Era uma vez uma jovem garota que vivia isolada em um castelo. Ninguém das redondezas jamais entendeu o porquê de sua solidão. Mas a verdade é que a garota gostava de passar todos os seus dias tecendo novos lugares, novas histórias e novas pessoas, colorindo todo o castelo. Não havia um lugar ali sequer que não estivesse abaixo das alegres e vivas pinturas da garota, até seu cabelo era extremamente colorido, de forma que não se poderia decorar a ordem das cores. Gostava de comprar roupas brancas para pintar seu estilo em cada linha da peça.
Algumas pessoas que viviam nos arredores diziam que ela era bizarra, mas na verdade tudo o que a garota fazia era a diferença, expressar a essência mais íntima por meio de todas as cores possíveis. Mundos paralelos, criaturas belas, diferentes e únicas, exclusivas. Menina excêntrica, especial, viva como as cores pintadas nos cabelos e paredes.
Certo dia, um invejoso ilusionista temendo perder o entusiasmo dos que apreciavam sua arte, resolveu fazer algo com aquela colorida garota. Entrou no castelo e hipnotizou a pintora, extraindo de sua mente a criatividade, memórias e lugares que só havia naquela pequena cabeça.
A garota passou a viver deveras solitária, sem cor, vendo cada dia cinza passar. Suas pinturas já não libertavam nada diante dos seus olhos, eram apenas desenhos feitos por outra pessoa que não fora ela. Tudo o que queria era deixar o tempo passar sem mais mudanças ou cores, apenas passando, até seu fim.
Passados alguns meses, um escritor muito famoso resolveu conhecer as tão belas obras da garota do castelo. Vendo o exterior do castelo já imaginava o interior da garota, uma chuva de cores, emoções, expressões. Mas não foi isso o que encontrou ao ver a garota que chegava para atendê-lo. Via um cadáver que se movimentava, rosto tão pálido quanto um livro sem as letras pelo qual tanto ansiava.
A garota lhe contou do ocorrido. Contou que já não tinha mais ideias, que sua mente estava tão branca quanto ela. O escritor resolveu ajudá-la. Ela não poderia criar algo, mas poderia pintar o que já fora criado, então ele resolveu escrever cenários novos, que vinham de dentro da sua mente. Criou e escreveu lugares diversamente coloridos. Agora só faltava estes criarem vida nos quadros do castelo. No entanto a pobre menina não sabia ler, decodificar aqueles desenhos escritos geralmente com uma só cor. Decidiu ler para ela, e a cada cenário lido, um mundo novo era pintado. Quadros surreais, impossíveis, mas que tornavam-se reais aos olhos de quem os via. O escritor sentia-se privilegiado por tão bela visão.
Todos os dias um texto descritivo era lido e um quadro era pintado. Aos poucos a garota recuperou o rubor nas maçãs do rosto. Sua aparência agora voltara a de antes. Branco? Apenas o vestido que seria pintado tão logo fosse colocado. As cores iam e vinham na mente da menina, sua criatividade retornava a cada quadro novo. Entretanto, ela nunca mais pintou seus mundos, decidiu pintar sempre os escritos e lidos pelo escritor, não precisava mais de mundos individuais, tinha o seu bem ali à frente, tão real quanto irreal, seu escritor.
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Aleatoriamente Contando
RandomDesate os sapatos, solte as algemas que o prende ao chão e deixe que sua mente vagueie por mundos diferentes contados aqui. Não tenha medo do tédio, aqui existe de tudo para evitar esse grande inimigo. Leia e descubra histórias de amor e fantasia e...