EPÍLOGO

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- Ela gosta de chocolate.
- Estúpido. É claro que ela gosta de morango.
Eu assistia os dois brigarem em frente ao carrinho de sorvete, enquanto Marjorie Widad os assistia com um sorriso que era idêntico ao de Liam.
Era essa a parte engraçada. Agora com sete anos, Marjorie era uma exata mistura de nós três. Ela tinha os olhos castanhos e misteriosos de Zayn, mas o sorriso de Liam. Os meus cabelos, mas o porte de Liam, somada com as características árabes de Zayn.
Eu adoraria que os geneticistas me explicassem como isso poderia acontecer. Como, mesmo sendo geneticamente filha de Zayn, Marjorie tinha tantos traços de Liam.
Era como se ela fosse realmente uma mistura de nós três.
- Ela come Count Choccola.
- Isso é cereal. Estamos falando de sorvete aqui.
As fãs ficaram loucas no início. Vadia egoísta era o melhor dos termos que elas usavam para me chamar, mas, com o tempo e o nascimento de Marjorie Widad, elas começaram a aceitar mais facilmente que isso não era apenas um desejo meu. Éramos um trio e o nosso amor ia além do que as pessoas enxergavam.
Não fora fácil. As pessoas ofendiam Liam, chamavam Zayn de nomes horríveis, me paravam na rua para me ofender e nos primeiros meses que se seguiram ao nascimento de nossa filha, eu realmente pensei em deixá-los. Eu não me sentia digna.
Mas eu entendera que não havia outro jeito. Longe deles, as coisas apenas ficariam mais difíceis e confusas. Eu já tentara deixá-los diversas vezes e nunca conseguira. Talvez fosse hora de parar de brigar com o destino e simplesmente aceitar que éramos um nós.
Estávamos atados. Unidos da maneira mais anormal possível, mas para nós aquilo parecia tão certo que, com o tempo, estávamos fazendo as pessoas verem que aquilo não era incomum. Você pode amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Se a ligação entre vocês for forte o suficiente, vocês darão um jeito.
Nós havíamos dado.
E a melhor parte desses "jeitos" eram as nossas noites. As mães de meus namorados adoravam Marjorie e as tias jamais perdiam uma oportunidade de mimá-la, por isso, quando elas levavam Marjorie para dormir com elas, eu e os meninos aproveitávamos isso das melhores formas.
Como na noite passada, por exemplo.
Eu ainda era capaz de sentir as mãos de Zayn e Liam me tocando em todos os lugares, ainda podia sentir os lábios dos dois nos meus, ao mesmo tempo e ouvir os gemidos de Liam ao sentir as mãos de Zayn e vice-versa.
Sim, nós aproveitávamos bem as nossas noites de folga.
- De que sabor você gosta, meu bem. Dê uma dica pro papai.
- Do mesmo sabor que a mamãe.
A voz doce de Marjorie disse, brincalhona, sabendo que aquilo apenas causaria um nó maior ainda na cabeça de seus pais.
Marjorie parecia lidar bem com aquilo. Na escola, ela não se gabava de ter pais famosos e sim por ter dois pais. Patricia insistiu que deveríamos levá-la ao psicólogo para termos um panorama geral de como ela estava lidando com isso e, para a nossa surpresa, Marjorie entendia que o nosso estilo de vida não era o convencional, mas ao ser questionada se ela preferia que fôssemos como os outros pais de suas amiguinhas, ela respondia prontamente que não.
- Deus – ela disse, exasperada – como vocês são bobos! Dois de baunilha, por favor. – o sorveteiro deu uma risada alta, mas atendeu o pedido de minha independente filha, que veio até mim, me oferecendo o outro sorvete, enquanto lambia o que estava em sua mão. – Eles pagam.
Marjorie anunciou para o sorveteiro que encarou os dois homens à sua frente que abriram a carteira ao mesmo tempo, com expressões apalermadas.
Eu estava certa na maioria de minhas previsões.
Marjorie carregava em seu pulso esquerdo a corrente dada por Zayn, mas todas as noites, dormia abraçada com o urso que uma vez fora de Liam, Zayn a ensinara a desenhar e Liam, a andar de bicicleta. Mas o programa preferido dos três era cantar. E faziam isso tão naturalmente que eu ficava emocionada.
Eu amava aqueles três.
Amava a forma como eles me faziam sentir completa, como eles haviam desatado todos os nós cegos de dentro de mim, atando novos nós, nos atando. Nos tornando não três, não quatro, mas apenas um.
Eu amava como éramos assim. Fáceis, diferentes, mas inteiramente completos.
Amava como éramos apenas nós.



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