Marcas do passado ✔️

26.

IRELAND VASCONCELOS

Quando entrei naquele carro e deixei o Afonso para trás sabia que já não havia volta a dar, só espero que ele cumpra com a promessa dele e nunca deixe a minha irmã sozinha. Obrigaram-me a entrar dentro de um carro escuro e vendaram-me para eu não saber para onde me estavam a levar, agora estou trancada dentro de um quarto velho, com cheiro a mofo, sem janelas todo escuro. Ouço a porta velha e pesada abrir, mas não tenho coragem para levantar o olhar, não quero que me façam mal. Ouço o barulho de saltos agudos pisarem o chão poeirento, no meu campo de visão consigo ver os saltos vermelhos vivos e ouso levantar o meu olhar, Camila ?

-Olá menina Ireland ! -Ela diz ao passar a mão no meu cabelo

-Porque Camila ? Porque que nunca contou a ninguém que eu era sua filha ?

-Queres que eu te conte uma história ?

-Quero que me conte o porque disto tudo.

-Vamos trazer também a Eva, ela vai gostar de participar. - Para meu espanto a Eva entra pelo proprio pé dela e não me parece nada abatida.

-Desculpa Ireland. -Ela diz, e eeu não resisto a virar o olhar, não consigo olhar para ela, ela fez com que 25 anos da minha vida fossem uma mentira.

-Era uma vez uma miúda de 16 que arranjou trabalho numa das melhores empresas do país como secretária de um jovem de 22 anos com toda a sua beleza, para uma miúda sonhadora aquilo parecia o inicio, a verdade é que ela entregou a ele tudo aquilo que tinha, entregou-se a ele de corpo e alma, e eles viveram um romance durante 6 anos, até que ele diz-lhe que já não podem estar juntos, que ele se apaixonou por outra pessoa, e aí aparece a Eva, como noiva dele, e para mim que era apenas a secretária dele os meus sonhos morreram, mas continuei o meu trabalho de cabeça erguida, depois os enjoos vieram, as tonturas e eu desconfiei que estava grávida, e era verdade, um fruto daquilo que eu vivera com o Artur, mas ele não queria nada que nos ligasse, então como a Eva não podia ser mãe eu ofereci-te a eles, como prova do meu amor por ele. Sempre que eu te via naquela casa eu sabia que tu eras a minha menina, que tinhas sido criada por mim, mas que eu nunca te poderia dar um berço de ouro e eles podiam.

-Tu deste-me porque não tinhas dinheiro para me criar ? Isso não é desculpa para nada. -Eu digo indignada, eu estava chocada com aquilo que tinha acabado de ouvir, não podia ser verdade.

-Então ao fim de dois anos os teus pais separam-se e eu achei que ele podia querer algo comigo, mas não , ele só se dedicava a ti e a empresa e então eu vi-me obrigada a casar. - Ela cala-se dando oportunidade a Eva de falar.

-Quando eu te tive nos meus braços eu considerei-te minha filha, mas depois da separação minha e do teu pai eu não conseguia mais olhar para ti, eu sabia que tu não eras minha filha, eu sabia que tu ias ter sempre um elo de ligação a ela, e eu não quis mais saber. Quando quisestes ir para fora foi um alivio para mim, podia deixar de te ver, mas quando regressas-te estavas pronta para assumir as empresas do teu pai, eras uma mulher feita e já não precisavas de mim para nada, eu tive que fazer algo para ter uma parte de ti comigo

-O que que queres dizer com isso ?

-Fui eu que matei o teu pai.

-Não, não tu podes ter feito isso. -As lagrimas corriam pelo meu rosto a baixo e eu só queria vingar a vida da única pessoa que apesar de me ter mentido, esteve sempre lá para me apoiar. -E a Maria ? Ela também não é tua filha ?

-Pois não , eu adotei-a com o Pierre, eu amo-a e nunca a deixaria.

-Nunca te irei perdoar por teres morto o meu pai.

-O teu pai era como tu bastardo. - A Eva vem até mim e da-me um estalo tão forte que sinto os meus dentes estremecerem. Naquele momento ouvem-se tiros vindos da parte de fora do quarto e vejo o Afonso entrar por lá dentro, a Camila vem até mim e coloca uma arma na minha cabeça.

-Para teu bem eu acho bem largares a minha filha. -Uma voz muito familiar para mim, soa de um dos homens encapuçados que invadiu o quarto.

-Artur ? -A voz da Camila soa rouca e falhada.

-O mesmo . -Ele diz ao retirar o carapuço da cabeça, o meu pai , a pessoa que me criou, me educou, colocou comida na mesa, e tudo mais. A Eva estava presa pelo Alex e o Afonso veio até mim.

-Como estas ?

-Viva ainda.

-Minha princesa !

-Pai - Digo e o Afonso apressa-se a retirar as amarras que me prendiam os braços e as pernas, abraço-me a ele e não me apetece solta-lo mais, foram 3 anos sem ele.

-Camila vocês as duas podem ser muito inteligentes, mas escolhem muito mal os vossos aliados.

-Vivo ? Tu disses-te que nem sequer tinham encontrado o corpo dele de tão desfeito que estava. -A camila diz ao virar-se para Eva

- Pois foi, mas eu já sabia tudo, também sabia que ele -E apontou para o Afonso. -Só casou com a Áurea porque tu querias. -Diz ao apontar para a Eva. -Não sei como me apaixonei por ti, e tu Camila pensei que amavas a tua filha que ela significava algo para ti, dei-te a oportunidade de a veres crescer de a veres ser mulher, de estares lá e o que que tu fazes ? Tentas mata-la ?

-Não foi nada disso.

-Levem-nas, tratem delas. -O meu pai diz ao virar as costas e vir na minha direção e do Afonso.

-Vamos para casa, precisamos de conversar um pouco.

Ele diz e abraça-me, a minha cabeça está tão confusa, sinto tudo a andar as voltas, tudo aquilo que eu achava que sabia era mentira, mas hoje tudo se tornou claro, elas queriam a minha cabeça porque ambas ficariam com a Vasconcelos Enterprises. Era tudo um negocio.