Nascer do Sol

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 Tive o que pode ser considerada uma infância e adolescência péssimas. Quando tinha dez anos minha mãe estava planejando uma construção em uma ilha. Lá construiu uma grande mansão e sempre que eu perguntava o porquê daquilo ela dizia que eu saberia na hora exata.

 No mesmo ano eu entendi o que ela pretendia. Minha mãe isolou-me naquela ilha, onde passei anos precisando sobreviver por conta própria. Antes de me abandonar ela preencheu a biblioteca com diversos livros, e esse foi meu modo de viver. Os livros eram o máximo que eu chegaria da sociedade, até o ano em que completei 27 anos...

 Pela primeira vez, durante todos esses dezessete anos, alguém bateu na minha porta. Fiquei alguns minutos em choque, duvidando de que aquilo poderia ser real. Será que eu estava ficando louco?Abri a porta e encontrei um garoto que aparentava ter minha idade quando fui abandonado. Fiquei com pena de ele estar sofrendo o mesmo que eu.

 - Oi!Bom, por onde eu começo... Hãm... Você não é um homem tipo: “aproveitador” não é? – Perguntou o garoto demonstrando um pouco de medo.

 - Oh! Não, não. Pode ficar tranquilo. – Falei tentando soar acolhedor.

 - Bem, acho que temos muito a conversar, não acha?

 - Sim, claro. Entre. – Abri a porta e o deixei observar a sala.

 Sentamos no sofá e ele começou a contar os fatos rapidamente:

 - Eu deveria estar em um navio de férias, mas ocorreu uma tempestade, a névoa encobriu uma pequena rocha, o navio bateu e com o impulso eu acabei caindo no mar. Não sei por que, mas os salva-vidas não foram me socorrer, lançando apenas uma boia para que eu pudesse segurar caso estivesse vivo. Após isso eu cansei de batalhar contra a correnteza e apenas deixei que ela me levasse aonde quisesse. Acordei miraculosamente nessa ilha e me desesperei por achar que nunca mais veria minha família e meus amigos, mas então encontrei sua mansão e vi você, passei a ficar mais calmo e esperançoso. A propósito, eu sou Eduardo.

 - Nossa! Muitas coisas aconteceram hein? Minha história é um pouco mais chata. Mas isso não importa. Meu nome é Carlos e você é bem-vindo aqui Eduardo.

 - Obrigado. Se quiser contar sua história ficarei feliz em ouvir.

 - Não me sinto confortável para contá-la agora, mas quem sabe outro dia?

 - Está bem.

 - Venha. Mostrarei-te a casa.

 Depois de mostrar todos os cômodos e ouvir seus elogios, fomos ao último lugar e o que eu mais gostava: a biblioteca.

 - Incrível! Por que não me contou logo que tinha uma biblioteca? Olha só quantos livros! – Admirava-se ele tocando em alguns livros.

 - Não imaginava que gostava de ler. Nessa idade eu detestava, até precisar deles para me sentir acompanhado.

 - Eu amo ler, mas só gosto de modernos.

 - Se quiser ler algum, pode pegar, mas tenha cuidado. Esses livros acabaram se tornando meu lar e você não vai querer me deixar debaixo da ponte, vai? – Avisei piscando um olho para mostrar que estava brincando.

 E lá ele ficou. Decidiu dormir cedo da noite, por mais que eu o tenha permitido de ir à cama só quando quisesse.

 Acordei às seis horas e fui fazer o café. Olhei o jardim pela janela e vi-o lá, então resolvi falar com ele.

 - Bom dia. – Falei sentando-me na grama ao lado dele.

 - Bom dia!

 - Então, o que faz aqui a essa hora?

Aleatoriamente ContandoOnde histórias criam vida. Descubra agora