Esperança Num Mar de Desilusões (Parte 2)

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Eu e o Paiva saímos bem cedo naquela manhã, antes que as atividades na The Nightclubers começassem.
Assim que cruzei as portas da TN, e senti aquele vento no meu rosto, a sensação de estar deixando o lugar me invadiu, e foi incrível.
Seguimos por vários locais, e pela primeira vez pude ter noção de como aquela cidade era incrível.
Cada prédio, cada arquiteura, era mais bonita e inovadora que a outra.
Começamos a passar por um outro lado da cidade, após atravessar um rio. Uma parte rústica e antiga, como naqueles filmes antigos de Egito e faraós.
Antes que eu pudesse continuar a contemplar as ruínas do que antes fora um grande império, paramos diante de uma pequena barraca que vendia artefatos de decoração
-Entre e me siga. Não toque em nada, não pense em nada, apenas fique do meu lado.
E adentramos a barraca, minha espinha se arrepiando a cada passo.
Lá dentro, cada perímetro do interior da lojinha de artefatos era composto por alguma quinquilharia. Tudo parecia ter saído de um dos filmes do Aladdin.
João foi falar com um senhor de idade, aparentemente o dono da barraca.
Enquanto isso, eu andava pela loja, não acreditando ainda que tinha saído daquele antro de perdição.
Cansado de tanta velharia, cheguei perto João, em parte porque queria ouvir a conversa dele.
-Tudo bem, Oli.
-Espero que vocês consigam.
-Conseguiremos, Oli. Agora... queremos reserva no quarto 123.
Os olhos do vendedor, Oli segundo o Paiva, se abriram em sinal de reconhecimento.
-O 123?
A expressão de Paiva era incrivelmente séria.
-Esse mesmo.
O velho se virou e andou até um livro empoeirado, de onde tirou uma chave e entregou ao Paiva num acordo silencioso.
Ele se virou e saiu da cabana, me deixando confuso.
-Paiva! Espera! O ... o que aconteceu lá?
-Aquilo foi o começo de tudo.
Ele apenas me disse, e seguimos em direção à boate.

****

-Eu tenho duas surpresas para você hoje.
Ele disse, depois de ambos fugirmos para o quarto para... "uma rapidinha".
-Surpresa? Que surpresa?
-Bom, antes de tudo, quero te dizer que eu tinha que pegá-la na primeira chance, se não a Irma a pegaria. Dan, me entenda.
-João, sobre o que você está falando?
Eu disse, a preocupação e o medo mal-disfarçados na minha voz.
-É... tem.. tem uma pessoa aqui que eu acho que você gostaria de ver.
Ele disse, e, pela proximidade em que nos encontrávamos, pude perceber através de seus olhos o quão grave era a situação.
-Eu vou trazê-la aqui. Espera um pouco.
Ele saiu do quarto pela porta que ficava atrás da cômoda de marfim, o que era estranho.
Enquanto ele estava fora, os pensamentos invadiram a minha cabeça. E a culpa começou a dilacerar meu peito.
Eu não pensava nos meus pais havia muito, e aquilo fazia eu me sentir culpado de uma maneira imensurável.
Tudo tinha mudado, assim, de repente. Todas as coisas que eu achava que eram verdade, num minuto, noutro, já era considerada mentira.
Mas, o que mais pesava na minha mente era a responsabilidade de escolher um lado. Era a decisão de confiar, ou não confiar no Paiva. Tudo poderia ser simplesmente um plano, uma artimanha. Mas, para que? Para quê esse trabalho todo por causa de um simples traficado? Não seria mais fácil simplesmente matar-me?
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som estridente da porta batendo na parede.
-O que você está fazendo com o Paiva? Como anda o plano? O qie está acontecendo?
Era a Vaca Loira da Irma. E pelo visto, ela ainda achava que tínhamos um plano.
-Está indo tudo às mil maravilhas. Ele está comendo na minha mão.
Eu menti, em parte para me proteger. Mas, também, para ter tempo de decidir: qual lado seguir?
-Ótimo, ótimo. Precisamos conversar. Como você conseguiu essa promoção? Como...
-Meus meios não importam. Tudo o que importa é o resultado. Agora, por favor me dê licença.
Eu notei pela sua expressão que ela entendeu o recado. Sem conversas, nem perguntas.
Ela se levantou e antes de sair olhou nos meus olhos e disse:
-Ainda vamos conversar.
E bateu a porta novamente.
Depois do breve encontro com a Irma, tudo se tornou mais claro.
Cada pessoa dentro daquele triângulo maluco tinha seu próprio caminho, seu próprio "ideal", digamos assim. Menos eu.
Então, eu me decidi: nem Paiva, nem Irma. Mas eu. Eu seguiria meu próprio plano de fuga daquele inferno.
Muito tempo depois, Paiva apareceu.
-Vamos.
E fez sinal para que eu o seguisse.
Passamos por vários corredores e portas.
Até que chegamos a uma porta que parecia ser de metal, com umas inscrições estranhas entalhadas nela.
Parecia uma porta de prisão de segurança máxima.
Então, Paiva abriu a porta, e meu coração se encheu de um sentimento inexplicável tão forte, que chegava até a doer.


*****


Priscila

Meus olhos não acreditavam no que viam. Ele estava incrivelmente diferente. Cada pedacinho de seu rosto estava com marcas de sofrimento. O que lhe conferia um ar mais másculo. Um ar mais adulto.
Levei alguns segundos em frente a ele, toquei seu rosto, sua pele, senti que aquilo não era minha mente pregando peças em mim. Senti meu amigo/irmão, Daniel Lancaster, pela primeira vez em quase um ano desde sua viagem, enquanto as lágrimas teimavam em sair pelo meu rosto, em direção ao chão do quarto, como que para presenciar aquela cena.
Então, eu o abracei. E ele me abraçou também. Foi como se nossos corações, há muito perdidos, se reencontrassem.
E, céus, como foi bom.

Revenge: As CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora