No meio do alvoroço causado pelo incidente, enquanto acudiam os médicos, vinham
os sais, e corriam as amigas, umas inquietas, e outras curiosas, choviam os comentos.
- Que imprudência!
- Aquele desespero!... Eu logo vi!
- E ela que não tem o costume de valsar.
- Quis fazer-se de forte!
- Não é, senhora; aquilo foi o vestido. Não vê como acocha a cintura.
- Ora! Remantismos!... dizia Lísia com um muchocho; e acrescentou para Adelaide:
- Acredita no desmaio?
- Pensa que foi fingimento?
- Requebros com o marido. Queria que ele a carregasse no meio da sala e à vista de
todos. Gosta de mostrar que o Seixas a adora e derrete-se por ela! Pudera não! Uma boneca
de um milhão de cruzeiros!...
Nesse tema continuou a menina, que tinha a balda muito comum de falar como um
realejo, pensando que assim abismava os outrso com um espírito gasoso, quando ao
contrário aguava o que a natureza lhe dera.
Entretanto Seixas tinha conduzido a mulher ao toucador e deitara o belo corpo
desmaiado em um sofá. Estava inquieto, mas não aflito. No transportar a moça havia
sentido o calor de sua epiderme e o pulsar de seu coração. Não passava o acidente de
ligeira síncope.
Com efeito, antes que a inundassem de éter ou álcali, e que lhe desatacassem a
cintura, Aurélia abriu os olhos e arredou com um gesto as pessoas que se apinhavam junto
ao sofá.
- Não é nada: uma tonteira, já passou.
O médico que tomava-lhe o pulso, confirmou, limitando-se a recomendar além do
repouso, o desafogo do vestido para respirar melhor.
Não é preciso; basta que me deixem espaço, respondeu Aurélia.
Retiram-se todas as senhoras, e voltaram à sala. D. Firmina demorou-se com
intenção de não deixar a moça; mas esta pediu-lhe que a substituísse nas funções de dona
da casa.
- Fernando fica. Vá para a sala; e faça continuar a dança. Estou boa; não tenho nada.
Se constrangerem-se, é que me incomodam; cismarei que estou doente!
D. Firmina riu-se, inclinou-se para beijar a moça na testa e voltou à sala. Ao
aproximar-se da porta, viu alguns curiosos que espiavam para dentro, e cerrou as duas
bandas, fechando-as com a aldraba.
Aurélia ficara deitada no sofá, de costas, na posição inclinada em que Seixas a
colocara sobre as almofadas. Quando D. Firmina afastou-se, ela cerrara outra vez as
pálpebras, e engolfou-se no sonho delicioso a que a tinham arrancado.
Sua mão tateou hesitando pela borda do sofá, e encontrou a de Seixas que estava
sentado junto dela, e contemplava a formosa mulher, ainda mais bela nesse langue
VOCÊ ESTÁ LENDO
Senhora- José de Alencar
عاطفيةOBRA DE DOMÍNIO PUBLICO *NÃO SOU A ESCRITORA DA OBRA, ESTOU APENAS REESCREVENDO PARA O APLICATIVO CLÁSSICO DA LITERATURA BRASILEIRA