Capítulo Doze

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Havia chegado a conclusão de que estava encarando esse namoro falso como alguém que passava por um processo de luto. Primeiro veio a negação, onde definitivamente não acreditava que tinha aceitado conscientemente me meter nessa cilada. Depois veio a negociação, onde conversei muito comigo mesma e com cada ser do universo, tentando procurar uma saída digna. Em seguida teve a depressão, por onde eu andei com passos de Vodka e onde ainda estaria, não fosse meu amigo Lord. E agora estava no último estágio: a aceitação. 

Sim, certamente aceitação, porque não existe outra explicação senão que meu conformismo havia feito metamorfose em pura, completa e tola aceitação. Era isso ou eu havia perdido o resto da sanidade, afinal, não restava muitas outras coisas que justificassem eu estar desperdiçando uma excelente tarde de sábado caçando uma droga de uma fantasia para uma festa que não queria ir.

- Por aqui, Storm - senti um puxar de leve em minha mão. 

Ah, sim! E ainda tinha a adorável companhia de meu falso namorado nessa tarefa incrível. Verdade seja dita, as coisas haviam melhorado bastante desde o dia em que assistimos àquele filme, principalmente porque me mantinha meio apática, mas não estava reclamando. Apatia era melhor do que ficar sentindo raiva o tempo inteiro. Agora eu apenas mantinha o sentimento ruim sob uma superfície de calma aparente. 

Deixei, assim, sem reclamar, que me arrastasse para a décima loja daquele shopping. Antes que alcançássemos a porta de vidro entre as duas vitrines cuidadosamente decoradas com as cores que realçavam as fantasias expostas, contudo, cinco garotas nos cercaram. Todas elas balbuciavam coisas incompreensíveis ao mesmo tempo e duas ou três mal segurando as lágrimas. Senti todo meu corpo se retesar e, provavelmente por sentir minha mão entrelaçada a sua gelar, Malik se virou para mim com o cenho franzido em preocupação. Queria falar alguma coisa ou apenas desaparecer daquele lugar, mas havia uma bola de aço travando minha garganta e parecia que a borracha de meus tênis havia se derretido e me colado no chão. Era como observar um desastre automobilístico prestes a acontecer; simplesmente não conseguia desviar olhar. Por mais terrível que fosse, havia uma atração inegável pelo desastre. Então eu estava esperando... esperando por algo que havia evitado por tanto tempo, esperando para que Malik fizes-

Olhei para baixo ao sentir um aperto reconfortante em minha mão e, logo em seguida, meu olhar subiu por seu braço coberto por uma jaqueta de couro preto até chegar a seus bonitos olhos que continham genuína preocupação. E por um segundo todo sentimento ruim desapareceu enquanto o ar ficava suspenso entre nós. Assim como foi ele quem iniciou aquele contato, foi Malik também quem o cortou. Soltando minha mão, ele se virou com um sorriso muito convincente para suas fãs.

- Olá, meninas. Como vocês estão? - o tom era de companheirismo, como se estivesse falando com um de seus amigos. - Que tal uma foto ou um autógrafo? 

Embasbacada, observei enquanto ele pacientemente abraçava cada uma delas pela cintura, trocando algumas palavras baixinho antes de posar para fotos. Cada uma teve a atenção que merecia enquanto meu pseudo-namorado fazia cada uma delas se sentir como se fossem únicas. Malik já estava terminando de se despedir da quinta garota com quem tirava uma selfie quando uma das outras garotas se aproximou de mim com uma expressão incerta. Ela tinha os cabelos muito pretos e um sorriso gentil, mas, além disso, ela não tinha qualquer culpa por meus problemas pessoais. Fugindo de me tornar injusta e hipócrita, engoli a amargura que infestava minha boca, e murmurei: 

- Olá. 

- Oi. Você é Stormy, certo? 

- Sim - estiquei a mão. - E como você se chama? 

- Carrie - respondeu o cumprimento. - Você e Zayn estão namorando? 

Desviei minha tenção para o cantor a alguns passos de mim. Ele estava apenas parado lá, encarando-me de volta e a mensagem que passava era clara. Queria que eu decidisse o próximo passo, que eu confirmasse a situação. Foi nesse exato momento que percebi que havia subestimado a inteligência dele. Malik sabia que se fosse eu quem dissesse, tudo seria mais real. Muito esperto de sua parte, ainda mais porque era completamente verdade. Assim, o mais discretamente possível, respirei fundo e me voltei outra vez para Carrie: 

Meio AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora