Capítulo 17

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Almoço, finalmente o tão esperado almoço!

- Estava com fome. – Disse, depois de me servir a primeira garfada do delicioso peixe que minha mãe fizera de almoço. – Você não vai comer? – Perguntei, depois de uma pausa para mastigar.

- Não. – Respondeu minha mãe, enquanto servia-me um copo de refrigerante de guaraná. – Vou sair com o Ivan daqui a pouco. Ele me disse que era um almoço fora. – Riu ela.

- Ah, entendi. – Murmurei. – Parece que vocês dois estão bem, amigos né? – Disse.

- Namorando, Isaque, namorando. – Retrucou minha mãe. – Já disse que eu e o Ivan estamos namorando e estou adorando ele. – Disse ela.

- Está muito cedo para fazer previsões tão precipitadas. – Murmurei com um olhar diabólico em sua direção. Ela largou o prato que enxugava e logo encarou-me com desconfiança.

- O que você está tramando? – Perguntou ela.

- Nada! – Disse. – O que é que eu faria? – Perguntei.

- Muita coisa para estragar meu namoro. – Respondeu ela.

- Por favor né mãe, eu tenho coisas mais importantes para fazer do que estragar seu namoro bobo. – Disse. – Além do mais, não acho que esse "amor" que um está sentido pelo outro é real. – Murmurei.

- Como é que é? – Gritou ela. – Como ousa dizer isso, garoto? – Perguntou ela. – A minha relação com o Ivan não é da sua conta, ouviu? – Perguntou ela.

- Não está mais aqui quem falou! – Disse, levantando da mesa da sala com o prato e o copo de refrigerante em mãos até meu quarto, me trancando logo depois.

Não sei o que deu em mim, mas aquilo foi tenso.

Ciúmes? Não, eu não posso ter ciúmes daquele cara!

°°°

- Isaque, precisamos conversar. – Disse minha mãe, quase meia hora depois da leve discussão na sala.

Abri a porta do meu quarto e encarei-a, com um semblante calmo, mas ainda assim, sério em minha direção. Dei as costas e me sentei na cama, puxando o celular debaixo do travesseiro e continuando minha conversa.

- Que foi? – Perguntei, focado no celular.

- Desliga essa coisa e olha nos meus olhos. – Ordenou ela, enquanto sentava-se na cama. – Não vou repetir.

Obedeci, mas não a encarei nem a pau.

- O que deu em você lá na sala? Pode me dizer? – Perguntou ela, enquanto olhava-me com atenção.

- Não sei. – Respondi.

- Você tem ciúmes do Ivan, Isaque? Por que isso? – Perguntou ela. – Eu te amo, e isso é o que importa. – Disse ela.

- Não tenho ciúmes do Ivan, mãe. – Disse. – Só acho que ele não é certo para você. – Disse.

- Como sabe? Como tem tanta certeza, filho? – Perguntou ela. – Você nem ao menos o conhece direito e já está julgando?

- É, estou. – Respondi. – Se acha que é ele, então siga em frente. Mas se não for, não diga que eu não te avisei. – Disse, me levantando e seguindo para fora do quarto.

- Onde pensa que vai? – Perguntou ela.

- Tinha um dinheiro guardado. Está na hora de usá-lo para algo que queria fazer há muito tempo. – Disse. – É hoje que eu faço minha tatuagem. – Disse, sem olhar para trás.

- Desculpe ter que dizer isso, mas você é menor de idade. – Disse minha mãe, enquanto me seguia até a sala. – Pelo que lembro, menor de idade não pode fazer tatuagem sem a permissão da mãe, pai ou responsável. – Disse ela.

- Está brincando né? Vai me impedir de fazer a tatuagem agora? – Perguntei.

- Sim, vou. – Disse ela. – E se quer minha permissão, primeiro vamos passar em um lugar. – Disse. – Vamos de carro para ir mais rápido.

- Não faça isso comigo, dona Jaqueline. – Murmurei enquanto a seguia até a garagem.

Sentei no banco carona e a esperei fechar a garagem logo após de tirar o carro. Ela entrou no mesmo e logo depois o ligou, acelerando e seguindo até a avenida.

- Onde vamos? – Perguntei.

- Em um lugar muito especial. – Disse ela.

- Muito especial para você ou para mim? – Perguntei já com a cara emburrada.

Ela levou seus olhos calmos e simpáticos até os meus e sorriu. Uma de suas mãos foi até minha bochecha e então sacudiu-a com força.

- O que está fazendo? – Perguntei.

- Sorria um pouco, mal humor. Quero você com disposição para levar as compras. – Disse ela.

- Não brinca! – Disse, logo depois de tirar a mão dela do meu rosto. – Eu não acredito que você está me levando para o mercado! – Gritei, indignado.

- Sim, estou! – Gritou ela, enquanto sorria discretamente.

- Que merda. – Murmurei.

Olhei pela janela do carro e admirei a paisagem até chegar no mercado, que era uns cinco minutos de carro.

- Ótimo, chegamos. – Disse minha mãe, enquanto desligava o carro, já estacionado.

Saí primeiro e andei devagar até a porta que levava para o mercado em si. Minha mãe me acompanhou com uma pequena lista de compras em mãos. Por que ela não usa as notas do celular heim? Dei um celular moderno de presente a ela para isso, até onde eu sei.

°°°

Exatos R$450,30 reais foram gastos no mercado. E eu que achei que a "pequena lista de compras" não era muita coisa. Acabou que até havia me esquecido da tatuagem, mas acabei me lembrando depois de perceber que minha mãe passou com o carro na frente do estúdio de tatuagem do pai do Léo. É, o Léo tem um pai sim, mas eles estão sem se falar desde o ano passado, quando o Léo contou aquilo tudo lá para o pai. Aconteceu uma baita briga e o Léo levou uma surra, mas hoje em dia os dois até se falam por telefone, mas quando estão próximos, é só um oi e tchau secos.

- Você disse que a gente passaria no estúdio do Ricardo depois do mercado. – Disse.

- Eu menti. – Riu minha mãe.

- É o que? – Perguntei. – Você está brincando comigo, não está não? – Disse.

- Olhe nos meus olhos e vê se estou brincando. – Disse ela, agora séria e indiferente. Encarei-a por alguns segundos e voltei a olhar para o além, único lugar para se ver uma hora dessas.

Chegamos e ajudei minha mãe a levar as compras para dentro de casa. Ela largou tudo no meio da cozinha e retornou à sala, encarando-me com o celular em mãos.

- O que foi? – Perguntei, estirado no sofá, de cara emburrada.

- Tem certeza que não vai fazer a tatuagem? O carro está ali fora nos esperando. – Disse ela.

- O que? – Murmurei. – Mas você disse que não ia mais me deixar fazer a... tatuagem. – Disse.

- Eu menti. – Riu minha mãe.

Pulei do sofá de felicidade e encarei-a sem reação.

- Você só pode estar brincando. – Murmurei. – E para que perdeu seu tempo vindo até em casa? – Perguntei.

- Só para fazê-lo perder as esperanças. – Disse ela. – Lembre-se que sua mãe é louca e é capaz de fazer de tudo. – Riu ela.

- Exatamente. – Disse, correndo na frente, em direção do carro, que com os vidros abertos, me aguardava com o motor à mil.

Se Eu Te Amar DemaisOnde histórias criam vida. Descubra agora