Sob a Sua Luz

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Ela era perfeita! Dançava e pulava na ponta dos pés. Seu cabelo, castanho claro, brilhava junto àquela poeira que rodopiava. Não eram vaga-lumes, eu não sabia o que eram, só sabia que enfatizavam ela. Seu vestido era branco e refletia a luz prateada vinda do céu. Seus pés, descalços, brincavam na grama molhada e não paravam. E naquela hora da madrugada, esquecia de tudo. Porque para mim, só havia ela e a lua.

Não sabia como me aproximar, ficava tímido em sua presença. Mas quem não ficaria diante de um ser tão... Fantástico.

- Olá. – Espero uma resposta dela, mas nem sou notado. Sua dança continua e eu quase me esqueço de tentar outra vez. – Com licença... – Passos lentos e ouvidos fechados. – Ei!

A garota olha para mim. Que mulher mais linda! Eu precisava abraçá-la ou ao menos tocar em sua pele. Eu precisava senti-la... Mas foi em questão de segundos que despertei, quando ela saiu em disparada.

- Espere! Eu não vou fazer nada de mal.

Tentei acompanhar seus passos. Em um momento eu realmente consegui, no entanto logo a perdi por alguns metros. Ela evaporou. E consigo, levou toda poeira, luz, encanto e magnificência.

Voltei para o acampamento e tentei sonhar com ela.

- Ei, Leandro! – Roberto tirava minhas cobertas e me balançava. – Hora de acordar.

- Me deixa dormir!

- Não!

Após muita persistência, desisti e fui tomar café.

- Como passou a noite? – Perguntou Maria, uma das jovens do acampamento. – Hein?

- O quê? Oh, sim! Foi ótima.

- Você está muito avoado. – Disse Roberto.

- Só estou acordando.

Mas não queria. Eu estava pensando nela. Parecia refletir toda a lua. Mais que isso... Parecia vir direto dela! Um pedaço da lua. Desejava vê-la dançar mais uma vez. A cada segundo daquele dia, eu só conseguia imaginar a beleza daquela garota.

A noite chegou. Eu a via na lua e queria ir buscá-la. Esperei encontrá-la no mesmo lugar.

- Ainda desligado, Leandro? Estou começando a achar...

- Estou bem, é só o sono.

- Você está é apaixonado! Fala aí, quem é a garota?

- Ela é linda. Seus olhos prateados e seu corpo iluminado. Dança tão bem. – Sorri. – Ela é um pedaço da lua. Meu pedaço da lua. – Assusto-me ao perceber que estava contando tudo sobre ela.

- Nossa! Ela deve ser linda mesmo, para fazer você virar poeta. – Disse Maria. Fiquei calado.

Não era poesia, era real. Eu a vi e sei que se a vissem diriam o mesmo.

Todos foram dormir e eu me deitei até que estivessem adormecidos. Levantei-me e andei devagar. Escondi-me nos arbustos e esperei que ela aparecesse. Já estava lá.

A dança era a mesma, graciosa e leve. Assisti a cada detalhe. Naquela noite, fechei meus olhos por apenas um estante, então eu ouvi... Eu ouvi a música da qual ela dançava. Os toques calmos, uma canção de ninar dançante. Levantei-me e, sem resistência, dancei. Dançava dali mesmo, dos arbustos. A música era mais alta ao lado dela. Dancei e me aproximei. Ofereci a mão e ela aceitou.

Uma bomba de sons saiu do meu peito. Dançamos juntos, nossos corpos se aproximando. Um leve tremor surgia sempre que roçava em sua pele ou na poeira luminosa.

- Qual seu nome? – Sussurrei para não assustá-la.

Ela arregalou os olhos e me soltou. Meu coração se apertou com a falta de seu toque.

- Por favor...

Ela se foi novamente. Corri para a cama, precisava acelerar até próxima madrugada.

Perdi todo o dia pensando nela novamente. E quanto mais ansiava, mais demorava. Lembro-me vagamente de olhares preocupados de Maria.

E finalmente era madrugada.

Encontrei-a dançando com maior velocidade. Fechei os olhos e esperei alguma música. Não ouvi nada. Olhei sua dança por mais tempo e fechei novamente. Ouvi as batidas fracas. Meu corpo balançava. Balancei, balancei, balançamos. Nossas mãos se tocando e nossos corpos dançando algo que eu não reconhecia e nem sabia. Saltávamos, rebolávamos e sorríamos.

Estava perfeito, mas meu instinto foi muito forte e minha voz surgiu. Sem saber exatamente como, disse e senti algo:

- Eu te amo.

Ela me soltou. Negou veementemente com a cabeça.

- Não vá dessa vez...

Fui dormir com urgência.

- Você está ficando louco, Leandro!

- É verdade, Roberto. Eu a vejo todas as noites.

- Aqui?

- Sim. Esse lugar é.. É mágico.

- Eu estou ficando preocupada, Roberto. – Disse Maria.

- A gente só tem mais um dia. Quando voltarmos vai ficar tudo bem. – Respondeu Roberto.

Ir embora? Eu não poderia fazer isso. Precisava dançar com ela. Ansiava por aquilo. E por mais que ela estivesse na lua, eu passaria toda a minha vida tentando alcançá-la.

A madrugada chegou. Seus passos estavam lentos de novo, mas daquela vez parecia incompleta. Ela dançava uma dança feita para um casal. Senti a música e dancei ao seu lado. Meus braços ao redor dela e os dela ao meu redor. E foi de acordo com o ritmo que nossos lábios se aproximaram até que estivessem unidos. Voei até a lua e presenciei seu esplendor. Saboreei a luz que vinha dela.

Hesitante, separei meus lábios dos dela.

- Lua. Te chamarei Lua.

Ela se soltou novamente. Chorou e me deu um abraço. Espalhou-se na poeira e partiu para os céus.

- Leandro! Eu não vejo ninguém aqui. – Disse Roberto.

- Ela já foi. Amanhã dançaremos novamente.

- Amanhã iremos para casa.

- Não! Eu não posso ir para casa. Eu quero morar aqui. Quero dançar com ela todas as noites.

- Chega dessa brincadeira, Leandro. Você já está me assustando. – Gritou Maria. Suas lágrimas refletiam a Lua.

- Não é brincadeira. Eu a amo.

Amanheceu e eles queriam me levar. Neguei com todas as minhas forças. Eu queria minha Lua. Uma van chegou e me sedaram. Persisti ao máximo, mas acabei perdendo.

Eu nunca mais a vi. Passo todos os dias em uma sala branca e ninguém me deixa vê-la. Por que as pessoas são injustas? Tudo o que eu queria era ficar ao lado da Lua. Deveria ser proibido separar um homem de sua amada.

Todas as madrugadas eu fecho os olhos. Ouço os sons e meu corpo responde. Sinto a luz e sorrio. Eu nunca mais verei a Lua, mas eu sempre dançarei sob a sua luz.


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