Capítulo Dezesseis

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Se havia alguma coisa que Jay e Will me ensinaram enquanto crescíamos foi que fugir de uma briga era provavelmente a coisa mais idiota que você poderia fazer. O problema não desaparece e, além disso, você ainda fica sendo a ridícula da história. Queria poder dizer que aprendi a lição e que encarei minha recém-descoberta fraqueza por Malik com a cabeça erguida e como uma adulta racional.

Passar a mão no cabelo e sorrir superior, ignorando tudo que não fosse manter nossa farsa no lugar. Sofisticada, bem resolvida, totalmente no controle da situação.

É... bom... não foi isso que aconteceu. Não foi nem de perto o que aconteceu.

Nos dois dias seguintes ao nosso passeio, fiz tudo o que podia para evitá-lo. Mais do que fugir de Malik, entretanto, estava correndo, como diabo da cruz, toda vez que suspeitava que Green estivesse por perto. Não que isso estivesse funcionando. A mulher parecia ter algum poder sobrenatural e conseguia surgir do nada a todo instante, pegando-me de surpresa toda vez. E em cada uma dessas ocasiões ela era incrivelmente doce, muito educada, porém podia ver o brilho esperto no canto de seus olhos.

Toda vez que encarava seus olhos de outono, recordava das palavras da cigana e isso me fazia colocar ainda mais esforço em evitar Malik. O problema é que a cada segundo que passava fugindo, sentia saudades dele. Não só de sua colônia amadeirada ou do jeito gostoso como sua barba roçava em meu pescoço. Também não sentia falta apenas de sua respiração contra minha nuca ou de passar as mãos por seu cabelo sempre tão ridiculamente perfeito. Sentia falta da maneira segura e firme como Zayn me beijava, mas, acima de tudo, sentia falta de conversar com ele. Não percebi o quanto gostava de seu jeito lento de falar, arrastado pelo sotaque de sua cidade, até que não pude mais ouvi-lo todos os dias. Quase desejava ter algum motivo para discutir com ele porque ao menos assim poderia ouvi-lo dizer meu nome como só ele pronunciava - como se tivesse mel derretendo em cada sílaba.

Porém nem mesmo um único motivo, por mais fraco que fosse, me foi fornecido. Meu pseudo-namorado foi simplesmente um cavalheiro durante todo o tempo. Além disso, a culpa não era dele, obviamente. Malik tinha tentado conversar, saber o que estava acontecendo, sempre me questionando suavemente sobre o porquê de eu ter me fechado em mim mesma e estar me recusando a sair do nosso quarto. Minha resposta, entretanto, era sempre a mesma boba enxaqueca. Podia ver que ele não estava nem um pouco convencido, porém era educado demais para me chamar de mentirosa, então se afastava e me deixava sozinha, como pedira.

Summer apareceu em meu quarto depois do segundo dia em que me isolara, oferecendo humildemente para tentar me pseudo-examinar para saber se poderia ajudar de alguma maneira. Recusei a oferta, tanto porque não estava realmente doente quanto porque estava tensa com a companhia que ela trouxera. Kristine silenciosamente me observada enquanto a namorada de seu melhor amigo me questionava sobre possíveis sintomas, e aquilo me deixava bastante nervosa. Assim como meu "namorado" podia ver a verdade por de trás de minha nova mentira, sabia que Green também conseguia. Só voltei a respirar fundo quando as duas foram embora. Os outros meninos da One Direction também apareceram mais tarde no mesmo dia para ver como eu estava. Não sabia se eles tinham aparecido na minha porta por livre e espontânea vontade ou por livre e espontânea pressão, contudo os olhares preocupados que eles me lançaram me tocaram profundamente, ao ponto de no final da tarde meus nervos se reduzirem a frangalhos.

Minha respiração já estava bastante irregular quando peguei meu celular.

- Atende, atende, atende - murmurei sozinha no quarto enorme enquanto o som da chamada ressoava em meu ouvido.

- Marchiori.

- Drake - solucei, as lágrimas, como se esperando por uma palavra mágica, imediatamente começaram a cair ao ouvir a voz de meu melhor amigo.

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