A Janela

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 Pneus cantando e muita areia saltando. Chegamos à casa da vovó.

- Tatiane, leve as bagagens. – Diz mamãe.

- Está bem, mãe.

A mansão é enorme e ando por vários corredores até chegar ao nosso quarto. Desço e vou ver a família.

- Seja bem vinda, querida. – Disse vovó seguida dos meus tios e tias.

Comemoramos e conversamos por um tempo. Mamãe e eu tínhamos que contar todas as novidades da cidade, pois eles não conheciam muito bem. Meus tios e tias dizem amar a cidade, mas há muito não saem do campo, sabe-se lá por quê.

Saio para matar a saudade daquele lindo ambiente.

As árvores parecem iguais a quando vim ano passado. Vejo mais animais passeando e flores a desabrochar. Inspiro e absorvo todo aquele ar, deixando que o ambiente se mescle ao meu corpo. Respiro e repito o processo. É a segunda melhor parte de estar aqui – A primeira é rever os parentes. Fecho os olhos e me perco na floresta. Ao abri-los, já é noite e preciso voltar para casa.

- Onde essa menina estava até agora?

- Você sabe, mãe. Ela adora ficar no campo. – Diz mamãe.

Abraço vovó e vou ao quarto para tomar um banho. Ligo o chuveiro e tento inspirar um pouco daquele lugar também. Arrisco-me no frio e entro de uma vez.

- Não abra! – Grita uma voz. Meus pelos se eriçam.

- Ela não vai abrir. – Chora outra voz.

- Ela vai. Não. Não pode! Não abra! – Diz a voz anterior.

Desligo o chuveiro e me cubro com a toalha o mais forte que posso. Olho para todos os lados e não encontro ninguém. Visto-me e vou conversar com a vovó.

- Vovó, tem alguém hospedado aqui?

- Não, querida. Desocupei a casa para que se sentissem mais confortáveis. Por quê?

- Nada não. – Vovó acenou.

Voltei à sala e esperei que mamãe fosse dormir para ir também.

Mamãe apagou a lâmpada e eu acendi o abajur.

- Tatiane, não está com medo, não é?

- Claro que não, mãe! Só queria um pouco de luz para... Para... Eu só quero um pouco de luz mesmo.

Mamãe sorriu e se deitou.

Passo duas horas acordada debaixo do cobertor. Ouço um ruído baixo e me encolho. Fico indecisa se olho ou fico parada. Por fim, levanto-me. Está chovendo e os trovões me fazem saltar. Sigo pelo corredor e procuro algo suspeito.

No fundo do corredor, perto do quarto da vovó, há uma janela. Olho fixamente para o vidro e não vejo nada. Estremeço. Por que não consigo ver? O outro lado parece completamente branco e vazio. Torço para que sejam apenas relâmpagos incessantes. Mas eu sei que isso é impossível. Fecho meus olhos e inspiro, mesmo tentando evitar.

Ao abrir, vejo a janela ao lado do quarto de Vovó. Pisco e ela está mais próxima do quarto de minha tia. Pisco várias vezes e a janela parece andar até o lado do meu quarto. Não resisto e fecho novamente os olhos. A janela está em minha frente, não há parede sustentando-a. O clarão do outro lado me cegando. Tenho medo de piscar, então fecho meus olhos e não os abro.

Os galos cocoricam e mamãe me acorda. Estou na cama e sorrio aliviada, afinal foi tudo um pesadelo.

Desço para tomar o café e escuto minha mãe cochichando:

Aleatoriamente ContandoOnde histórias criam vida. Descubra agora