Ao saber que estava justo o casamento da sobrinha, considerou-se o Lemos derrotado
em seus planos. Como, porém, era homem que não abandonava facilmente uma boa idéia,
cogitou no modo de não perder a partida.
A única idéia que lhe ocorreu foi de expediente banal; mas acontece que são estes
precisamente os que surtem melhor efeito quando se trata de assuntos que se resolvem
pelas conveniências sociais.
Em sua passagem para a casa de Aurélia, via Seixas à janela, na rua das Mangueiras,
uma menina, apontada entre as elegantes da corte. Para o nosso jornalista fora
inqualificável grosseria, encontrar-se com uma senhora bela e distinta, sem enviar-lhe no
olhar e no sorriso a homenagem de sua admiração.
Seixas pertencia a essa classe de homens, criados pela sociedade moderna, e para os
quais o amor deixou de ser um sentimento e tornou-se uma fineza obrigada entre os
cavalheiros e as damas de bom tom.
A moça pertencia à mesma escola. Também ela era noiva, como o Seixas; e não
obstante recebia com prazer o cortejo galante. Se por acaso os dois se encontrassem em
alguma sala, ausentes daqueles com quem estavam prometidos, teceriam sem o menor
escrúpulo um inocente idílio para divertir a noite.
Nessa casa da rua das Mangueiras morava o Tavares do Amaral, empregado da
alfândega. Lemos, que freqüentava o velho camarada da vizinhança, talvez já na intenção
de manter um ponto de observação, notou aquela mútua correspondência de Fernando com
Adelaide.
A primeira vez que encontrou o Amaral na rua do Ouvidor, o velho insinuou-se em
sua intimidade; a título de felicitação encareceu-lhe ao último ponto as vantagens do
casamento da filha com Seixas.
- Com jeito, o melro está seguro! Concluiu ao despedir-se
Amaral não via de boa sombra a intimidade de sua filha Adelaide com o dr. Torquato
Ribeiro, que além de pobre, estava dessaranjado. A idéia do Lemos sorriu-lhe. Achou
meios de introduzir em casa Seixas para quem este novo conhecimento veio a seu um
tônico poderoso.
Desvanecidas as primeiras efusões do puro e íntimo contentamento, que lhe deixou o
generoso impulso de pedir a mão de Aurélia, começara Fernando a considerar praticamente
a influência que devia exercer em sua vida esse casamento.
Calculou os encargos materiais a que ia sujeitar-se para montar casa e mantê-la com
decência. Lembrou-se de quanto avulta a despesa com o vestuário duma senhora que
freqüenta a sociedade; e reconheceu que suas posses não lhe permitiam por enquanto o
casamento com uma moça bonita e elegante, naturalmente inclinada ao luxo, que é a flor
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Senhora- José de Alencar
RomanceOBRA DE DOMÍNIO PUBLICO *NÃO SOU A ESCRITORA DA OBRA, ESTOU APENAS REESCREVENDO PARA O APLICATIVO CLÁSSICO DA LITERATURA BRASILEIRA