma camiseta preta da banda Guns N' Roses, uma jeans rasgada e seu típico tênis All Star roxo.

— O que é tudo isso?

— Eu preparei para você... ops... pra nós dois.

— Sabe cozinhar?

— Mas por que pergunta? Tem medo que eu tenha envenenado algo?

— Não. Tenho medo de comer comida queimada.

— Qual é, isso é macarrão, eu jamais queimaria algo, principalmente macarrão, e se estivesse, eu nem ao menos 

— Veremos. Tenho a impressão de que vou comer algo ruim. Sem ofensas.

— Isso foi ofensivo, você querendo ou não.

Seguimos juntos para a sala, a única iluminação é a lâmpada cujo regulei a frequência de luz, e as três baixinhas e gordinhas velas roxas com cheiro de Lavanda.

— O prato é... Macarrão ao...

— Ao sugo —  Ela me apressa — Como pode me servir algo que nem ao menos sabe o nome?

— Eu só queria dizer o nome na gastronomia gourmet. 

Puxo a poltrona para Savannah se sentar — É o ato mais cavalheiro que já fiz — Nos servimos e começamos a comer.

— Está meio molenga — Ela diz

— Vamos lá, está comestível. 

— Como preparou?

— Só joguei na água e esperei ela evaporar por completo.

— Heleno, dê um tapa em seu rosto, antes que eu dê por você — Ela limpa a boca com um guardanapo — Se você quer me matar, ao menos me avise antes!

— Já chega — Balanço a cabeça — Cansei disso.

— Heleno... o que você quer dizer com isso?

Me levanto da poltrona e caminho para a frente de Savannah. Me ajoelho, pego uma de suas belas mãos com as unhas pintadas com o azul mais bonito que já vi em minha vida e beijo. 

— Savannah Charlotte Von Morgante, você aceita namorar comigo?

Sem reação, ela não sabe o que dizer, provavelmente achou que tudo aquilo que nós fizemos hoje foi apenas uma simples brincadeira infantil e boba. O aroma de Lavanda de espalha por todo o ambiente, tudo para ao nosso redor. É como se o resto do mundo estivesse em câmera lenta. Seus lábios tremem,  Savannah pisca e uma lágrima que brilha como um diamante desliza em seu rosto. Sua voz doce e inconfundível invade meu cérebro, viaja por todo o meu corpo até eu voltar a realidade.

— Aceito.



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