Capítulo 23 - Aurora

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Passei pela minha sala, sem me preocupar com nada, e fui na direção da sala do Rafael, parando em frente a mesa da Suzanna.

Assim que parei, ela levantou os olhos para me olhar e fez uma careta de desdém.

- O Rafael não está. - falou arqueando uma sobrancelha. - Pensei que você sabia disso.

- Não vim falar com ele. - falei respirando fundo pra manter minha calma. - Quero falar com você.

- Quer dicas de como seduzi-lo? - ela me interrompeu sarcástica, passei a mão pelo meu rosto para tentar continuar calma.

- Quero que você me diga o que está acontecendo. - e assim, ela deixou a expressão de sarcasmo.

- Isso não é da sua conta, vai embora. - e voltou para o que estava fazendo.

- Não, eu posso ajudar. - falei, colocando as mãos na mesa dela, pra conseguir sua atenção.

- Como vai ajudar se nem sabe o que é.

- Me conte. - ela deu uma olhada em mim, e logo depois voltou ao que estava fazendo.

- Se o Rafael não te contou, por que eu iria?

- Ele acha que esta me protegendo fazendo isso, mas eu não sou tão frágil quanto ele imagina.

-Lamento, agora saia.

-Não. - continuei, agora com a voz bem firme. - Eu não quero perder ele também. - ela cruzou os braços, e me analisava agora, acho que era a hora de apelar para o sentimentalismo, se ela tiver algum. - Eu estou voltando a ter um momento feliz desde a morte dos meus pais, não quero perder isso também.

-Ele já te contou o que está acontecendo. O único objetivo dele é te proteger do Heitor.

-Tem mais alguma coisa, ele está bem mais tenso agora.

-Nós não imaginávamos que o Heitor está bem mais perto, e claro, mais difícil de encontrar. Infelizmente, ele está um passo na nossa frente. - ela parou um pouco e soltou um longo suspiro. - O Rafael vai me matar se eu te falar mais.

-Os bilhetes que ele tá tentando me esconder. - Ameaças, a Suzanna não precisou afirmar nada. Como eu não pensei antes? - Ele te conta tudo?

-Estamos no mesmo caso pra pegar o Heitor, então sim, ele me conta tudo. - franzi o cenho tentando absorver isso: Suzanna também era uma espiã. - Não pense que você é exclusiva pra ter dois espiões te protegendo. Heitor também é traficante de drogas, armas, prostituição, coisas desse tipo.

-O Rafael me contou o que tinha acontecido antes.

-O pai dele. Cheguei a conhecer: ótimo espião, péssimo em lidar com as pessoas. Essa coisa de vingança do Heitor é ridículo pra mim, mas vai entender a cabeça de outras pessoas. Eu ainda não trabalhava com eles na época que quase pegaram o Heitor, mas fiquei sabendo que não foi nada bonito. - ela olhou pra mim e me fuzilou com o olhar. - Espero que você seja realmente útil, mas é melhor manter as aparências e trabalhar, pelo menos nisso você é boa. Agora sai. - e fez um gesto com as mãos me mandando embora.

Até tentei gostar dela, mas este último comentário foi desnecessário, sai para não deixa-la mais irritada, e claro que eu iria mostrar pra ela que podia ser util.

A tarde de trabalho passou bem devagar, e tentei ser o máximo produtiva que podia, precisava me acalmar para que o Rafael não percebesse. Felizmente, consegui me concentrar no que eu estou fazendo, de tal forma, que me assustei quando o Rafa entrou na sala.

- Muito ocupada? - perguntou com um sorriso no canto da boca, enquanto se sentava em uma cadeira.

- Mais ou menos. Geralmente fico bem concentrada enquanto programo. - consegui retribui o sorriso, até porque não era mentira.

- Acha que consegue terminar amanhã? Já passou da hora de irmos embora. - ele estava bem relaxado agora, espero que sua tarde tenha sido boa.

- Claro. - rapidamente, deixei um comentário onde eu tinha parado, e desliguei tudo, peguei minhas coisas, e o Rafa já estava em pé na porta, ele parecia bem menos tenso, e isso me deixava relaxada. - Vamos?

Ele não respondeu, apenas me esperou passar pela porta, e então fomos para casa a pé. Não fizemos nada além de conversar no caminho, e eu nunca me senti tão bem em anos.

- Como começou a gostar de programar? - essa foi uma das nossas conversas, e sinceramente, foi a que mais gostei.

- Na época do ensino médio eu estava meio indecisa no que fazer na faculdade. Eu gostava de exatas, então algumas pessoas me sugeriram a engenharia.

- Mas não foi isso o que você fez. - comentou franzindo o cenho olhando pra frente, não fiz engenharia da computação.

- Não. - meu sorriso aumentou. - Uma amiga falou pra eu tentar o técnico em informática, e eu não imaginava que me daria tão bem em programação. Quando terminei o técnico, fiz Sistemas de Informação, e arrumei um trabalho nesta área.

Fiquei feliz em falar isso, me orgulhava das escolhas que fiz, mas de repente ele parou.

- Quando a gente se conheceu, você não era tão boa em exatas.

- Digamos que você foi um bom professor. - e rimos, mas então continuei com uma voz normal. - A Laura me disse uma vez, depois da morte dos meus pais, que as coisas de que gosto são uma parte mínima de momentos bons que passei: gosto de matemática porque era isso que eu estudava com você, gosto de programação porque meus pais se orgulhavam de mim enquanto eu fazia o curso, e sempre me motivavam. - ele parou derrepente e olhou pra mim, ele ficou feliz com o que falei e deu um sorriso tímido, mas algo atrás de mim fez com que ele ficasse tenso novamente.

Apaixonei pelo Nascer do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora