QUATRO

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- Oi, é o Liam. Payne. Liam Payne. Isso. Deixe o seu recado após o sinal e eu juro que responderei assim que eu puder.
- Ei, sou eu. Sim, eu estou na espera de poder te vencer pelo cansaço. Eu estou tentando te ligar há praticamente um mês, uma hora teremos que achar uma solução pra tudo isso, ok? Eu já pedi desculpas. Eu já fiz de tudo o que eu podia, Liam, mas não estou conseguindo ir em frente. Me desculpe se eu fico enchendo a sua caixa de mensagens, mas não há mais nada que eu possa fazer. Então, por favor, atenda a esse telefone e vamos conversar como dois adultos. Pelo amor de Deus.
O meu tempo para deixar a mensagem acabou justo no momento em que eu havia feito a minha ultima súplica.
Do balcão da cozinha, Louis me encarava com pena e raiva. Eu sabia o que ele pensava acerca de tudo isso. E apesar de não concordar com o fato de eu estar rastejando atrás de Liam, ele não tentava me parar.
Louis era meu melhor amigo, mas eu sabia do lado de quem ele estava em toda essa confusão.
Fora ele quem deixara Zayn entrar naquela fatídica vez em que eu perdera o controle do meu desejo mais uma vez e o deixara me amar da forma que ele quisera.
Depois de uma ligeira briga, onde ele assumiu que era partidário de Zayn, eu consegui convencer Louis de que aquela era a minha confusão e que se havia alguém que faria a escolha e consertaria, ou estragaria, tudo de uma vez por todas, essa seria eu.
Liam não me atendia. Eu não atendia Zayn. E assim os dias iam passando.
Eu não tinha condições de responder ao pedido explicito de Zayn para que eu lhe desse uma chance, enquanto eu não tivesse a mais completa certeza de que não havia mais nada entre Liam e eu.
Enquanto eu não ouvisse dos lábios dele que aquilo havia acabado de vez. Para sempre. Aí sim, eu poderia responder a Zayn.
Minha cabeça era um emaranhado de pensamentos e por isso, meu corpo começou a responder da pior forma à tudo isso. Tudo me cansava, nada parava no meu estômago e eu me sentia esmagada por um trator na maior parte do tempo.
Correr de paparazzis e evitar os telefonemas dos diversos jornalistas que queriam saber do termino do meu namoro de nada ajudavam a me sentir melhor.
- Enjoada de novo? - Louis perguntou, do outro lado do balcão, enquanto cozinhava uma sopa para mim. A única coisa que me alimentava e parecia parar no meu estômago.
- Um pouco - eu respondi enquanto olhava as mensagens no meu telefone. Dezenas de Zayn, algumas de Harry, mas nenhuma de Liam. - Acha que um dia ele vai entender?
- Já conversamos sobre isso, Mandy . - ele balançou a cabeça, parecendo um pai super protetor e voltou à sua tarefa culinária.
Nós dois havíamos combinado de que ele não deveria comentar nada sobre mim para os garotos e nem deles para mim, para que as coisas não ficassem ainda piores do que já estavam. Zayn e Liam estavam fazendo o possível para parecer que estava tudo sob controle, na frente das câmeras, mas nós sabíamos que a realidade era diferente e que os dois não estavam suportando nem ao menos ficar no mesmo cômodo.
- Eu sei, Louis, mas não posso evitar. Vamos ter que colocar um fim nisso, ou essa situação ficará ainda pior.
- Bem, pior do que está não pode ficar. - disse ele enquanto me trazia a pequena tigela de sopa, com todo o cuidado, e se sentava ao meu lado no sofá, me passando apenas um guardanapo.
Depois de namorar por tanto tempo com Liam, eu havia pego alguns de seus costumes. Um deles era tomar sopa diretamente na tigela, sem usar colher, objeto que Liam tinha pavor.
As pequenas coisas me lembravam dele, e a cada lembrança evocada, as coisas pareciam piores e mais difíceis.
- Eu sei. - tomei um grande gole da sopa, sentindo o enjôo dar uma abrandada.
- Não sabe. E como eu também só tenho suspeitas, eu... Bem, eu trouxe algo para você.
Louis parecia nervoso e isso não condizia com o estilo dele. Limpei meus lábios no guardanapo e o encarei, esperando para saber até onde o meu melhor amigo pretendia chegar. E então Louis Tomlinson retirou uma caixinha cor de rosa do seu bolso de trás, passando-a para mim.
Um teste de gravidez.
Oh! Por que eu não havia pensado nisso antes?
Se era óbvio até mesmo para Louis, por que não era para mim?
Era óbvio. Os enjôos, os cansaços. Oh, tudo fazia o mais completo sentido agora.
Parei para avaliar a situação por inteiro e notei que, realmente, a minha menstruação estava um pouco atrasada. Mas com todo o alvoroço pelo qual eu estava passando, essa era a última coisa que eu estava pensando.
Meus dedos fizeram uma conta rápida e o meu desespero pareceu dobrar de tamanho.
Se eu estivesse certa, eu estava há um mês sem menstruar. Pouco mais ou pouco menos que isso. E há um mês atrás, eu havia me relacionado intimamente e sem camisinha com apenas dois caras.
Por que as coisas não poderiam ser fáceis para mim?
- Será?
- Só poderemos ter certeza depois que você fizer o teste?
- E se o pai for o Liam? E se o pai for o Zayn? Oh, Louis... - eu ia começar a chorar, mas o meu melhor amigo retirou a tigela de sopa da minha mão, colocando-a na mesa de centro, me levantando e com um carinho suave na minha mão que não segurava mais a tigela, ele me deu o apoio que eu precisava para me levantar e ir até o banheiro.
As instruções eram simples. As segui metodicamente e me sentei na privada tampada, olhando para o pequeno aparelho, esperando o momento em que as linhas apareceriam. Uma, grávida. Duas, livre.
Os pensamentos que pareciam sempre zunir na minha cabeça, naquele momento estavam ainda piores. O que fazer se eu estivesse grávida, quem seria o pai, e como eu contaria para um que estava grávida de outro. Tudo girava. Vomitei pelo menos duas vezes durante os quinze minutos de espera.
Louis estava do lado de fora do banheiro, me deixando ter o meu momento e por mais que eu precisasse de Louis para segurar a minha mão em um momento tão crítico, eu sabia que aquilo era algo que eu tinha de enfrentar sozinha.
Eu havia feito a confusão, eu sairia dela.
O meu celular apitou, indicando que os quinze minutos haviam se passado. Agora era a hora.
Respirei fundo e encarei o pequeno aparelho branco.
As lágrimas escorriam dos meus olhos e talvez o som dos meus soluços foram o que deram a liberdade para que Louis abrisse a porta do banheiro, me pegando em seus braços, abraçando-me com toda a sua força, depois de encarar o que mostrava o objeto em cima da pia.
Uma linha.
Uma maldita linha.
E a confusão que já estava irremediável ficara pior ainda.

Louis passara grande parte da noite daquela maneira: abraçando-me apertado enquanto as minhas lágrimas não paravam de cair.
O sol já se pusera, o dia já findara, e ali estávamos nós, deitados no sofá, abraçados, em silencio, tensos e chorosos. Eu de tensão, e o meu amigo, ao que parecia, de emoção ao ter mais um bebê para mimar como ele mimara Lux.
Meu corpo ainda estava sendo abalado por soluços e eu não conseguia mais ter pensamentos coerentes. Tudo se misturara. O medo, a confusão e o apego instantâneo que eu sentia pela vida dentro de mim.
- Fique calma, Mandy , isso vai desaparecer alguma hora. Vai ficar tudo bem. - Louis bocejou, sem me soltar, mas eu sabia que ele estava cansado. Como meu melhor amigo, as coisas estavam realmente turbulentas para ele, nos últimos dias. Liam e Zayn eram seus melhores amigos, assim como eu era. E ele tinha que lidar com nós três e esses nós que havíamos dado em nossas vidas.
E aquele dia havia sido um dos mais exaustivos para mim, desde que tudo acontecera. Saber que as coisas estavam ainda pior do que eu imaginava me deixara exausta e sem forças. E me apoiar incondicionalmente devia ser tão difícil quanto para Louis.
Desaparecer.
A palavra ficou na minha mente. A respiração de Louis ficou estável, denunciando que ele havia dormido e a palavra ainda martelou dentro de mim.
Foi como um click e, subitamente, eu sabia exatamente o que eu deveria fazer.
As roupas voavam de meu armário para dentro da mala em cima da cama. De dois em dois minutos eu colocava a cabeça para fora do quarto, checando se Louis ainda estava dormindo. O que ele realmente fazia. A mala não era grande, nem metade das minhas coisas cabiam ali, mas era grande parte do que eu levara para a casa de Louis depois da separação de Liam.
A casa estava em silêncio quando a atravessei. Apenas a respiração de Louis podia ser ouvida e mesmo sabendo que poderia acordá-lo com aquele gesto, eu beijei a sua testa, afastando a sua longa franja castanha para fazê-lo.
O local não estava infestado de paparazzis. Graças a Deus.
Ninguém sabia que eu estava ali, então não havia nenhum motivo específico para que eles montassem acampamento na casa de Louis Tomlinson, que andava quieto para a mídia ultimamente.
Liam era o alvo deles, assim como eu.
Um taxi passou por mim e eu acenei, sentando-me no banco de trás, com a minha mala e uma porção de sentimentos com os quais eu não sabia lidar.
- Para onde? - o educado motorista perguntou e o sotaque dele despertou algo em mim. Wolverhampton. O mesmo lugar de onde Liam viera.
A palavra "aeroporto" brincou nos meus lábios, mas ao invés disso, tudo o que eu fui capaz de dizer foi o endereço de Liam.


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