Capítulo Catorze

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  A ideia de dormir em uma cama com seu pseudo-namorado parecia bem mais atraente depois de uma sessão de amasso num pub australiano e de bastante tequila em seu sangue do que na manhã seguinte. 

Fui a primeira a acordar. Não foi no susto ou porque tinha alguém me chamando ou ligando, apenas abri os olhos e encarei o teto branco do quarto de hotel. Minha atenção permaneceu ali por um segundo até sentir sua respiração batendo em meu pescoço. O arrepio de prazer foi instantâneo. Virei a cabeça para o lado e o encontrei muito perto, no limite entre seu travesseiro e o meu, o cabelo desgrenhado e bem longe da perfeição de sempre. Zayn respirava fundo, dormindo profundamente, então aproveitei a oportunidade para observá-lo. Não fazia muito tempo o sonho da minha vida era conhecê-lo pessoalmente, e estar tão perto assim sem ter que calcular cada movimento meu para não demonstrar que já não o detestava tanto pareceu despertar de novo aquela Storm mais nova. E, como a boba que costumava ser, passei os próximos minutos observando o homem na minha frente.
Não podia deixar de me impressionar com o tamanho de seus cílios. Tão grande que faziam curvas, deixavam seus olhos acastanhados ainda mais incríveis. Talvez fosse por causa disso que minhas pernas sempre tremiam quando ele me encarava. Passei minha atenção para suas bochechas e mandíbula tão fortes e bem desenhadas. Tive que conter o impulso de me inclinar para frente traçar o contorno do princípio de sua barba com meus lábios. 

Ah! Os lábios... Sua boca era tão macia quanto parecia e não me arrependia de ter passado boa parte da noite provando dela. Sim, me lembrava perfeitamente de tudo que tinha acontecido, minha cabeça tinha zumbido de um jeito gostoso graças a tequila, mas sabia meus limites e sabia beber. Então, de novo, sim, cada segundo desde a hora que saímos do hotel até o momento em que deitamos na cama, cansados demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse dormir, estava impresso em minha mente. Ainda observando Malik, esperei que o arrependimento chegasse, porém não conseguia sentir nada além de contentamento. Não tinha raiva dele ou de mim e, estranhamente, pela primeira vez não sentia raiva da situação em que me encontrava. Talvez não lamentasse, porém certamente deveria estar amedrontada. Por mais que procurasse, entretanto, também não conseguia encontrar medo. Havia certo receio sobre como agiríamos um com o outro a partir de agora, mas não era algo ruim que me embrulhava o estômago, apenas uma curiosidade compreensível. 

O problema da curiosidade era que ela criava cenários, e cenários criam expectativas. E expectativas só machucam. Com um suspiro, desviei o olhar de seu rosto para o braço forte ao redor de minha cintura. Deslizei o dedo indicador muito suavemente sobre a tinta preta da tatuagem intrincada em sua mão. Era minha favorita. 

E agora eu estava parecendo um filhotinho perdido. Fechando os olhos com certa vergonha, decidi que era melhor me levantar. Lentamente empurrei seu braço para o lado e também afastei o lençol antes de me levantar. Malik se mexeu um pouco, mas não acordou. Vasculhei em minha mala uma calça jeans e blusa branca bem neutra, uma vez que não tinha nem ideia de para onde iríamos hoje. Sai do banho já de roupa trocada e secando o cabelo com uma toalha bem a tempo de ver meu celular vibrando sobre a mesa de cabeceira. Era um número desconhecido, mas reconheci o prefixo do Reino Unido, então, ainda com o cenho franzido, levei o aparelho a orelha. 

- Alô? - murmurei meio incerta. 

- Storm! É Liam. Dá para você acordar Zayn? Para variar ele não atende o celular e normalmente sou eu quem vai ao quarto acordá-lo, mas bom... - deixou as palavras no ar e não foi difícil entender que Payne tinha tido o bom senso de não invadir o quarto do amigo quando eu estava lá. 

Imagina se eu estivesse sem roupa? Ou se ele nos pegasse transando - não que estivéssemos nem mesmo perto de algo do tipo, mas eles não sabiam disso, inclusive acreditavam justamente no contrário - ? Não sei quem ficaria com mais vergonha, se Liam ou eu. Provavelmente Liam... certamente Liam.

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