Capítulo Nove

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  - Bom... acho que isso foi um sucesso. – Geo falou animadamente ao fechar a porta de casa. 

Pisquei algumas vezes, incrédula. Não conseguia visualizar outra explicação senão que minha amiga estava perdendo a sanidade. Pensei que depois que todas aquelas pessoas finalmente – finalmente – fossem embora eu teria alguma paz naquele resto de noite, mas esse também se mostrara uma esperança boba quando as palavras dela fizeram com que o último fiozinho de controle se arrebentou e pude, enfim, ter o ataque histérico que estava segurando durante todo o jantar.

 - Sucesso? Sucesso? – fiquei em pé, minhas mãos trêmulas se agarrando em meu cabelo – Você por acaso esteve em um jantar diferente? Isso foi uma completa loucura. Primeiro, você não me avisaram que eles vinham para cá, depois o senhor Inteligência Rara ali – apontei para Malik – decidiu contar para todo mundo sem também me avisar antes. Além de toda essa falta de preparação técnica e psicológica, ainda descubro que Kristine é tipo aquele cara de Lie to Me. Você sabe, aquele para quem as pessoas nunca conseguem mentir. Então esqueça sobre sucesso e pense sobre como vencemos o impossível e não estragamos tudo hoje. Um completo desastre, é isso que esse encontro poderia ter sido. Um completo desastre. – falei tudo de uma vez e praticamente num fôlego só e, por isso, agora estava puxando o ar para dentro em lufadas profundas. 

Georgina recebeu minhas palavras com os olhos arregalados enquanto seu irmão me encarava como se eu tivesse perdido o juízo.

 - Ora, chuchuzinho, não seja tão otimista. – Malik zombou, passando a mão por seu cabelo incrível. 

Fechei a boca com tanta força que ouvi meus dentes batendo um contra o outro. Tentava me controlar, afinal ficaria maluca se permitisse que ele me afetasse tanto toda vez que dissesse alguma coisa. Meu peito subia e descia visivelmente, em busca de controle. Estava difícil essa vida onde eu não podia beber pra esquecer e onde também não podia enfiar a mão na cara daquele imbecil porque depois teríamos que nos preocupar em inventar uma história para o porquê seu rostinho bonito estava machucado. Afinal, vamos ser honestos, tia Kate me ensinou o gancho de direita dela, e ele fazia um belo estrago. 

Relaxei, então, meus punhos que tinham se fechado sem que tivesse percebido. Não posso beber, não posso bater em ninguém. Minha única opção para aliviar um pouco do estresse seria ligar para Drake, mas aquilo provavelmente terminaria comigo refreando meus ímpetos de estrangular dois homens ao invés de um só, então aquilo também estava descartado. Estava literalmente sem opções. Talvez se e- 

- Stormy, o que eu estava tentando dizer é que se conseguimos enganar nossos melhores amigos, conseguiremos enganar completos estranhos. – Geo falou devagar, provavelmente com medo de que eu explodisse de novo. 

Aquilo me fez parar por um segundo e refletir. Era mulher o suficiente para admitir que conseguia ver a lógica naquele pensamento.

 - Ok. Pensando por esse lado... – murmurei depois de um tempo. 

Obviamente meu "namorado" tinha que estragar tudo. 

- Finalmente um pouco de racionalidade. 

Engoli em seco, outra vez controlando meu temperamento. Dietze pulou rápido no meio da conversa, tentando evitar outra briga. Talvez ela devesse, contudo, também se colocar entre nós fisicamente, pois estava começando a considerar que as razões para não agredi-lo com meus punhos não eram fortes o suficiente para me impedir. 

- Quero dizer, quando vocês estavam no sofá, eu cheguei a acreditar que vocês são um casal apaixonado. 

Torci para que meu rosto não corasse ao me lembrar daquele momento. Principalmente quando cheguei a acreditar que Malik iria me beijar. Como havia ficado tonta, como desejara que ele fizesse exatamente aquilo. Olhei para o lado. De repente não queria mais fazer parte daquela conversa. Queria, ao invés, me refugiar no meu quarto e não ter que me preocupar com todas as perguntas que aquele diz levantara. Quando nenhum de nós dois respondeu, Geo tentou de novo: 

Meio AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora