Me levanto, tomo um banho, faço minha higiene e coloco uma roupa. Quando deço as escadas, escuto a voz do meu irmão e do meu pai. Eles estão discutindo. Me escondo e tento ouvir a conversa.
- Você não vai bater nela de novo. - disse meu irmão sério.
- Ela é minha filha. Faço o que eu quiser. - meu pai fala grosso.
- Se encostar nela novamente.... - meu irmão não termina. Escuto um barulho e entro na cozinha.
Meu irmão está no chão com o nariz sangrando, e meu pai olha para as próprias mãos como se não acreditasse no que fez.
- Isso, é para você aprender. - ele diz e sai andando para fora da casa.
Vou em direção ao meu irmão, boto ele sentado na cadeira da cozinha e procuro o kit de primeiros socorros. Quando acho, vou até ele, que resmunga algo enquanto eu tento limpar a ferida.
- Pare de se mexer! - eu digo sem paciência.
- Está doendo sabia?
- Você não devia ter feito isso. - eu digo baixo, mais ele escuta.
- Ah, então eu devia deixar ele continuar a te bater sem fazer nada? - ele pergunta e olha para mim incrédulo.
- Ele sempre bateu. Isso não vai mudar. - digo acabando o curativo.
- Vai sim. Por bem ou por mal. - ele fala e sai, me deixando sozinha.
(...)
Depois de um tempo, vou até a praça da cidade, onde marquei de encontar o Augusto. Quando chego, o vejo conversando com uma garota. Ela tem cabelos não muito longos ondulados, olhos castanhos e é um pouco alta. Não sei porque, não gostei disso. Vou andando até eles e o abraço.
- Oi. - eu digo sorrindo.
- Oi Bi, essa é a minha prima Anna. - ele fala e a garota sorri.
- Prazer. - ela diz e estende a mão.
- Prazer, pode me chamar de Bianca. - eu respondo apertando a mão dela.
- Bianca? Você é o que do meu primo? - pergunta curiosa.
- Minha melhor amiga. - ele responde e pisca pra mim.
- Ah sim, entendo. Bom, vou indo. Tchau primo, tchau Bianca, espero que sejamos amigas. - ela diz.
- Claro. Eu também. - eu digo e aceno quando ela vai embora.
- Tudo bem? - ele me pergunta.
- Sim. Meu irmão voltou. - eu digo sentando no banco.
- Sério? Que bom. - ele diz e senta ao meu lado.
- Não sei, ele e meu pai brigaram hoje.
- Não fica assim, provavelmente foi por uma besteira. - ele diz e me abraça.
Me bater é uma grande besteira, realmente.
- Vou comprar um sorvete. Você quer? - ele pergunta se levantando.
- Oque você acha?
- Ah, esqueci que você é gorda. - ele diz e nós rimos.
- Ah, cala boca. - eu digo e ele sai para comprar o sorvete.
Assim que ele sai, recebo uma ligação do meu pai.
Ligação on*
Eu: oi.
Pai: tenho que te falar uma coisa.
Eu: fala logo.
Pai: nós vamos nos mudar.
Eu: OQUE???
Pai: pois è. E isso não está em discussão.
Eu: VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!
Pai: tanto posso que já fiz. Nos mudamos em dois dias.
Eu: EU NÃO VOU!
Pai: você que pensa, a senhorita vai e está decidido.
Ligação off*
Ele desliga e me deixa sozinha com meus pensamentos. Vejo Augusto voltando. Dou uma desculpa e volto correndo para casa. Entro no meu quarto e começo a chorar.
Merda. Merda. Merda.
Uma vez, ouvi que quando você chora de tristeza, a primeira lágrima cai do lado esquerdo, e de felicidade cai do direito. Nunca acreditei nisso, até agora.
Senti um vazio enorme. Como ele podia fazer isso? Minha vida toda está aqui! Meus amigos, que eu tanto demorei para conseguir. Como eu poderia abandonar tudo isso? Depois de me perguntar todos os motivos possíveis pra minha vida estar sendo uma droga, me levanto e vou até minha gaveta.
Pego minha gilete e passo no meu antebraço, fazendo um corte grande. Sinto uma dor invadir meu corpo e meus pensamentos ficarem mais claros. Não me orgulhava disso. Sempre que fazia isso, me sentia patética, mas todos acham um jeito de passar a raiva e dor. Bom, o jeito não era muito convencional, apesar de ser mais comum do que as pessoas achavam.
Sim, eu me corto.
Comecei esse vício quando minha mãe morreu. Eu não via mais sentido na vida e resolvi acabar com tudo de uma vez. Peguei a gilete do meu pai e fiz cortes no meu braço. Não morri, mas passei a fazer isso sempre que me sentia sozinha. Por isso quase não mostrava meus braços, porque meus amigos poderiam descobrir e provavelmente me mandariam para o hospital. Não que eu não confiasse neles, mais meu medo de que eles me abandonassem se descobrissem e eu passasse a viver só com o monstro do meu pai, falava mais alto.
É preciso achar algo que te faça esquecer sua dor, antes que ela tome conta de você.
Lembrei da frase que minha mãe me disse um pouco antes de morrer. Pois é mãe, pelo menos esse conselho eu consegui seguir.
Depois de um tempo, acabei adormecendo.☀☀☀☀☀☀☀☀☀☀☀☀☀
Oi gente! Olha o terceiro capítulo bem grande para vocês, espero que gostem. Votem,comentem,divulguem e adicionem na biblioteca. Sugestões e dicas são bem vindas.
Abraços e até o próximo capítulo.❤
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Minha vida no papel
DiversosBianca tem 17 anos e mora com seu pai no Rio de Janeiro. Ela nunca foi a garota mais querida da escola, muito menos a mais desejada. Não tinha muitos amigos e era bastante excluída. Ela sempre pareceu forte para todos, pois não mostrava suas fraquez...