Cap. 38 CULPA

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Jimmy

Cheguei essa madrugada. Dirigi quase a noite toda.
Não liguei pra Julie; eu acho que precisava falar com ela pessoalmente.
Ela também não ligou e isso me deixou com um aperto no peito.
Minha intenção era dirigir até esfriar a cabeça. Acabei indo parar naquela clínica.
Amo minha mãe, é como se, ao lado dela eu me sentisse mais forte, mais seguro de mim.
Ela sempre me incentivou e me mostrou o caminho certo pra tudo. Acho que fui parar lá, porque queria que ela me dissesse o que fazer, como agir, como me controlar.
Infelizmente ela não lembra mais de mim, não sabe quem eu sou.
Fala muito pouco e as vezes me trata como se eu fosse meu pai. Até me chama de Fernando.
Sinto falta dela. Mesmo ela estando à minha frente é como se faltasse um pedaço dela! Bom... De fato falta! Falta a memória. Minha mãe querida tem alzheimer.
Mas foi bom estar com ela. Acho que no final das contas, foi o melhor lugar que eu podia ter ido!

Julie a esta hora deve estar na escola dando aulas. Logo depois do almoço vou procurá-la.

Julie

Charles não pôde ficar aqui, não é seguro.
Eu também não pude ir com ele.
Não pude me despedir de minha amiga.
Não pude consolar os pais dela!
Não pude pedir perdão por te-la posto em perigo.

Não dormi. Não fui à escola. Não quero comer. Não sei nem se quero viver.
Por que a morte de alguém dói tanto?

Jimmy

Fui até a casa da Julie era umas três horas.
A camionete estava lá, mas tudo estava trancado, bati mas ninguém atendeu. Achei estranho, mas voltei pra casa.
A noite eram umas oito horas voltei lá, estava tudo escuro, a camionete no mesmo lugar e tudo em silêncio.

Novamente saí dali estranhando. Mas não é só com a Julie que devo me desculpar.

_ Boa noite Will! Posso entrar?
_ Desde quando precisa pedir pra entrar nesta casa Jimmy?
_ Desde que soquei a cara do seu filho Will. Mas vim me desculpar. O Vinícius está?
_ Entra logo rapaz! Deixa de cerimônia!
Vini já foi. Mas você acha que o Vini já não trocou socos com o Paulo também?
_ Eles são irmãos Will...
_ Jimmy! Como vai filho?
_ Eva! Vim me desculpar pelo que fiz...
_ Ahp! Ta tudo bem Jimmy! Mas você precisa ouvir umas coisas!
_ É justo!

_ Filho você tem que parar de ver só o lado ruim da vida.
Você sempre foi frio e meio amargo com as pessoas. Não conosco. Conosco você é um amor!
Mas você afastava as pessoas só com a sua cara fechada Jimmy!

Desde que a Julie chegou você está mais sorridente, seus olhos brilham, você está mais falante!
O amor faz bem meu filho, desde que a gente dê valor aos sorrisos, aos carinhos, às palavras doces!
Mas você tem se mostrado muito inseguro e isso pode estragar tudo.

_ Desde quando você sabe que estou assim pela Julie Eva?_ Pergunto de cabeça baixa, e atento aos seus conselhos.
_ Desde que o vi naquela cozinha olhando pra ela diferente de como olhava para as outras pessoas.
Você sempre estava carrancudo, mas a Julie você olhava com um brilho que não sei explicar. Também não importa!
O que importa é que você pare de agir como um repelente de pessoas e passe a dar mais valor a quem te ama.

_ Não sei se Julie me ama Eva.
_ Jimmy eu sou mulher ainda, mesmo velha, ainda reconheço uma garota apaixonada! E também ela falou pro Vini._ A olhei espantado.
_ Sim... Era isso que ela estava contando para o Vini quando você chegou e esbofeteou meu filho!
_ Eva me perdoe!_ Meu coração queria sair pela boca. Como pude ser tão idiota?!
Julie contou pro Vini! Ela assumiu que estamos juntos... Ou estávamos?! Porra o que eu fiz???

_ Eva, eu vou consertar isso! Fui até a casa da Julie mas ela não estava.
_ Estranho, o entregador hoje disse que ela não estava em casa também pra receber o almoço._

Senti um calafrio.
Será que Julie está bem?
Me despedi as pressas e voltei à casa da Julie.
Bati, bati e ninguém atendeu.
Todas as luzes estavam apagadas ainda.
Será que ela viajou? Mas pra onde? por que?
Ela não pode se expôr!
Fiquei preocupado, fui pra casa e não consegui dormir. Virei a noite acordado pensando no que poderia estar acontecendo.

Tentei esperar a manhã passar, pois certamente Julie estaria dando aulas. Porém não consegui.
Fui até a escola e não vi a camionete no estacionamento.
Fui direto à sua casa e vi a mesma cena, rodeei a casa e só uma coisa estava diferente. O barulho de um chuveiro ligado.
Bati na porta novamente e nada!
Bati com mais força.

_ Julie eu sei que você está aí! Voce está bem? Abra a porta, vamos conversar!_
Nada...

O que está acontecendo? Será que é pelo que fiz? Não... Julie não faltaria ao trabalho por isso!
Fui ficando cada vez mais nervoso e preocupado, até que decidi que eu iria entrar e pronto.
Dei um chute na porta e quebrou o trinco.
Entrei e não vi nada, a casa estava escura, fui chamando a Julie ela não respondia.
Quando cheguei no quarto dela a vi deitada, com uma camiseta das que costuma usar, mas estava encolhida, olhos inchados vermelhos e lágrimas caíam silenciosamente.

_ Ah não! Julie o que aconteceu?
Julie fala comigo!
Julie!
Por favor fala alguma coisa!
Jú você está assim pelo que fiz?
Fala alguma coisa!
Julie!_ Fiquei pedindo pra que ela falasse por um bom tempo, mas ela permaneceu com o olhar perdido, distante! Eu estava com o coração partido de vê-la daquela maneira.

_Ju... Fala comigo amor!
_ Sai daqui Jimmy! Vá embora!_ Fiquei paralisado. Não podia ir dexa-la assim. E se a culpa fosse minha?!
Eu jamais me perdoaria se eu fosse o culpado por ela estar daquele jeito.
_ Julie me perdoe! Não me manda embora agora! Deixa eu ficar, me diz o que está acontecendo.
_ Só vá embora Jimmy, por favor!_ Ela dizia chorando, com a voz baixinha.
_ A culpa por você estar assim, é minha?
Foi pelo que eu fiz?
_ O mundo não gira em torno de você Jimmy, vá embora!_ Não sabia se ficava aliviado, ou se ficava chateado pela resposta dela. Mas enfim... Acho que eu mereço a raiva dela.

_ Eu vou. Mas só se você me disser porquê está assim!
_ Não quero conversar! Vá embora! Volta pras tuas vadias de Mápolis.
_ O quê? Julie você não está assim por isso né?! Eu não fui pra Mápolis.
_ Não importa pra onde você foi. Voce foi "ponto", e pra mim não interessa de onde são as vadias que você pega pra afogar as mágoas. Só vai embora, me deixa sozinha!
_ Jú... Eu fui ver minha mãe!_ Ela me olhou e franziu a testa.
_ Éh Julie, eu tenho uma mãe! Amor eu não estava com mulher nenhuma... Quer dizer... Só minha mãe!_ Ela mordeu os lábios e deu um supiro aliviado.
A abracei e ela ainda assim resistiu.
Ela levantou da cama e abriu a janela, agora pude ver as profundas olheiras e a palidez em seu rosto.
Fiquei espantado.

_ Julie o que aconteceu? Por que você está abatida assim?_ Ela se sentou ao lado na cama e respirou fundo.

_ Acho que... Acho que fui eu que... Minha melhor amiga, eu a envolvi nisso tudo. Agora acharam ela... E... Oh...
_ Respira Ju...
_ Eles a mataram._ Ela mal conseguiu falar e correu para o banheiro vomitar.
Segurei seus cabelos e ela suava frio.
Não tinha praticamente nada no vômito, provavelmente porque já vomitou várias vezes. Com certeza por isso ela está tão abatida.

_ Ju a culpa não é sua! Não sei exatamente o que dizer, talvez seja a hora de você me contar o que está acontecendo.
Eu tenho dinheiro Ju, se for preciso a gente sai do país. Vamos pra qualquer lugar que você quiser._
Ela só balançou a cabeça negando.
_ Tudo bem... Eu respeito. Mas acho que você deveria se abrir comigo.
_ Desculpa Jim, eu preciso tomar banho denovo._ Julie fechou a porta e tomou outro banho. Demorou muito lá dentro e pude ouvir ela chorando.
Eu queria quebrar mais aquela porta pra eu poder entrar, e consolar minha pequena, que se sentia culpada pela morte da amiga. Mas eu não podia. Tentei respeitar o espaço dela.

Julie permitiu que eu ficasse ali com ela, sentei na cama e encostei as costas na cabeceira, a Ju deitou em meu colo e chorou mais um pouco.
Fiquei fazendo cafuné na cabeça dela, tentando acalma-la.

_ Quando você soube?
_ Domingo a noite.
_ Me perdoe por não estar aqui!
_ Tudo bem, não há nada que possamos fazer.
_ E desde quando você está vomitando?
_ Desde domingo.
_ Oh Deus Julie! E você tem comido?_
Ela negou com a cabeça.
Assim que ela pegou num sono pesado, levantei e fui fazer um suco pra ela.
Também vi a porta quebrada e deixei pra consertar mais tarde.

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