Capítulo Cinco

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- Não, Geo, sério. Eu estou muito cansada. Quem sabe na próxima. – falei, em uma mistura de irritada e desesperada. 

Irritada por ela continuar insistindo nesse assunto e desesperada para convencê-la a me deixar em paz. 

- Mas, Stormy! Você disse isso na última vez. E nas outras três vezes anteriores também... – franziu o cenho, suspeita brilhando em seus olhos – Por que você não gosta deles? 

Quase deixei a panela de água em minhas mãos cair no chão. Georgina era esperta demais para o meu bem próprio bem. Tinha que tomar mais cuidado com ela. 

- Não sei do que você está falando, Geo. – murmurei, tentando me esquivar da pergunta, quando tive certeza de que minha voz soaria como sempre e não tão transpareceria quão acuada eu me sentia naquele momento.

 Por sorte estava de frente para pia e de costas para ela – o que me dava a vantagem de, pelo menos, não ter que olhá-la nos olhos enquanto tentava mascarar a verdade. 

- Não insulte minha inteligência, Storm. – falou, ríspida – Faz pouco mais de um mês que estamos morando juntas, mas já te conheço bem o suficiente para dizer quando alguma coisa está errada com voc. E tem alguma coisa errada sempre que eu menciono o nome de algum dos meninos. Nem tente negar. – levantou a mão para me calar ao ver que abria a boca para protestar – Toda vez que um deles aparece aqui em casa você arruma um motivo qualquer para se trancar no quarto. Isso sem contar o fato de que faz quase um mês que estou te convidando para ir à casa deles e você sempre tem uma desculpa na ponta da língua. Isso está ficando ridículo! Porque não me conta de uma vez o motivo de você detestar a presença deles?! 

Mexi os ombros devagar, tentando diminuir a tensão neles antes de finalmente deixar as louças, sacudir as mãos molhadas e me virar para encará-la. Não queria mentir. Já tivera mentiras demais por uma vida. Não queria acrescentar mais algumas. Então respirei fundo e optei pela saída menos difícil: 

- Eu não detesto a presença deles, Geo. 

E os detesto por inteiro, completei em pensamento. 

- Para provar isso, vou aceitar o convite. Vou mudar de roupa para irmos. – dei a volta nela e saí da cozinha. 

- Ah, não! Você não vai fugir do assunto. – protestou, me seguindo. 

Fui encurralada pouco antes de chegar ao corredor quando Georgina entrou na minha frente, bloqueando o caminho. 

- Nem vem, Halstead. – cruzou os braços – Eu te dei espaço, não fiquei te pressionando, mas a situação está ficando ridícula e incontornável. Não dá para ficar fingindo que não tem nada errado. – suavizou o tom – Me conta o que aconteceu. 

Olhei para o teto, pedido por paciência. Esse assunto estava ficando chato, mas o que me irritava mesmo era o fato de que Dietze estava certa. Aquela situação em que eu tentava evitar os nossos vizinhos a qualquer custo estava ficando insustentável. Ou aquilo mudava ou eu teria que sair da minha casa, o que era justamente aquilo que havia prometera para mim mesma não deixar acontecer. 

Ok. Apesar de resignadamente, aceitava o fato de que minha primeira tática – a de ignorá-los completamente – falhou.

 Precisava de outra.

 Ignorá-los parcialmente era a alternativa e talvez essa funcionasse. Tinha, contudo, outro problema eminente. Abaixei os olhos para a expressão decidida no rosto da minha amiga e soltei o ar pesadamente. 

Minha amiga. Exatamente. Amigas não mentem. Relações duradouras não poderiam se basear em mentiras – e sabia disso por experiência própria. Não estava, todavia, pronta para falar sobre isso. Não com ela e nem com ninguém. Decidi resumir a história toda em poucas palavras. 

Meio AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora