Quem é Você?

Cap. 2 A CABANA

Ela

Tento abrir os olhos e... ai... Minha cabeça dói... Uhm... O que?...
Então tudo veio em minha mente, e me lembrei do que aconteceu.
Lembro dos tiros, lembro de cair, e... lembro daqueles olhos!
Meu coração dispara, a claridade me incomoda.
Estou deitada mas devagar me sento.
Que lugar é este?
Abro bem os olhos fazendo sombra com minha mão.

Vejo uma casa de madeira velha, espera, casa não! Cabana!
As paredes estão sem pintura e as madeiras chegam estar acinzentadas de tão velha, o chão é assoalho.
Tudo é simples! Estou numa cama de casal, tem um baú aos pés da cama e uma cadeira de balanço aqui ao lado. Ela está cheia de cobertas e tem travesseiro. Parece que alguém dormiu ali!

São apenas dois cômodos e daqui posso ver a cozinha com uma mesa de madeira no centro, com quatro cadeiras. Tem uma pia pequena embaixo de uma janela em um balcãozinho ao lado do fogão.
Tudo tão antigo!
Mas que lugar é este?
E como vim parar aqui? Minha cabeça dói tanto!
Quando levo a mão sobre a testa sinto um curativo. O que?...
Percebo uma agulha na minha veia e então vejo que estou com um soro.
To ficando com medo! Como vim parar aqui? E... Oh... Minha saia está rasgada, estou toda suja! Bem... Graças a Deus estou de roupa! As minhas roupas!
Tiro a agulha e faço mensão de levantar mas quando saio da cama sinto uma tontura tão grande que caio no chão.

Sinto quando alguém me levanta, e quando olho, são aqueles olhos... Sim, são aqueles olhos que vi quando me atacaram. Aqueles olhos castanhos!

Não sei se sinto mais medo ou alívio ao vê-los, mas só ouço uma voz ao longe e tudo desaparece novamente.

Ele

Eu estava tentando apanhar um peixe ali no rio. Ela dormia desde ontem, que é quando tudo aconteceu.
Estava distraído, mas ouvi um barulho dentro da cabana; corri pra ver e ela estava lá caída. Peguei ela no colo e coloquei novamente na cama. Ela estava acordada e me olhava com um olhar estranho, não consegui entender! Porém logo, ela apagou novamente.

Percebi que ela estava fraca ainda, então fiquei preocupado.
Melhor deixar o peixe pra lá por enquanto, vou fazer uma sopa dessas pronta; não é o ideal, mas é só o que tem.
Não tive tempo de fazer muitas compras no caminho pra cá. Parei numa farmácia comprei alguns remédios, curativos e soro.
Também parei numa pequena conveniência e peguei algumas coisas pra comer.

Ela me pediu para não chamar a polícia; pediu para tira-la de lá. Percebi que estava com medo, fugindo... e disso eu entendo!
O que não entendo é do que ela tem medo? Do que está fugindo? O que pode ter acontecido com uma garota como ela?!

Ela é tão linda! E há tanto mistério em torno dela!
To eu aqui sentado nessa cadeira ao lado da cama, já vai escurecer e ela continua apagada.
Estou intrigado com ela desde que a vi olhando por aquela vidraça. Não sei porque!
Esse jeito de mocinha indefesa nem faz meu tipo. Acho que é só por causa do mistério.

Normalmente leio fácil todas as mulheres.
Acho que o jeito como se vestem, o perfume que usam, a maneira como prendem ou não os cabelos, a maquiagem, o olhar... Revelam muito sobre elas.
Claro que muitas vezes as pessoas se enganam, mas eu... Nunca erro!

Ela... Ela parece uma jovem rica "vejo pelas jóias e relógio banhado à ouro";

Vaidosa "vejo pelos cabelos muito bem tratados, e as unhas feitas";

De classe "vejo pelo terno de marca, e os sapatos";

Uns 20, talvez 22 anos.

É estranho, ela tem esse rosto de menina, mas se veste como uma mulher bem mais velha!

O que não faz sentido pra mim é que ela fazia naquele lugar!

Puts, tentaram matá-la!
Quem iria querer fazer mal à ela? Porque ela não quis ir até a polícia?
Aff... Esfrego meu rosto, e saio pra buscar lenha, afinal está esfriando e já vai chover.

Ela

Abro os olhos e já está escuro, percebo que aquele cara não está aqui, e me pergunto se eu devo ficar tranqüila ou sair correndo.

Olho por tudo e não vejo minha bolsa. Será que perdi lá na lanchonete?
De repente percebo que alguém se aproxima; deve ser ele!
Meu Deus o que faço?
Corro e tranco a porta.

_Hei, garota abra a porta!_
Ouço ele falar.
_Não até você me dizer o que quer de mim.
_Eu não quero nada de você, eu to te ajudando! Abra essa porta ta garoando aqui!_
Agora fala mais alto, com a voz impostada.
_Não vou abrir!_
Então ouço algo caindo no chão, parece madeira, e ele bate com força na porta.
_Abra essa porta, ta começando a chover!_
Grita.

Como posso saber se ele não é um dos caras do Cobra?!
_Não vou abrir se você não falar porque me trouxe aqui!_
Agora a chuva desaba.
Pam, pam, pam; ouço as batidas mais fortes!
_Abra a porra dessa porta!_
Agora ele grita enfurecido.
Fico em silêncio.

Tentaram me matar, ele estava lá! Quem me garante que ele não está trabalhando pro Cobra! To no meio de um fogo cruzado mesmo! Uns querem me matar, enquanto outros querem obter informações... O que faço?

Então ouço um solavanco. Ele chuta e quebra a porta entrando enfurecido e todo molhado.
_Você é louca garota? To todo molhado, e agora não tenho roupa! É assim que você me paga por salvar sua vida?

Então fico sem resposta e meio confusa. Ele está certo... Mas como posso confiar em alguém? Há quem me queira viva, mas também há quem me queira morta. E acredite nem mesmo a primeira opção, acaba bem pra mim.