NOVE

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O som me era tão familiar que eu nem sequer me levantei da cama para apurar o que estava acontecendo. Era tão natural ouvir os vizinhos brigando que eu nem me importava mais.
Mesmo com o sol ainda começando a despontar no horizonte, eles já haviam começado mais uma discussão. Normal. Eu já estava começando a ficar habituada com aquilo.
Noite passada eu dera um mínimo de troco, transando com Liam na parede.
E de repente foi como se os gritos finalmente ficassem claros para mim.
Eles estavam abafados não porque haviam uma parede me separando deles, e sim porque as duas pessoas que gritavam uma com a outra estavam tentando fazer o mínimo de ruído possível mas o ódio não permitia.
Não eram os meus vizinhos que gritavam um com o outro. Eram Zayn e Liam.
Enrolei meu corpo ainda nu em um lençol que arranquei às pressas da cama e corri para perto da porta de acesso à sala, onde os dois membros do One Direction estavam parados, se encarando, no momento, prontos para partir para agressão física se fosse necessário.
- Eu avisei, Zayn. Fique longe dela.
- Se você se importasse mesmo, Payne, ela não teria me procurado da primeira vez. E ela não teria se deixado seduzir da segunda.
O silencio reinou novamente na sala e eu estiquei o pescoço, tentando ver o que estava acontecendo. Liam estava a centímetros de Zayn e eu podia sentia a tensão no ar de uma forma palpável.
- Ela vai ficar comigo. Não importa o que você tente. Ela me ama.
- Por que não deixa que ela mesmo responda se isso é verdade ou não? - Zayn propôs com um sorriso totalmente maldoso. - Sexo e um bichinho de pelúcia não vão ser o suficiente para mantê-la ao seu lado.
- Você não sabe... - Liam ia gritar, mas voltou atrás, sussurrando ameaçadoramente para não me acordar, sem saber que eu já estava acordada e ouvia tudo o que eles diziam. - não sabe o que está falando.
- Não? Liam, você deu mais importância para qualquer coisa que não fosse Mandy e ela esteve ali, tentando ter a sua atenção. Tentando te mostrar que ela te amava e que precisava de um pouco mais de tempo com você.
- O filho é meu, Zayn. Não tem nada para você aqui.
- Será? - as sobrancelhas de Zayn se ergueram, dando ainda mais sarcasmo às suas palavras. Eu estava com medo de que eles pudessem se tornar físicos e entrarem numa real briga de socos, por isso saí do meu esconderijo e adentrei a sala, fazendo os dois homens pararem de se encarar e se voltarem para mim, nervosos.
- Mandy ... - os dois disseram ao mesmo tempo e eu ergui a mão, impedindo que qualquer um dos dois continuasse o que quer que tivessem a dizer.
- O que você está fazendo aqui, Zayn? - perguntei, me virando primeiro ao moreno à minha esquerda que estava me encarando com delicadeza.
- Passei para verificar se estava tudo bem com você e o bebê. Saber se precisavam de alguma coisa.
Sorri genuinamente. Zayn estava levando à sério a tarefa de ser um bom pai, mas havia Liam e outros diversos poréns naquela situação.
- E você, Liam? - foi a vez de me virar para a direita, vendo o sorriso convencido no rosto dele ao confessar que ainda não havia voltado para casa, da noite anterior, sentindo um prazer pessoal quando viu a careta que Zayn fez ao saber da informação.
- Com ciúmes, Malik?
- Não se garantiu com palavras e teve que usar outros métodos de persuasão? Eu esperava mais de você, Payne.
Os dois voltaram a se encarar com poucos centímetros de distância entre eles e somente depois que eu pigarreei, ele se afastaram, tomando alguns passos de distancia um do outro, mas deixando bem claro que estavam prontos para a ação física, se fosse necessário.
Droga, não era assim que deveria ser.
Por que as coisas tinham de ser tão mais complicadas para mim?
- Eu odeio que isso esteja acontecendo. Sinto muito aos dois. Eu não queria destruir a amizade de vocês e nem colocar nenhum de nós três nessa situação. Mas aconteceu e infelizmente precisamos dar um jeito.
- Sim, você vêm morar comigo e está tudo resolvido.
Liam avançou com os punhos para cima, pronto para acertá-los na face de Zayn e eu não esperei nem um segundo sequer para entrar em sua frente, impedindo que ele concluísse o que tinha em mente.
- Não tem nada resolvido aqui. De lado nenhum. - eu disse.
Puxei o lençol mais para cima, impedindo que qualquer um dos dois visse mais do que devia, mesmo que já tivessem visto bastante em outras ocasiões.
- Se esse filho for meu... - Liam começou e foi cortado por mim.
- Eu não sei quem é o pai dessa criança e antes mesmo que comecem a brigar, quero que saibam que eu vou criá-la sozinha e que agradeço o apoio de vocês, mas eu estou ótima dessa maneira.
- O quê?
- Como assim? Está louca? Você mora de aluguel na periferia, está trabalhando num café de segunda classe, está se alimentando mal e ainda acha que pode dar conta sozinha?
Liam não queria dar o braço a torcer, mas lançou um rápido olhar para Zayn concordando com o que ele dizia. Ambos não estavam de acordo com o meu novo estilo de vida. E eu não poderia estar me importando menos para o que eles pensavam.
Desde que eu começara a namorar Liam, a coisa que mais irritava em todo esse mundo de popstar mundialmente famoso era o fato de que Liam achava que isso era razão o suficiente para que ele gastasse montes de dinheiro comigo.
Sapatos, bolsas e até mesmo um carro, me foram dados de presentes. Talvez uma forma que Liam tinha encontrado de fazer a culpa de não estar 100% presente comigo doer menos intensamente. Mas eu não estava com ele pelo dinheiro ou pela fama. Eu estive com Liam por todo aquele tempo porque eu o conhecia. Eu sabia o homem encantador e gentil que Liam era. O cara engraçado que cantava Nicki Minaj no chuveiro. O companheiro que fazia compressas de água morna em minha barriga quando eu sentia cólica.
Não tinha nada a ver com dinheiro. Nunca teve.
E aquela era a minha chance de mostrar para mim mesma que eu podia me virar sem a ajuda de ninguém. Pela primeira vez na minha vida. Eu tinha um trabalho, um apartamento e estava cuidando de tudo muito bem. E se a minha geladeira estava vazia era porque eu estava comendo muito e não tinha tempo de abastecê-la novamente, e não porque não tinha dinheiro ou comida.
- Eu estou bem, obrigada. - afirmei.
- Não está. Precisa de cuidados. E essa criança precisa de um pai. Por mais que você não queira que eu... - Liam começou e ante um olhar firme e persuasivo de Zayn, completou - ou Zayn, façamos parte da sua vida, esse bebê não pode crescer sem uma figura paterna.
Os dois não pareciam se cansar de querer decidir a minha vida por mim, como se eu não tivesse nenhuma vontade própria e devesse obedecer tudo o que eles decidiam para mim.
- Quando a criança nascer, eu pensarei nisso.
- E se a sua bolsa romper quando estiver sozinha em casa? Aqui? A quilômetros de um hospital? Quem vai te levar?
Aquela pergunta realmente me pegou de jeito e Zayn sorriu de lado quando notou que eu não tinha uma resposta para a sua pergunta, o mesmo sorriso que Liam estampava, do meu outro lado, contente por ter me deixado sem uma resposta.
- Eu posso ligar pra minha mãe, chamar uma ambulância, não sei! Eu darei um jeito. - respondi já irritada. Eles queriam me fazer perder a paciência, mas não conseguiriam. Eu estava determinada em não sair daquela casa por nada no mundo. Eu tinha um emprego do qual eu gostava e um apartamento que eu mesma conseguira. Seria preciso mais do que dois homens brigões para me tirar dali.
- Seja racional, Mandy.
- Sejam compreensivos. Vocês estão me forçando a fazer algo que eu não quero. Estão me forçando a tomar uma decisão entre um dos dois. Pedindo para que, antes mesmo que essa criança nasça, eu já decida quem será o pai dele. Parece justo para vocês?
Encarei Liam e depois Zayn. Ambos estavam de cabeça baixa, percebendo finalmente o que estavam fazendo, na ânsia de me forçar a decidir coisas que eu ainda não tinha cabeça para decidir.
- Eu sinto muito, mas acho que eu preciso ficar sozinha agora.
Os dois andaram até a porta e de repente Zayn se voltou de uma vez para mim, me encarando com seus olhos escuros e misteriosos, que agora brilhavam animados e cheios de promessas assustadoras.
- O que tem de tão especial nesse bairro? Nesse emprego? Nesse apartamento?
Olhei em volta enquanto Zayn gesticulava para todo o meu pequeno imóvel. Ele estava limpo e bem decorado. Não tinha nada demais com ele.
- Eu gosto daqui, gosto do meu emprego.
O sorriso dele aumentou ainda mais e Liam o olhou assustado. Seja o que fosse que passava na cabeça de Zayn naquele momento, ainda não havia chegado à Liam. O terror em seus olhos, por estar perdendo algo que poderia ser vital naquela imbecil competição que os dois inventaram, era notável e me deu pena.
- Eu não posso deixar você sozinha aqui, Mandy. E não vou.
- O que vai fazer?
A pergunta saiu ao mesmo tempo da minha boca e dos lábios de Liam.
- Eu estou vindo morar com você.
A confusão em meus olhos devia ser óbvia. Como diabos o popstar internacional Zayn Malik sairia do conforto de sua enorme e aconchegante mansão para morar em um bairro de classe baixa no subúrbio. Ele não devia estar raciocinando bem.
- Não tem a necessidade e nem motivo para fazer isso, Zayn.
- Como não? A necessidade de estar perto de você para acompanhar cada passo dessa gestação, como um bom pai deve fazer, não conta? Você e esse bebê são a minha razão para qualquer passo que eu der daqui para frente, Mandy.
Meus olhos se encheram de lágrimas como quiseram fazer quando, horas mais cedo, Liam dissera que agora éramos uma família.
Eu não podia dizer nada à Zayn, eu só conseguia encarar Liam que mantinha o olhar fixo no chão, como se temesse encarar a ele ou a mim.
- Se o Malik vem, eu estou vindo também?
- O quê? - dissemos eu e Zayn em uníssono.
- Isso mesmo. Se ele vem, eu virei. - Liam se aproximou e tocou meu rosto com delicadeza, fazendo o rosto de seu ex-amigo corar de raiva. - Você deve estar com medo de que eu não seja um bom pai, é por isso que quer criar essa criança por você mesma, então eu ficarei ao seu lado, durante toda a sua gravidez para que eu possa te mostrar que eu posso ser um bom pai.
Afastei dois passos, voltando para a porta do quarto, observando-os calculadamente. Eles eram loucos. Eles haviam perdido de vez a sanidade depois de passar vários anos escutando milhões de fãs histéricas gritando em seus ouvidos.
Mas a determinação nos olhares castanhos dos dois me dizia que eles não sairiam dali enquanto eu não concordasse com aquela palhaçada.
- Como assim?
- Simples, Mandy . Estamos vindo morar com você.
E se as coisas não estavam confusas, agora elas haviam saído, definitivamente, do controle.


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