O quarto estava bagunçado e tudo o que eu ouvia era o choro da garotinha.
- Olá. Eu sou sua fada madrinha!
O pranto cessou e ela foi virando a cabeça. Olhou para mim e seu rosto foi tomado por dentes.
- Uma fada madrinha?!
Sorri. Aqueles sorrisos maravilhosos valiam toda a pena.
- Sou sim. Faça um desejo e eu realizarei, mas só um, tudo bem?
- Sim, sim! Eu quero uma boneca bem grande!
- Então você deseja?
- Sim, sim. Eu desejo!
Movi a varinha e senti o desejo da garota, todo o meu corpo foi tomado por ele até que se espalhou e saiu pela ponta do objeto. O desejo espalhava-se por todo o quarto, tomando forma. Por fim, a grande boneca surgiu.
- É do tamanho do meu quarto! – Saltitou e saiu correndo.
- Cuidado. – Ri.
- Papai, papai. Olha minha boneca gigante!
- Opa!
Abri a janela e alcei voo.
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Nós, fadas, vivemos além das nuvens, mas em cima delas também. Acima do céu visto pelos humanos, há uma terra sustentada por nuvens, é lá que vivemos.
Crianças jogavam pó encantado em toda a praça, fazendo-a brilhar e criando alguns encantos. Eu, é claro, fui comprar algodão doce.
- Como foi o trabalho hoje? – Perguntou o vendedor.
- Foi maravilhoso!
- Lira, sua fofa! – Kalinda abraçou-me por trás e me fez engasgar com algodão.
- Oi, Kalinda. Realizando muitos desejos?
- Não, Lira. Hoje está sendo calmo para mim. A rainha estava te procurando. Deve ser uma tarefa extra.
- Está bem, vou indo.
Parti para o palácio real. O palácio era todo azul-claro, suas janelas projetavam arco-íris para o lado de fora e sua beleza era vista a quilômetros.
Prostrei-me e aguardei.
- Pode se levantar. Tenho uma nova missão para você.
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Corri para a casa de Kalinda.
- Você não vai acreditar!
- O quê?
- Eu ganhei uma missão!
- AAAAAAAAAAA! – Gritamos juntas e pulamos.
- Conte tudo!
- Só depois que eu concluir. – Kalinda soltou a língua e gargalhamos.
Comprei dez algodões doces e comi com Kalinda, partiria depois de escurecer em nossas terras.
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O sino tocou e ele continuou na sala de aula. Além de seu cabelo negro e olhos castanho-escuros, todo seu rosto parecia obscuro, ele era minha missão. Escondi-me, passei a varinha por meu corpo e o vestido rosa deu lugar a uma calça e uma blusa azul.
- Olá... – Sorri e acenei para ele. Achou que não estava falando com ele. – Olá!
- Ah... Oi.
- Eu sou Lira e você?
- Mason. – Seu olhar não saía do caderno.
- Então... Podemos conversar? - Direcionou o olhar para mim e franziu o cenho.
- De que sala você é?
- Ah! É... Eu sou... Eu sou visitante!
- Certo... Quem você veio visitar?
- Você. – Mais dúvida. – Não deveria? Ah! É, não deveria. Só tive vontade de conversar com você. Por que não me conta um pouco sobre si? – Ele moveu os ombros e voltou a se concentrar no caderno.
Saí da sala tão cabisbaixa quanto ele.
À noite fiquei vigiando-o. Perguntava-me por que não consegui conversar com ele. Criei uma pequena imagem da Kalinda com a varinha.
- Kalinda! Eu não consegui ajudá-lo, sou um fracasso!
- Calma, Lira. Eu não sei qual a sua missão, mas ter a confiança dele exige paciência.
- Mas, Kalinda, não consigo nem conversar!
- Você vai conseguir. Agora tenho de ir, beijos.
- Kalinda!
Passei o resto da noite observando-o, sem ideia de como ajudá-lo.
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Aproximei-me e sentei na cadeira.
- Olá! – Sorri.
- Olá...
Não falamos mais nada depois disso. Todos os três dias que se seguiram foram assim.
Toquei a campainha e Mason atendeu.
- Olá!
- Olá... Como descobriu onde moro?
- Eu só... Só queria saber mais sobre você.
Ele mexeu a cabeça, convidando-me a entrar. Sentei no sofá e esperei enquanto ele fazia café.
- Aqui. – Mason entregou-me uma xícara e ficou com outra.
Sentamos um em frente ao outro, mas ele continuava cabisbaixo, olhando para o café. Eu bebia o meu e olhava-o algumas vezes. Minha mão tremia e eu não lembrava que sabia falar. Alguns minutos se passaram e nosso café ainda não acabara. Mais uma olhadela e quase derramei meu café. Ele olhava para mim, uma pequena luz no abismo de seus olhos, penetrante e sobrenatural. Então ele sorriu, seu lábios se curvando devagar. Retribuí o sorriso e esqueci a missão que recebi.
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- Então você gosta de matemática, não é?
- Sim, sou fascinado por números e exatidões.
- Não sei como curte isso, é tão chato!
Mason finalmente tomara a liberdade de conversar comigo, aos poucos me contava sobre si. De vez em quando ainda ficávamos sem palavras, mas sempre gargalhávamos nessas horas. Minha missão estava se cumprindo e senti pontadas. Logo ele faria seu desejo e eu... Eu apenas partiria para a próxima pessoa.
- O que houve, Lira?
- Não foi nada... – Tocou em meus braços e senti cócegas nas bochechas.
- Você me fez contar sobre mim, agora me conte sobre você.
As cócegas nas bochechas aumentaram e meus lábios tremiam um sorriso por vontade própria. Totalmente sem ideia e nervosa, confessei meu vício:
- Eu adoro algodão doce.
Mason riu e me olhou fixo. Se estivesse em minha terra, cairia nas nuvens, mas como não estava lá me forcei a ficar de pé.
- Então vamos comprar um. – As bochechas dele estavam vermelhas.
Compramos dois algodões doces na esquina e decidimos caminhar um pouco.
- Você me parece um pouco solitário. Por quê?
- Não sei ao certo. Eu apenas não tenho amigos.
- Já tentou conhecer algum?
- Não. Tenho medo, conhecer pessoas me parece muito... Incerto.
- Ah! Isso porque você gosta de coisas exatas. Não é errado ser assim, mas há momentos em que precisamos nos arriscar. É da nossa natureza sermos incertos, não importa o quão exatos tentemos ser. É bom ser inexato de vez em quando, alguns riscos valem a pena.
Mason sorriu e seus olhos brilharam.
- Eu sei, aprendi isso quando te conheci.
Nossos rostos se inclinaram e desejei tocar em seus lábios. Lembrei-me das asas que escondia e de quem era e parei. Afastei meu rosto e sorri. Mason desfez o sorriso e seus olhos se escureceram.
- Tenho uma surpresa para mostrar. – Tentei animá-lo e puxei seu braço. - Vamos a sua casa.
- Tudo bem...
Chegamos e tranquei a porta da sala.
- Alguém mais aqui?
- Não.
Comi o último pedaço de algodão doce que restou no palito e saboreei por um tempo.
- O que quer me mostrar?
- Vai ver. – Disse, ainda mastigando o algodão. – Pronto.
Balancei o palito ao meu redor e girei, retomando meu vestido rosa, asas brancas e transformando o palito em varinha. Mason abriu a boca, mas nada disse.
- Não impressionei? Por acaso já tinha visto uma? Não, não, não!
Voei e peguei Mason enquanto caía.
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- Olá.
- Lira... Não me diga que aquilo que vi era real.
Mason olhou para minhas asas e fechou os olhos com firmeza.
- Tudo bem. Eu não vou desmaiar.
- Desculpe pela surpresa.
Sentamo-nos e contei sobre mim e minha missão, esperando que Mason se acalmasse.
- E eu que pensei em te chamar de fada...
- Se você chamar, não vai perder o encanto. – Minhas cócegas na bochecha retornaram e meus olhos teimavam em olhar outros lugares além dele. – Mason, suas bochechas estão vermelhas.
- As suas também. – Tentei escondê-las com as mãos e ele riu. Desisti e acompanhei-o na risada.
A campainha tocou e descemos para abrir a porta.
- Oi, dona Edna! – Cumprimentei enquanto ela entrava.
- Olá, Lira. – Edna relanceou o olhar várias vezes entre nós dois. – Sabia que Mason não para de falar de você?
- Mãe... – Mason suspirou. Edna riu e foi para o quarto.
- Então...
- Então... Você tem um desejo. Pense bem porque é só um.
- E quando eu fizer o desejo você vai embora, isso?
- Isso...
- Acho que vou guardá-lo por um tempo, alguns anos talvez.
Abracei-o com força. Eu queria beijá-lo, porém tinha que me contentar com um abraço. Não havia problema algum em abraçar alguém, embora eu o tenha beijado através do aperto. Desvencilhei-me e abri a porta devagar, mas em desespero.
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- Lira!
- Kalinda, finalmente me contatou!
- Porque você está com problemas.
- Que problemas?
- Sobe aqui e eu te conto.
- Mas eu não posso subir em meio a uma missão!
- Sua missão acabou! De certa forma, de qualquer maneira.
- O que você está falando...
- Suba!
Confusa, fui à casa de Kalinda.
- Kalinda, o que está acontecendo?
- Você será substituída. Eu realmente sinto muito! Mas tiveram de tomar essa decisão.
- Por que fariam isso?
- É que... Você estava se envolvendo demais.
- Como assim me envolvendo?
- Você sabe muito bem.
Respirei devagar e fui ao palácio. Hesitei em questionar a rainha quando vi seus olhos cristalinos me fitando. Nada dos cabelos prateados dela ou do meu cabelo loiro se movia, nada no palácio se movia. Com muito esforço, perguntei o porquê da substituição.
- Porque você se envolveu demais com o garoto. Tudo o que deveria fazer era ajudá-lo a encontrar e externar o seu grande desejo, que seria ter amigos. Você o ajudaria com as pessoas, mas ao invés disso, vocês só se envolveram um com o outro. Estava ficando mais forte. Lira, você é uma fada madrinha, não pode se envolver com os humanos.
Eu não sei por que aquilo doeu, entretanto me lembro bem de como reagi. Corri para fora do palácio e chorei. Escondi-me em um lugar afastado e choraminguei, tentando entender o que havia comigo.
Sempre adorei realizar os desejos dos humanos, isso era quem eu era e me bastava. Mas enquanto chorava ali, não pensei assim e meus desejos eram outros. Eu queria estar ao lado dele.
- Mason...
Os dois dias seguintes foram pesarosos, verdadeiras tartarugas. Chorei por dentro e sorri para as crianças a quem realizava os desejos. Já não queria estar ali, por mais egoísta que fosse.
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Andejei devagar a caminho de casa, com vontade de cair daquelas nuvens e, talvez, nos braços de alguém.
- Lira, você tem que se animar!
- Tudo bem, Kalinda...
- Não, não está. Você nem sorri mais. – Abri os dentes e ela revirou os olhos.
- Esquece, vai ficar tudo bem.
Entrei em casa, amarrei as fitas às mãos e aos pés e fechei os olhos, tentando dormir.
- Desce dessas fitas, agora! Não está vendo que tem visita? – Kalinda gritou.
- Você já é da casa.
Acordei com ecos em minha cabeça, a voz parecia o soar de um sino, batendo e rebatendo.
- Eu desejo... Eu desejo... Eu desejo!
Depois de várias vezes, meu corpo brilhou e apareci em outro lugar. Esfreguei os olhos e os abri. Uma fada estava ao lado de Mason, sobrancelhas baixas.
- Eu sinto muito, eu... Eu não sabia. – Disse e partiu.
- Mason! – Abracei-o e ele retribuiu o abraço. – Senti tantas saudades, mas não pude mais vir. O que aconteceu?
- Eu desejei estar ao lado da garota que amo.
Emoções saltaram e vi tudo rosa ao redor, minhas asas bateram e me levantaram a poucos metros do chão, Alarguei um sorriso verdadeiro e pensei: É assim que é o amor!
Eu sabia que não deveria fazer aquilo, mas não resisti. Não importava o certo ou errado naquele momento, eu o amava e aquilo parecia o suficiente, parecia a única coisa no mundo. Ainda flutuando, eu encostei meus lábios nos seus. Só aquilo bastou para nos agitar mais ainda. O rosa que vi agora saía do meu corpo em explosões.
- Desculpe pelo agito...
- É lindo. – Ele segurou meus braços e me puxou para o chão. Inclinou-se e me beijou por um tempo, me beijou não, nós nos beijamos!
Nossa vida parecia perfeita dali para frente. Eu o visitava todos os dias e tínhamos sempre assunto.
- Sabe o que tenho para você hoje?
- O quê?
Mason abriu um pacote com vários algodões doces. Pulei de alegria e beijei sua bochecha.
- Sempre quis beijar sua bochecha quando ela corava. – Confessei.
- E eu esses seus lábios. – Beijou-me rápido e rimos. – Você sabe, não é, Lira? Agora que tenho você não me sinto sozinho e não preciso de mais ninguém.
- Você é um fofo, Mason!
Depois de muitos beijos, saí pela janela e sentei na árvore do quintal.
- É tão triste saber que isso terá um fim. – Disse uma mulher na penumbra, também sentada na árvore.
- Quem disse que terá?
- Oh, minha querida, eu sei. – Ela apareceu na luz e quase caí da árvore.
Era ela. Todos nós contávamos histórias sobre como ela seria e de sua existência, a personificação do destino, Destiny. A mulher vestida de verde, branco e vermelho, cabelos alaranjados e olhar rosa.
- É você mesma?
- Sim, meu doce. Eu sou Destiny, o destino. – Riu e continuou. – Eu vim ajudá-la.
- Com o quê?
- Com o que mais seria se não o destino? – Gargalhou baixo, parecia se divertir.
- Meu destino está bem.
- Não, não está. Você fugiu dele e isso me desequilibrou um pouco.
- Eu não fugi de nada!
- Veja bem onde está. Não é aqui o seu lugar.
- Eu quero estar aqui.
- Eu sei, mas agora é hora de partir.
- Não, não é. Eu escolho ficar. Ninguém vai me impedir.
- Infelizmente, eu vou. – Disse devagar.
- Com licença... – Desci da árvore e me preparei para voar.
- E as suas missões? E todas as pessoas que você ainda deveria ajudar? Você vai ignorá-las e o chamado que sente?
Estaquei. Ela estava certa, eu não poderia abandoná-los.
- Eu darei um jeito.
- Não, não dará. Você terá que escolher, as pessoas que precisam de você ou você mesma. Não seria muito justo que elas sofressem as consequências da sua felicidade, não?
- Então por que você não as ajuda? Você é o destino, faça-as feliz! – Gritei e chorei.
- Não, eu não posso. Eu não faço nada, eu apenas existo. Eu não faço o destino, eu sou ele. E essa decisão recai sobre seus ombros. Adeus. – Piscou um olho e desapareceu.
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Mason abraçou-me e não queria mais soltar. Também senti vontade de ficar ali, mas precisava ir.
- Eu sinto muito. Eu preciso ir.
- Talvez haja outra maneira. As outras fadas podem fazer o seu trabalho.
- Não podem, só eu posso. Mason, eu farei o que puder para ficar com você. Acho que sei exatamente como.
Beijei-o e voei, batendo as asas o mais rápido que pudesse.
- Lira! Fiquei tão preocupada.
- Não precisa se preocupar, Kalinda.
- Ainda bem que tirou essa ideia da cabeça. – Apertou-me e deu beijinhos em minha cabeça.
- Eu não desisti dela.
- Lira, por favor...
- Não, Kalinda. Eu não vou viver de um modo que não quero. Eu quero ser livre.
- Mas você tem responsabilidades.
- Enquanto fada, mas se eu não for mais uma fada...
Kalinda se chateou comigo, porém era minha decisão e eu não a mudaria. Contatei a rainha e pedi que retirasse os meus poderes. A rainha tentou recusar, mas não aceitei e insisti até que, sem mais opções, ela cedeu e anunciou o dia em que faria isso. Uma semana, sete dias para deixar de ser uma fada.
Durante esses dias retomei as tarefas de fada, realizei os desejos com ânimo e um sorriso no rosto. Aproveitei minha magia e me diverti por todos os lugares em que passava. Kalinda e eu também brincamos muito, pois ela percebeu que não mudaria de ideia.
- Obrigada por entender, Kalinda.
- Não entendi, não. Mas você quem decide. – Mostrou a língua.
- Amo você. – Sorri e ela continuou mostrando a língua.
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Só faltava uma hora e eu me preparava. O ar parou de circular e um silêncio surgiu. Destiny entrou em minha casa e sorriu.
- Você é insistente, garotinha.
- Só estou lutando pelo que amo.
- Não vale a pena, querida. Quando você se encontrou com ele, já era planejado que acabariam se apaixonando, mas era passageiro. Já deveria estar terminado, mesmo assim você tenta ultrapassar limites.
- Não me importa, eu mesma farei meu destino.
- Que belo, porém muito trágico. Desse destino você não escapa, vocês jamais viverão juntos.
- Deixe-me em paz! Eu e ele viveremos muito bem juntos.
- E ameaçar minha própria existência? A linha do tempo? Lira, vocês estão me machucando. Isso é errado e egoísta. Tudo andará como deve ser, tudo no lugar correto. – Fitou-me com o apertado e partiu.
Tentei esquecer a conversa e prosseguir com o plano, mas agora estava receosa. Meus passos pesavam e quase desfaziam as nuvens. Lembrei-me do olhar tímido de Mason e de suas bochechas rosadas, do quanto ele precisava de mim e agora eu dele. Minhas forças se renovaram e voei determinada ao palácio.
- É o momento. – Disse a rainha, pegando seu cetro. – Ao perder seus poderes, você cairá das nuvens, Kalinda a ajudará para que não se machuque. – Kalinda entrou pelos fundos e eu assenti.
Meu corpo brilhou e luzes se espalharam por todo o palácio, ofuscando minha visão. Senti toda minha energia sobre o ambiente e sorri. A rainha balançou o cetro e concentrou-se, chamando minha energia. Todas as luzes se apertaram ao meu redor e a rainha pegou a pedra transparente que seu servo segurava.
- Toda a magia se aprisione na pedra, inquebrável e ilimitada. Lira, você deixa de ser uma fada e torna-se corpo sem magia. Aceita o que foi dito?
- Sim...
- Avante, magia!
Toda a energia se encaminhou para a pedra enquanto a rainha a apertava. Minhas asas se atiraram como bala na grande rocha atrás de mim. Por um momento vi o mundo em preto e branco e perdi os sentidos. Abri os olhos e recuperei os sentidos de maneira diferente, menos intensa. As nuvens em meus pés sumiram e caí. Embora parecesse uma queda lenta, temi que Kalinda não chegasse a tempo de me salvar e tudo tivesse sido em vão.
- Te peguei!
- Obrigada.
Kalinda me pousou em frente à casa de Mason, com o rosto derretido.
- Eu nunca vou te esquecer, amiga. – Disse a ela e a abracei com saudades. – Te amo muito!
- Também te amo, Lira. – Choramingou e vi seus olhos lagrimando.
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O sino de intervalo tocou e vi sua cabeça abaixada. Sorri e me aproximei.
- E os amigos, Mason, ainda sem?
- Lira! – Seus olhos brilharam e um sorriso surgiu.
- Agora podemos ficar juntos.
Estávamos eufóricos durante o intervalo. Contei-lhe o que fiz e que não me arrependera e fui recompensada com muitos beijos e abraços.
- Mas se você não é mais uma fada, onde vai viver?
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Tocamos a campainha e ela abriu.
- Oi, mãe. Ela pode morar comigo?
- O quê?! – Dona Edna colocou a mão no peito. – Mas que proposta... Surpreendente.
- Eu sinto muito, dona Edna. Foi ideia dele, não precisa fazer isso.
- Não, não. A gente pode conversar sobre isso.
- Valeu, mãe. A Lira vai ficar no quarto de hóspedes, ao lado do meu. – Piscou o olho para mim e entrou correndo. – Vamos organizar seu novo lar.
- Mason, a dona Edna nem conversou sobre. Não posso chegar invadindo a casa dos outros!
- Mamãe sabe que você é a única que me visita, a única mulher, além dela, da minha vida. – Enrubesci e fiquei calada.
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Nosso relacionamento estava perfeito! De vez em quando brigávamos, mas todo casal perfeito tem essas briguinhas. Mason era ciumento e superprotetor, não queria que eu passeasse sem sua companhia, no entanto eu discordava.
- Você nem deve gostar de fazer passeios!
- Com você eu gosto de tudo.
- Até ir ao zoológico?
- Topo!
Observei de pertinho os animais e fiquei boquiaberta com vários deles. Ao final da excursão, o guia nos mostrou uma jaula com dois tigres brancos.
- Olha que lindos, Mason!
- Assustadores também – Respondeu ele.
- O ferrolho está aberto! – Um garotinho gritou.
Olhamos assustados e um dos tigres arranhava a jaula, suas garras próximas à lingueta. O guia olhou para os lados.
- Alguém viu o cadeado?
O tigre alcançou a lingueta e abriu a jaula. As pessoas ao redor correram e gritaram, o guia procurava pelo cadeado.
- Vamos sair daqui! – Pedi a Mason e corremos para a área preservada que mantinham ali.
- Aqui eles não devem nos encontrar. – Disse Mason escondendo-me atrás de uma árvore.
Ouvimos passos na areia.
- Será que...
- Shhhhhh... – Mason me silenciou.
Olhei de relance e os percebi. Esperei que fossem embora, mas nos farejaram e continuavam procurando. Mason olhou para mim e acenou, depois de contar até três nós corremos. Segurei a mão de Mason e continuei a corrida, com o corpo tremendo e quase parando. Corremos um pouco mais e paramos ao nos deparar com um dos tigres a nossa frente, olhamos atrás e vimos o outro.
- Ela está fazendo isso, Mason!
Os tigres se aproximaram, mostrando as presas. Fiquei plantada no lugar, sem ideia do que fazer.
- Fuja! – Mason gritou.
- Eu não vou te abandonar.
As patas se arrastavam sobre as pedras, arranhavam e arrepiavam. Estremeci ao vê-los tão perto e meu único movimento foi erguer as mãos e fechar os olhos. Alguns segundos se passaram e tive medo de abrir os olhos, mas não sentia dor alguma.
- Lira, você nos salvou!
Abri os olhos e vi um campo de força à frente.
- Ela tinha razão. Não poderíamos ficar juntos... Não com vida. – Solucei e tentei recuperar o foco. – Quando eu desativar o escudo, você corre para a direita.
- E se eles ficarem e pegarem você?
- Vão estar desesperados com sua correria, não vão se lembrar de mim. Precisamos arriscar.
- Lira... Você está bem?
- Não, mas é melhor conversarmos depois.
Mason assentiu com a cabeça. Desativei o escudo e o vi correndo, os tigres hesitaram, mas o seguiram. Quando os dois ficaram próximos eu projetei o campo de força ao redor deles, prendendo-os.
Ajoelhei-me e chorei.
- Lira! O que está havendo? Nós conseguimos!
- Você não percebeu? Eu posso fazer magia. Se posso fazer magia significa que não deveria estar aqui.
Mason se calou e me abraçou.
- Eu não quero te perder.
- Eu também não quero te perder, mas é o nosso destino.
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Observei enquanto Mason cantava e dançava ao lado da nova namorada. Eu retirara todas as lembranças que nos uniam. Escondia-me na árvore de sempre.
- Eu avisei, Lira. Era o destino.
- Você já venceu, o que quer aqui?
- Queria que soubesse que embora não se lembre de nada, ele mudou. Você o mudou, mesmo que nem ele perceba. Ah! Esse amor atrevido que vai além de mim. Ele te ama sem saber, portanto não importa o quanto você tire dele, jamais tirará o amor que já sentiu.
Segurei o choro e apenas uma lágrima escapou.
- Eu o amo. Eu não queria perdê-lo...
- Se quiser, você pode usar o encanto em si mesma, esquecer dele e ser livre dessa dor.
- Não, eu nunca farei isso. Suportarei essa dor por toda minha vida e guardarei todas as lembranças sobre o que existiu entre nós. Que por um momento nós vencemos você, fomos além. E enquanto eu respirar, amarei por mim e por ele ao mesmo tempo.
Destiny deu seu sorriso.
- Sabia que diria isso.
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Aleatoriamente Contando
RandomDesate os sapatos, solte as algemas que o prende ao chão e deixe que sua mente vagueie por mundos diferentes contados aqui. Não tenha medo do tédio, aqui existe de tudo para evitar esse grande inimigo. Leia e descubra histórias de amor e fantasia e...