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"Não tenhas medo de amar, o que te magoa é sempre inferior àquilo que te ama."

Ireland Vasconcelos 

Nem sequer consigo explicar aquilo que eu estava a sentir, mantive-me afastada durante 10 anos, 10 anos de sofrimento e tortura. Deitei a cabeça sobre o peito dele e ele ficou a fazer festinhas no meu cabelo e acabei por adormecer, acordei com um sentimento de frio a minha volta e logo percebi porque ele não estava aqui, isto não tinha passado de um sonho, tentei colocar-me a pé, mas não, não podia ser um sonho eu estava dorida, olhei para a mesinha cabeceira e vi que passava pouco das 5 da manha e vi um papel na mesinha cabeceira, tinha como ser mais cliché.

"Tu não és almofada, mas eu passo a noite toda contigo na cabeça. Sempre teu, A.G"

Ri com aquela frase parva e saltei da cama, vesti uma roupa para ir correr e desci as escadas, comi qualquer coisa e fui para o piso -1 como eu costumo chamar, no piso -1, tem o dormitório dos seguranças e um pequeno ginásio onde eu normalmente faço corrida e bicicleta. Quando chego lá está tudo vazio, muito provavelmente ainda estão todos a dormir. Coloco os meus fones  e começo a fazer uma corrida lenta e as lembranças dos últimos dez anos invadem-me, estudei fora, conheci pessoas fantásticas, viajei muito, tentei afastar-me dele, e quando eu menos espero encontra-lo lá vem ele, os beijos, a noite, foi tudo um erro, sinto-me mal por ele ter feito isto com a Áurea, apesar de tudo eles são casados, uma lagrima estúpida insiste em cair pelo meu rosto e eu limpo-a na hora, as portas do ginásio são abertas. 

-Bom dia Drª . -Acho que é o Henrique, ele posiciona-se na passadeira do meu lado e começa a correr também.

-Bom dia. 

-Costuma acordar assim tão cedo ? -Ele puxa conversa e eu agradeço pois pensar no Afonso deixa-me irritada.

-Normalmente só faço corrida a noite, mas preciso de aliviar a tenção.

-Algo que a preocupe ?

-Não, apenas muito trabalho.

Ao fim de duas horas de corrida seguida, decido ir tomar banho e escolher uma roupa para trabalhar, sim sou vaidosa, sou mulher, gosto de me sentir linda. Fico na banheira durante meia hora, enrolo-me na toalha e vou para o closet, sei que hoje não vou ter reuniões então irei passar o dia todo no meu escritório, opto por escolher um vestido florido no tamanho do joelho, uns saltos nude, venho para baixo tomo um pequeno almoço decente e vou até ao escritório trabalhar ate a hora de sair.

-Posso ? -Ouço batidas na porta.

-Sim. -Era a minha irmã

-Que tal estou ? -A minha irmã, dá uma voltinha no seu conjunto de calções e top branco que lhe dão um ar muito angelical.

-Muito bem, continuas com a ideia de ir fazer o voluntariado hoje  ? 

-Sim, tu também vais ? -Depois que a minha irmã disse que queria trabalhar estas férias, achamos melhor que ela ficasse por um voluntariado numa associação de mães adolescentes, que pertence a Vasconcelos. Normalmente faço voluntariado ao domingo ou ao sábado, mas estamos naquela altura do ano em que as pessoa começam a entrar de férias e as coisas ficam mais calmas. 

-Meninas ? -o Alex diz colocando a cabeça dentro da porta 

-estamos prontas. -A minha irmã de manha, vai há medica dela, vai começar o pré-natal, ela está mais ao menos com 7 semanas, mas como ela só queria ter a certeza que estava grávida não fez uma ecografia, a minha mãe que chega hoje de Paris, vai acompanha-lha. Pois bem, eu e a minha mãe não temos a melhor relação do mundo, ela é minha mãe, sempre me tratou muito bem, mas quando ela devia ter insistido para eu ficar em Portugal ela não se importou, apenas disse que eu fazia da minha vida o que eu quisesse, conseguem entender como para mim isso foi difícil, o meu pai visitava-me todos os anos pela altura do meu aniversário e do natal, a minha mãe durante o tempo que estudei fora nunca me foi visitar apenas me ligava uma vez no mês. Já me encontro dentro do carro perto do consultório onde a minha irmã tem a consulta, ela ainda vai tomar o pequeno almoço com a minha mãe para porem a conversa em dia e essas coisas que elas fazem juntas. 

-Tens a certeza que não queres que te acompanhe ? -Eu pergunto a minha irmã antes dela sair.

-Sim, eu apenas queria que ligasses para o colégio e perguntasses se eu posso fazer os exames para ver se ainda consigo passar do nono ano? -Ela diz, e foi como se os queixos tivessem caído ao chão. 

-Claro, vou ver o que posso fazer. -A minha irmã sabe que se eu desse um bom cheque ao diretor do colégio ela tinha passado de ano. Ela sai do carro e o Alex dirigi-se para o edifício Vasconcelos. Sigo par o meu escritório e peço que chamem o Afonso, andamos a adiar uma conversa sem retorno.

-Mandou chamar-me Drª ? -Ele diz ao entrar na empresa 

-Mandei, pode sentar-se. -Ele sentou-se na cadeira a minha frente e fez-me lembrar a cena das cinquenta sombras de grey, só que primeiro eu não sou um homem, segundo não sou uma dominadora, e terceiro o homem a minha frente não tem um pingo de vergonha na cara. Sacudo a cabeça para afastar os pensamentos

-Eu pedi-te que viesses aqui, porque nos estamos a precisar de acertar alguns pontos. 

-Eu acho que a Drª não está a conseguir separa a sua vida pessoal da sua vida profissional. -Aí docinho tu achas-te que eu te chamei aqui par falarmos sobre a nossa noite quente, estas enganado.

-Eu estive a ver o vosso mapa de segurança e ele não me parece o melhor. -Naquele momento batem a porta e vejo o Raul caminhar até nos, levanto-me e comprimento-o com dois beijinhos. Começamos a conversar sobre o mapa de segurança deles e notei sempre os olhares indiscretos que o Afonso me lançou. Ficamos naquilo até as 12h.

-Vamos almoçar ? -O Raul diz.

-Vou almoçar com a Maria e a dona Eva, mas vão vocês, elas não deve tardar.

-Vens Afonso ? 

-Claro. -Ele diz.

-Bom almoço. -Eu digo quando eles vão a sair. 

-Dois de uma vez só ? -A minha irmã entra na minha sala.

-Já sabes, eu não falho. -Digo em tom de riso

-Estas pronta ? -A minha irmã diz, vejo a minha mãe entrar pela porta com os olhos avermelhados de ter estado a chorar.

-O que que aconteceu? -Eu pergunto já assustada.

-Vais ser tia a dobrar. 

-Gémeos ? Mas a mãe não teve gémeos ! -Eu digo pasmada, ao menos a minha mãe vai ter netos de uma das filhas.

-Pois não, mas não se esqueçam que eu tenho uma irmã gémea, e vocês tem primos gémeos.

-O meu pai tinha irmãos gémeos, se eu ficasse grávida podia também ter gémeos. -Eu digo 

-Em ti ainda é mais provável. -A minha irmã diz

-Vamos almoçar, estou com fome. -Levanto-me

-Andreia eu devo voltar por volta das 16h. 


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