Flor Nascente

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Flor Nascente, a pequena cidade em que Charlie mora. Seus pais lhe disseram que a cidade se chama assim por causa de uma lenda. A lenda contava que quando um morador da cidade morria e não era encontrado, era porque a terra tratava de enterrá-lo, absorvendo sua vida e fazendo nascer uma bela flor no lugar. Isso explicava o fato de existirem flores diversas espalhadas por todos os lados. Cada esquina parecia um jardim e tinha um ar puro e perfumado, invejável para qualquer outra cidade.

 Charlie só saía de casa com seus pais. Perguntava-lhes o porquê de não poder sair sozinho se a cidade era tão tranquila e segura. Seus pais diziam que quando completasse 15 anos, poderia passear. E aquele era o dia em que ele completaria seus 15 anos. Antes de sair de casa pela primeira vez sozinho, seus pais lhe alertaram para nunca contar seu nome a ninguém. O que deixava Charlie ainda mais confuso com aquele mistério.

 Assim se sucedeu. Charlie passou a ir todos os dias passear pela cidade. Gostava de cheirar cada flor e contemplar cada cenário por onde passava. Os moradores sempre o cumprimentavam e conversavam, mas ele nunca lhes contou seu nome.

 Havia um lugar que Charlie gostava mais de ficar do que todos os outros:Em frente à loja “Perfume de flor”. À frente dali, separada por uma avenida, ficava a floricultura da Natty. Todos os dias, Natty saía para regar as flores da frente. O garoto se encantava ao ver aquela mulher tão angelical. Com cabelos loiros reluzentes, olhos azuis e um sorriso contagiante, Natty estava sempre acenando para todos que passavam em frente à sua loja.

 Certo dia, Betânia, a dona da perfumaria foi lhe contar algo absurdo:

 - Se eu fosse você, evitaria contato direto com essa mulher. Não conhece a história dela?

 - Que história? – Perguntou o garoto curioso.

 - Dizem que aquela mulher é uma bruxa que transforma as pessoas em flores, por isso a cidade é assim e sua casa é a mais cheia de flores.

 - Que absurdo! Essas pessoas que inventaram isso devem ter inveja por ela ter o jardim mais bonito.

 - Estou apenas te aconselhando garoto. Quem avisa amigo é.

 Esse aviso apenas instigou mais o garoto a se aproximar de Natty. Então ele resolveu falar pessoalmente com ela.

 - Olá garotinho – Falou Natty quando Charlie se aproximou.

 - Oi. Seu jardim é muito lindo sabia?

 - Obrigada. Quer entrar para ver meu jardim de trás?

 - Claro!

 Charlie ficou maravilhado. Se antes ele achava que existiam milhões de espécies de flores, agora ele achava que existiam infinitas. E todas elas estavam ali, misturadas naquele grande jardim. Talvez se andasse mais adentro descobriria ser um bosque, pois a cada passo que o garoto dava, maior era o caminho para chegar até os limites daquele lugar.

 Depois desse dia, Charlie passou a visitar a floricultura de Natty todos os dias. Descobriu que a dona da loja era tão doce quanto o néctar de suas flores e resolveu contar sobre os boatos absurdos que se espalhavam.

 - Quem lhe contou isso? – Perguntou Natty calmamente depois que ouviu a história do garoto.

 - A dona da perfumaria, dona Betânia.

 - Entendo...

 No dia seguinte, Charlie foi à perfumaria antes da floricultura para conversar com Betânia, mas ela não estava presente. Então ele resolveu ir visitar Natty.

 - Bom dia Natty!

 - Bom dia! Qual seu nome mesmo?

 - Charlie. - Disse o garoto e logo se arrependeu por lembrar-se dos conselhos de seus pais. Mas imaginou que não teria problema algum.

 - Vejo que veio mais cedo hoje.

 - Eu vim para conversar com Betânia, mas como ela não estava resolvi passar por aqui.

 - Pois eu sei exatamente onde ela está! – Falou Natty sorrindo. – Venha comigo.

 Natty levou Charlie para o jardim de trás e ele ficou a procurar Betânia ao redor.

 - Onde?

 - Aqui. – Falou tocando em uma bromélia. – Linda não?

 Depois de um tempo o garoto percebeu o que estava acontecendo e começou a retroceder.

 - Era verdade?

 - O quê querido?

 - Que você as transforma em flores? É verdade que você é uma bruxa? – Falava e retrocedia mais e mais o garoto.

 - Eu não sou uma bruxa. Sou uma amiga da natureza. Fique tranquilo Charlie.

 - Tranquilo? Você transforma as pessoas em flores!

 - E qual o problema? Elas são lindas e estão conectadas à terra, à natureza. – Explicou Natty devagar.

 - E daí? Elas estão presas!

 - Elas estão livres, sentem cada pulsar da terra. Quando você for uma vai entender.

 - Eu? Por favor, não! Por favor! – Suplicava o garoto desesperado. – Prometo não contar a ninguém!

 - Dê-me sua mão, venha sentir a natureza comigo. – Convidava docemente a bela mulher oferecendo a mão direita.

 - Eu não quero. – Disse por fim o garoto e correu com todas as forças.

 Raízes saíam do chão e tentavam agarrar os pés de Charlie, mas ele conseguiu se desvencilhar de todas. Saiu às pressas da floricultura e foi para casa. Cada flor que olhava parecia ser uma arma de Natty. Ele corria sem parar. Corria das flores que estavam em todos os lugares e estas, nada faziam, apenas observavam.

 Charlie finalmente chegou a sua casa. Estava exausto pela corrida e logo foi para a cama. Não demorou muito e ele adormeceu.

 Os pais de Charlie estranharam pelo filho ainda não ter acordado. Já era meia-noite e o garoto ainda não havia saído do quarto. Resolveram ver se ele estava bem. Ele não estava lá, mas algo aconteceu. Flores diversas surgiam do concreto e se enroscavam por todos os lados da cama formando um roseiral. Quando eles se aproximaram, uma suave rajada de vento passou pela janela e levou alguma pétalas em direção a eles. Uma grande tristeza preencheu o coração daqueles dois pais que começaram a chorar, mas resolveram prosseguir, até encontrar uma carta que estava em cima da cama, presa a alguns caules.

 O pai de Charlie resolveu abrir a carta e lê-la.

“ Não importa o quão diferentes somos, no fim seremos apenas flores enfeitando um cenário”

 Cortesia da minha loja.

De: Nature, “Natty”

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