Uma Porta, Uma Parede, Um Segredo Revelado.

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No momento em que eu saí do quarto da Irma e fui para o Porão, eu soube que essa visita era mais importante do que eu pensava.

O vai e vem constante dos capangas e dos traficados tinha sido substituido por corredores vazios e silenciosos.

De algum modo, esse silêncio me assustou mais do que os gritos de dor constantes que emanavam dos corredores normalmente.

Eu desci para o salão principal. O local também estava deserto.

Por alguns segundos, pude ver uma das meninas passar com alguns guardas para o Porão. Provavelmente, outra que tinha tentado fugir. Ao mesmo tempo, eu vi o Paiva, a Irma e mais um monte de guardas ao redor de alguém que eu não fazia idéia de quem era. Eu tinha duas opções: ou iria para o Porão com o resto das garotas, ou poderia seguir a Irma e saber quem era o tal chefe.

Talvez tenha sido burrice, mas minha curiosidade falou mais alto. Bem mais alto. Então, eu segui o Paiva e compainha limitada em direção ao corredor onde ficava a Porta Preta.

Como a maioria dos guardas estava vigiando as saídas, as meninas do Porão e "o ser estranho", o caminho estava praticamente vazio, então foi fácil seguí-los.

Eu me esgueirei pela pilastra principal, e me arrastei até o palco. Eu me deitei atrás da parede que ficava perto do caixa central. Dali, eu pude ouvir o que eles estavam conversando tão secretamente.

-Não importa! Ele é um perigo!

-Chefe, eu estou cuidando dele pessoalmente, e garanto que ele não oferece mais perigo nenhum.

Era Irma, aquela Vaca Loira.

-Eu não quero saber. Ele já tentou fugir duas vezes! E numa dessas quase arruinou o nosso esquema com as facções no Iraque. EU QUERO ELE MORTO!

Eu me aproximei um pouco, e como que pressentindo a minha presença, o Paiva virou a cabeça exatamente na direção em que eu estava. E por algum tempo, ficou encarando a divisa entre o corredor, e a parede na qual eu estava escondido.

-Paiva? O que foi? Quem está ali?

Ele continuou encarando a parede, mas logo depois respondeu:

-Não... nada.. Jonas, pode deixar que eu cuido do garoto apartir de agora.

-Muito bem. Ou ele morre, ou ele vira um aliado. Não quero ele atrapalhando os meus esquemas.

Eu podia sentir a raiva da Irma de onde eu estava.

-O garoto... será devidamente punido, Jonas.

Um arrepio pela espinha surgiu repentinamente.

-Agora, me mostre o que você tem para os clientes.

-Ah, tudo bem. Mas, e os clientes, onde estão?

-Eu estou pedindo que você me mostre.

Eu me arrastei mais para perto do corredor, me escodendo atrás de outra divisa, que ficava perto da Porta Preta.

-Irma, você não será mais necessária apartir daqui.

-Mas, Chefe...

-Nada de mas. Se eu digo que você não será mais necessária, você não será mais necessária e ponto. Você... me entende?

Eu precisava ver a cara da Irma naquele momento. Então, eu inclinei a cabeça um pouco, de modo que eu estava vendo somente Irma.

-Tudo bem.

Ela disse, e se virou para o quarto dela, que ficava subindo as escadas no final do corredor.

Depois disso, eu não consegui mais ver o que estava acontecendo. Tanto Paiva, quanto os seguranças haviam sumido. Provavelmente, tinham entrado na misteriosa Porta Preta. Aquela porta...

Decidido, eu me aproximei mais.

Conforme eu ia me aproximando, mais as minhas suspeitas eram confirmadas: Nesse esquema tinha muito mais do que a Irma estava contando.

-E aqui...ver... conseguimos mais... para...

Eu não estava conseguindo ouvir direito. Pela distância em que se encontrava a voz do Paiva, ele estava dentro do que quer que tivesse atrás daquela porta.

Ou seja, o caminho estava livre para que eu pudesse bisbilhotar.

Eu iria descobrir o que estava acontecendo ali.

Eu me aproximei mais ainda, e cheguei na frente da porta preta, que estava aberta o bastante para que eu pudesse passar.

Quando eu passei pela porta, eu fiquei terrivelmente surpreso.

Atrás da porta, em dezenas de estantes prateleiras, estavam armas que eu não havia visto nem no jogo mais sangrento.

Mas, o que havia me surpreendido realmente, não foram as armas, e sim o que dividia espaço com elas: dezenas de órgãos em potes dos mais variados tamamhos.

Eu estava começando a entender o que acontecia realmente naquela boate.

Aquilo era um esquema de tráfico muito maior do que eu supus.
-O que você está fazendo aí?!
Eu poderia reconhecer aquela voz em qualquer lugar.
A Vaca Loira.

Revenge: As CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora