DEZESSETE

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Liam Payne

A casa estava silenciosa. Não havia o menor sinal de Mandy , por isso eu supus que ela estivesse com Louis, como era antes de toda essa confusão acontecer. Ele sempre fora o melhor amigo dela e, como eu tinha a mais plena certeza de que ele seria o padrinho do nosso filho, eles deveriam estar andando pelo shopping procurando coisas legais para o nosso bebê.

Nosso.
A palavra me fez lembrar automaticamente de Zayn e eu tive de fechar os olhos, irritado.
Mas irritação não era o único sentimento que me dominava. Eu não conseguia parar de me preocupar com Zayn. De pensar em como ele estava, se estava se sentindo sozinho, se me odiava por estar com a mulher de seus sonhos, se estava finalmente compreendendo que eu estava fazendo aquilo para o nosso próprio bem, porque eu o amava, tanto como eu amava Mandy , e aquele era o certo para ele, para ela, e se era o certo para os dois, sempre seria o melhor para mim. Eu precisava saber como Zayn estava.
Ainda que ele me odiasse, eu jamais deixaria de me preocupar com o meu melhor amigo.
Peguei de volta as chaves do carro, decidido a conversar com Zayn como os dois homens que realmente éramos. Eu estava cansado de tentar ser o vilão da história, fingindo que eu não estava sentindo nada, me fazendo de malvado e sarcástico, quando, na verdade, eu estava dando o meu melhor para fingir ser algo que eu jamais poderia ser pelo bem das duas pessoas que eu mais amava no mundo.
Que, muito em breve, teria uma pequena adição.
E apenas em pensar em Mandy e nosso filho, meu coração se encheu de ternura e de certeza de que eu estava fazendo a coisa certa. Eu era capaz de proteger Mandy e a criança, não só do mundo cruel lá fora, mas de todas as coisas que poderiam atingi-la caso ela desse voz ao seu coração e escolhesse Zayn.
Eu queria tornar as coisas o mais simples possíveis para ela. Porque eu a amava.
Talvez eu não tivesse demonstrado isso quando eu tivera chance. E fora justamente por isso que eu a perdera e entráramos naquela situação que parecia cada dia mais catastrófica, Eu estava dando o meu melhor, naquele momento, para compensar a minha antiga ausência.
Antes, eu tinha de me dividir e desdobrar para dar o meu melhor para os empresários, para os meus amigos, para a minha família, para a mídia, para os fãs e para mim mesmo. A pressão era tanta que por diversas vezes, eu esqueci de dar atenção para o que eu tinha de mais importante: Mandy .
Mas nem por um só segundo isso significaria que eu a amava menos. Nas turnês, eu ficava angustiado, sentindo a falta dela, esperando por qualquer chance que eu tivesse de poder ligar, mandar uma mensagem ou qualquer coisa que me permitisse sentir que ela ainda era minha.
Mandy era linda demais e eu me considerava um sortudo da maior classe por tê-la apenas para mim, mesmo quando todos os outros a queriam, eu era aquele que ela amava e isso me deixava tão contente que eu me achava no direito de fazer vista grossa para diversas coisas.
E uma delas era atração que Zayn sentia pela minha namorada.
Eu sempre soubera que ele sentia alguma coisa por Mandy . Mas eu ignorava, fingia que era uma coisa normal, Mandy era uma mulher linda e especial, era comum que as pessoas a notassem e quisessem um pouco dela para si mesmos. Afinal, eu até mesmo achava que Louis tinha alguns sentimentos por ela, também, mascarados, porém eu tinha certeza de que ele tinha o seu amor escondido por ela.
Zayn foi além. Ele se deixou levar e talvez tenha sido isso o que o deixou ainda mais apaixonado. Quase como se ele tivesse provado o néctar dos Deuses e agora fizesse o possível e o impossível para voltar ao reino dos céus. E eu não o poderia culpar.
Entretanto, eu ainda me lembrava de vê-lo na cozinha, com Mandy , afogueada pela bebida e parecendo tão lasciva como eu jamais a havia visto. Aquilo me excitou de uma maneira nova, um ódio misturado com tesão circulava pelas minhas veias e tudo o que eu queria era socar Zayn por estar com as suas mãos em cima da minha garota, ao mesmo tempo em que eu me sentia enrijecer ao pensamento de descontar a minha raiva no corpo de Mandy , da forma mais selvagem possível, deixando marcas, tomando tudo. A fazendo saber quem era o seu homem e a quem ela deveria ser fiel.
Ainda hoje, quando eu lembrava daquele momento, eu sentia vontade de fazer de novo, de segurar os cabelos de Mandy e a foder, com o perdão da palavra, na escada. Da mesma forma. Talvez mais voraz.
O trânsito colaborou comigo e quando estacionei no amplo estacionamento no subsolo do prédio de Zayn, notei um carro bem parecido com o do Louis na vaga reservada à Zayn, mas não dei tanta importância assim ao fato. Em minha cabeça, eu repassava todos os tópicos da conversa que eu teria com Zayn.
Eu não tinha o direito de lhe pedir aquilo, mas eu queria o meu amigo de volta. De uma forma, ou de outra, eu queria que ele participasse da vida da criança, eu entendia que ele já devia ter se apegado à ela da mesma forma que eu estava nutrindo um amor inexplicável por algo que eu nem sequer conhecia.
Zayn entenderia. Ele teria de entender que eu estava agindo daquela forma porque eu o amava e desejava o melhor para ele. Ele não era burro, ao ouvir meus argumentos, ele reconheceria que o meu ponto de vista em proteger a ele e à Mandy era o correto.
O elevador parou no andar correto de maneira silenciosa. Zayn não tinha o costume de trancar a sua porta da frente, sempre confiando no fato de seu prédio ser protegido pelos melhores seguranças do país. Por isso não me preocupei em bater à porta.
Eu queria vê-lo sem máscaras, queria saber como ele estava realmente. Tocar a campainha, lhe daria a oportunidade de me ver pelo olho mágico da porta e tentar se recompor, assumir o seu personagem misterioso que sempre assumia com as fãs ou quando queria fugir de alguma coisa. E eu não queria que isso acontecesse. Eu queria conversar com Zayn, o meu melhor amigo, o bobo risonho e de coração mole que sempre.
E qual não foi a minha surpresa quando o vi ajoelhado no chão, na frente de uma chorosa Mandy que o olhava com uma adoração dolorida demais para eu suportar.
Dessa vez não foi ódio que circulou pelas minhas ventas. Foi amor.
- Mas eu aceitarei a sua despedida. - a voz dele era entremeada de algo amargo e doloroso que fez com que eu me sentisse da mesma forma. Quase culpado por ter sido o escolhido ao invés dele, ainda que eu estivesse plenamente convencido de que aquela era a atitude correta que eu deveria tomar. - Aceitarei tudo o que possa me dar hoje, porque sei que amanhã eu não terei mais você. Não terei mais nada.
Ele não conseguia enxergar a realidade. Ele não via o futuro. O pensamento de Zayn estava focado no agora, no fato de que ele não teria Mandy , de que não seria o pai daquela criança.
Apenas nisso.
Seus lábios se ergueram para os de Mandy com delicadeza, sentindo a maciez que eu conhecia de cor, sentindo o gosto que estava impregnado em mim. Sentindo o que nos pertencia.
Era irracional da minha parte pensar que Mandy era apenas minha, agora. Ela não estava mais apaixonada apenas por mim, a maneira como seus olhares se perdiam na escuridão do nosso apartamento, tentando me dar o máximo de atenção, mas sempre voltando a pensar em Zayn e no que ele estava fazendo.
Sim, nós tivemos nossas discussões, nossas brigas e desavenças, mas essa era a minha
forma de dizer que ele era meu amigo, que eu discordava dele, mas que jamais o deixaria de apoiar.
- Eu te amo, Mandy . Amo demais.
E eu amava os dois.
Essa era a minha justificativa. Era por isso que eu estava ali, escondido atrás da parede do hall, observando as mãos de Zayn correrem ansiosas pelo corpo de Mandy enquanto a cabeça dela pendia para trás, aproveitando-se do momento. O seu último momento com Zayn.
- Por que não me escolheu? Por quê?
A pergunta foi feita com a voz mais dolorida que Zayn era capaz de imprimir em algumas poucas palavras e Mandy olhou em seus olhos enquanto pensava em uma resposta boa o suficiente para aquela pergunta. Uma que justificasse todos os seus meios e fins.
Os olhos dela se estreitaram e ela me viu, ainda que eu estivesse parcialmente oculto, os olhos dela se focaram nos meus, firmes.
- Porque meu coração jamais seria capaz de decidir entre um de vocês. Deixei então que minha cabeça fizesse a escolha certa.
- Por quê? - ele ainda não havia desistido.
- Porque esse é o melhor para todos nós. - eu saí do meu esconderijo e deixei que agora Zayn notasse a minha presença. - Eu não quero que você arrisque tudo o que você demorou tanto para conseguir, Zayn. Não posso deixar. Eu sei como você se sente e eu sinto muito.
- Não, você não sabe como eu me sinto. Você tem Mandy e o nosso filho, não pode saber como é.
Zayn deu diversos passos para trás, se afastando de mim, me deixando machucado com a sua atitude. Eu estava tentando o meu melhor, mas eu acreditava que isso não me levaria a nada.
- Zayn, tente entender...
- Você tem a garota, o filho, um futuro com os dois, tudo. Para que veio aqui, Liam? Para jogar na minha cara que você tem tudo o que eu quero e não posso ter?
- Estou aqui para tentar te fazer entender, Zayn. - respondi com toda a calma e sinceridade.
- Não há nada para entender aqui.
- Zayn... - Mandy tentou, mas ele lhe lançou um olhar triste que fez com que ela continuasse no mesmo lugar, calada. Poderíamos dizer o que quiséssemos que não teria nenhum efeito. - Por favor... só... vão embora. Eu já aceitei minha derrota, me deixem sozinho agora.
Mandy não se agüentou mais e pulou nos braços dele, sendo envolvida em um abraço forte e cheio de sentimentos não ditos.
Ela se colocou de lado, quando o abraço findou e me olhou daquela sua maneira maternal, que me fazia ter certeza da boa mãe que ela seria e com certeza Zayn pensava o mesmo enquanto a observava.
Não esperei que ele me confirmasse se eu deveria ou não fazer aquilo. Eu precisava. E talvez ele também.
Isso explicava porque os seus braços se apertaram ao meu redor com tanta força. Explicava porque meus olhos se fecharam, tentando não derramar nenhuma lágrima. Porque eu me desfiz de ver da máscara de homem mau e insensível que eu vinha usando desde a traição. Eu amava os dois e o bem deles era a única coisa que me importava.
- Sinto muito, cara. - eu sussurrei.
- A vida é um jogo, alguém tem de perder para que alguém possa ganhar.
Essa foi a resposta dele e foi o que martelou a minha mente enquanto ele se virava de costas, não querendo nos ver mais, preparando o seu coração para a difícil tarefa de nos apagar dele. Naquele momento eu sabia que a nossa amizade estava perdida. Era o preço que eu teria de pagar para mantê-lo bem e intacto? Se era, então eu o pagaria de bom grado.
Mandy estendeu a sua mão para mim, enquanto a outra pousava em sua barriga, suavemente. Era o fim.
Saímos do apartamento em silêncio. Cada um com as suas próprias reminiscências e no estacionamento, ela parou ao lado do carro de Louis e me deu um abraço quase tão forte quanto o que Zayn havia recebido e, mesmo confuso, eu o retribuí como ela esperava: forte e apaixonadamente.
Pelo meu entender, ela voltaria para casa com Louis e eu deveria ir com o meu carro. Era por isso que ela estava parada ali, sob o olhar curioso de Louis que provavelmente não me vira chegar e acreditava que eu deveria estar furioso com ele por ter trago Mandy para se despedir de Zayn.
Eu sabia que ele não era meu fã número um por não ter dado a devida atenção para Mandy antes de tudo aquilo, mas eu estava me redimindo. E esperava que ele visse meu esforço e lhe desse um pouco de crédito.
Depois de ver Mandy entrando no carro, fiz o mesmo no meu e dei partida, seguindo pelo meu conhecido caminho de volta para nosso apartamento.
Talvez a adrenalina e confusão do momento que acabáramos de partilhar tenham me feito raciocinar mais devagar, mas eu não percebi que Mandy não estava atrás de mim, enquanto eu seguia de volta para casa.
Não notei que ela estava fugindo até chegar em casa e esperar por mais de 10 minutos pela sua volta.
Foi quando puxei o celular do bolso, pronto para ligar e perguntar onde ela e Louis estavam quando recebi a mensagem que me fez repensar tudo o que Zayn havia dito.
"Sinto muito, mas não posso deixar que as coisas continuem assim. Não é justo escolher entre vocês, não quando eu os amo igualmente. Fique bem e cuide de Zayn por mim. Xx Mandy " Eu sabia sim o que Zayn sentia. A dor, a falta, a incapacidade, o sentimento de não ter o que você tanto lutou para ter e vê, a cada segundo mais, escapar da sua mão.
A vida era um jogo, ele dissera, alguém tinha de perder para outro ganhar.
Então que Deus me apontasse quem estava ganhando naquele momento, porque o perdedor eu mesmo era capaz de apontar.
O perdedor era eu.


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