DOZE

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A luz do sol estava me incomodando e meu corpo dolorido não me permitiu espreguiçar como eu gostaria de ter feito.
A atividade física intensa da noite anterior havia me feito incrivelmente dolorida, mas deliciosamente satisfeita. Apenas de pensar no que havia acontecido, meu corpo se enchia de desejo e mesmo com todo o desconforto, eu queria de novo. Os corpos que tanto me deram prazer não estavam ao meu lado e isso me fez olhar ao redor, assustada, já tirando conclusões absurdas.
Levantei-me com pressa e me enrolei em um lençol, sem tempo para me vestir mais propriamente. Deus, só o que me faltava era que os dois estivessem brigando novamente. O meu plano para ter os dois então teria ido por água abaixo.
Porém, não foram gritos e resmungos que ouvi, foram sons estranhos, como ferramentas ou algo do gênero e assim, me virei para o pequeno quarto que eu e os meus parceiros havíamos decidido transformar no quarto da criança.
Silenciosamente, me aproximei do quarto, observando boquiaberta que os dois estavam, um em cada canto do quarto, montando o local para a chegada do nosso filho.
Zayn estava na parede, com um pincel delicado, pintando um grande mural na parede oposta aonde Liam montava o berço branco e rústico que Louis havia dado de presente assim que soube que os dois viriam morar comigo.
Sem camisa, o peito de Zayn estava cheio de respingos de tinta, mas mesmo sendo o vaidoso que eu sempre soube que ele era, naquele momento ele não parecia se importar, ocupado demais na sua tarefa de pintar com tinta branca na parede que ele já havia pintado de azul turquesa, assim como todo o quarto. Aproximei-me, tentando entender o que exatamente ele estava pintando ali e notei que não eram exatamente desenhos que ele rascunhava na parede, mas palavras, entremeadas por algumas ilustrações, mas em sua maioria palavras, escritas na caligrafia elegante de Zayn, formando uma poesia.
Liam parecia estar lidando bem com a tarefa de montar o berço e parecia ter começado a tarefa há pouco. Ao seu lado estavam várias figuras de personagens da Disney, penduradas por contas brancas, formando um móbile lindo e criativo. Eu poderia ter jurado que ele comprara aquela peça, mas a enorme quantidade de fios e contas ao seu redor me mostravam que ele mesmo o fizera, usando a sua própria criatividade e o seu próprio empenho para criar algo único e especial para o nosso filho que nem sequer nascera.
Naquele momento não importava se mesmo depois de todo o seu empenho, um deles não seria o pai. Ambos estavam apegados demais com a idéia de ter um filho, de poder, desde aquele momento, dar o seu melhor por ele. Agradá-lo, mesmo que ele ainda não houvesse nascido ainda, mesmo que ele não fosse o seu verdadeiro pai.
Estava claro, naquele instante, que a paternidade não faria diferença na quantidade de amor empregada, que o que quer que o exame de DNA revelasse, não mudaria os sentimentos de nenhum dos dois ali.
Ambos estavam imersos em seus próprios mundos, Zayn pintava tão concentradamente, enquanto sussurrava a letra de alguma canção que eu não conseguia ouvir e Liam nem ao menos o fazia, preocupado em ler corretamente o manual de instruções aos pés enquanto montava o berço.
Nenhum deles nem sequer percebera a minha presença, mas eu não me importei. Havia sentido a presença deles bem demais na noite passada, incontáveis vezes, das melhores maneiras possíveis. Eu deixaria que os dois continuassem se ocupando com o quarto e iria tomar um banho.
Mas quando me virei para sair do quarto, Liam me notou.
- Ei, Mandy , venha ver nosso trabalho. - ele se levantou de uma vez e correu até mim, estendendo a mão para que eu a segurasse e pudesse entrar no quarto que tinha o chão forrado com plástico para que a tinta das paredes não estragasse o carpete. - Eu fiz isso para o nosso menino, ou para a nossa Princesinha.
Liam ergueu o móbile bem alto e assoprou-o fazendo as figuras se moverem e conforme se moviam, faziam um som delicado e hipnótico que dava sono e me fazia sorrir como uma boba ao imaginar a minha pequena criança deitada no berço, observando as figuras se moverem como eu fazia naquele momento, rindo de leve com o som que faziam.
- É adorável, Liam. Muito obrigada.
- Ah, mas espere até ver o que Zayn fez.
Os braços fortes de Liam me viraram, fazendo com que meu corpo estivesse bem de frente para a parede que Zayn havia pintado tão cuidadosamente.
- Eu escrevi... - ele disse parecendo envergonhado, mordendo os lábios antes de continuar - um poema para ele... ou para ela. Acha que quando ela nascer, ou ele, não sei, gostará?
Eu sorri sentindo as lágrimas escorrerem dos meus olhos enquanto eu admirava a poesia na parede, escrita pelo próprio Zayn.
- É a minha melhor criação. - ele sorriu, encarando a minha barriga, e eu soube que não estávamos falando da poesia, ele estava delicadamente me dando uma indireta, avisando que ele tinha certeza de que era o pai. E nada do que eu dissesse poderia mudar a sua cabeça.
Aproximei-me, dois passos, para que eu pudesse ler melhor o que dizia na parede e senti as lágrimas ainda mais correntes em meu rosto.
- Não tema, pois eu segurarei a sua mão/ e enfrentarei contigo toda tempestade e escuridão/Por toda a vida eu te amarei/juro que daqui para sempre darei meu máximo em te proteger/E não haverá ninguém...
Faltava um linha. Isso era nítido e sabendo que aquele não era o fim do poema, encarei Zayn esperando que ele me dissesse como aquela linda criação terminava.
Ele abaixou a cabeça, pensando bem antes de continuar, mas encarou-me no fundo dos olhos, me deixando cair na magia dos seus olhos doces e escuros.
- ...Que poderá dizer que eu não te amei ao infinito e além.
E então ele sorriu, fazendo com que as lágrimas escorressem mais uma vez.
- Isso foi lindo.
- Isso foi apenas o começo.
Zayn me encarava com intensidade e Liam entendeu a indireta tão bem quanto eu.
Prova disso foram seus braços me rodeando, puxando o meu corpo para frente do seu e deixando que suas mãos enormes deslizassem pela lateral do meu corpo até chegar ao meu ventre, através do tecido fino do lençol, acariciando protetoramente e com um carinho que me emocionou.
Droga, meus hormônios já estavam em ebulição e com Zayn e Liam me emocionando daquela maneira, não havia como controlar as lágrimas.
Atrás de mim, Liam encarava Zayn. Ele dissera o que queria, mas recebera uma resposta à altura. Eles estavam se desafiando como se tudo o que tivesse acontecido na noite anterior fosse apenas coisa da minha cabeça. Como se a cena dos dois naquele quarto, criando o quarto perfeito para o nosso filho fosse algo que eu somente tivesse imaginado.
Como eu pudera ser tão iludida na noite passada, acreditando que eu poderia ter os dois ao mesmo tempo? Não havia como ter a ambos.
A escolha teria de ser feita.
Por sorte, antes que eu pudesse fazer algo para acabar com o clima que se acometera no quarto recém pintado, o meu celular tocou, na sala, fazendo com que eu me desvencilhasse de Liam e corresse para atender e voltar, o mais rápido possível, antes que os dois pudessem começar a brigar de modo mais físico.
- Alô?
- Ei, queridinha, hora de parar de se aproveitar dos corpos dos meus amigos e liberá-los pro ensaio.
- O quê?
- Eles tem de estar aqui no estúdio em uma hora. Ordens do Simon.
- Ok, eu darei o recado. - avisei e escutei as risadinhas perversas de Louis. Era óbvio que mesmo sem que eu tivesse lhe contado sobre o que acontecera na noite anterior, ele já sabia. Louis me conhecia melhor do que qualquer pessoa no mundo e parecia ter um sexto sentido que o alertava sobre tudo o que tinha relação comigo. Devia ser coisa de melhor amigo.
- E sem beijos de despedida, Mandy , ou eles não sairão daí hoje! - antes que eu pudesse rebater, escutei o som que indicava que Louis desligara o telefone na minha cara. Maldito.
Voltei para o quarto, ainda enrolada no lençol, preocupada com o silêncio que os dois mantinham no quarto e os encontrei do mesmo jeito, se encarando, mas dessa vez com ainda mais firmeza, como se coisas que eu jamais saberia, e talvez nem devesse saber, houvessem sido ditas.
- Era o Louis, ele disse que vocês têm de estar no estúdio em uma hora, foi o Simon quem mandou.
- Certo. - Liam disse, nem sequer olhando para mim, que ainda estava na porta, apoiada, pronta para entrar no meio de qualquer briga que os dois arranjassem. As suas palavras saídas por entre os dentes, demonstrando o seu desagrado e Zayn não deixava por menos, com uma sobrancelha erguida de maneira irônica e os braços cruzados na frente do peito nu.
Esperei para saber qual dos dois sairia daquela estúpida disputa de olhares e me surpreendi quando Zayn puxou uma camisa que estava pendurada na escada e, calmamente, ignorando o clima tenso da sala, começou a vesti-la.
Quando estava devidamente vestido, ele saiu do quarto, parando na porta, onde eu estava e me lançou um de seus sorrisos mais maliciosos e provocativos. E como se para provar que era realmente mau o suficiente, Zayn segurou meu queixo, erguendo-o, e depositou um leve beijo em meus lábios.
Zayn tomou o caminho do meu quarto, indo se preparar para sair e me virei para Liam, que ainda parecia zangado, me fazendo comparar aquele Liam com o doce e passivo homem que eu conhecera há três anos. Eram a mesma pessoa, mas com uma essência completamente diferente. E eu era a culpada disso.
- E se eu não for o pai, Mandy ?
- Eu não sei.
E aquela era a verdade. Desde que tudo acontecera, desde que eu entrara no apartamento de Zayn, a minha única certeza era de que eu não sabia de nada. Em certos momentos eu acreditava que eu estava seguindo o rumo correto, mas no outro tudo se desmoronava e eu era ignorante novamente. Eu não sabia de nada.
- Eu amarei essa criança com a minha vida. Ela nem sequer nasceu e ela já significa tudo para mim. Pensar que... - Liam ergueu os olhos do chão e me encarou, e ali eu vi o Velho Liam Payne. A maneira como seus olhos castanhos brilhavam doces e carinhosos, perdidos naquele momento, mas doces. - pensar que esse bebê pode não ser meu me faz mal. Não quero pensar nisso, mas com Zayn mostrando que pode ser um pai tão bom quanto eu jamais serei me faz pensar nisso. E se ele for o pai? E se você o escolher?
- Eu sinto muito por tudo isso, Liam. Não era o que eu queria.
- Mas é o que está acontecendo.
Liam caminhou até mim e me puxou novamente para o seu abraço, sem se importar com o fato de eu ainda estar com o lençol enrolado no corpo, sem se importar com o fato de Zayn estava no quarto ao lado, ele só queria me abraçar. E eu percebi que naquele momento abraça-lo era o que eu mais queria, também.
- Eu quero ficar com você. Vamos esquecer tudo o que aconteceu, Mandy . Vamos começar de novo, diga ao Zayn que você se decidiu. Eu poderei cuidar de vocês dois, de você e dessa criança. - ele sussurrou, urgente, contra os meus cabelos enquanto beijava o topo da minha cabeça.
- Mas, Liam...
- Mesmo que ele não seja meu filho, eu o amarei incondicionalmente. Me dê uma chance, Mandy , apenas uma chance.
- Vamos, Liam?
A voz de Zayn chamou nossa atenção, fazendo com que eu e Liam nos afastássemos e Liam nem sequer foi se arrumar para que pudesse seguir o companheiro de banda para o estúdio. O vaidoso era Zayn.
A tarefa de abrir a porta coube ao mais velho e ele sorriu para mim com a malícia de sempre, até mesmo mordendo o seu lábio inferior, antes de desaparecer. Liam segurou a porta, me encarando antes de sussurrar com a sua voz grave.
- Apenas pense no que eu disse, ok?
Eu assenti e ele fechou a porta atrás de si, me deixando sozinha no pequeno apartamento, com a cabeça cheia de pensamentos conflitantes e com o coração ainda mais apertado.
Qual seria a minha escolha?

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