anything as long as i can see your face

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Foi em novembro que tudo começou. Foi em novembro que o quarto de Harry ficou vazio. Foi em novembro que Louis desabou.

Eles estavam quase terminando a escola, discutindo sobre que faculdade fariam, indo com Niall e Liam ao Baker's, aquela lanchonete na esquina da casa de Harry, enquanto Paul, o dono da lanchonete, reclamava sobre a risada alta e exagerada de Niall espantar os clientes. Era toda semana assim.

Até aquele maldito carro capotar.

Olhando assim, parecia até um acidente comum. Carros capotam todos os dias. As pessoas não ligam, ligam a TV, assistem ao noticiário e não dão muita importância aos fatos, exceto para o tempo reservado para aquela típica frase de "este mundo está perdido". É sempre assim.

Louis era assim.

Até ele aprender a dar importância para carros capotados. Principalmente quando seu namorado e a sua cunhada - uma pessoa muito legal - estão dentro dele. Principalmente quando seu namorado morre e sua cunhada não se lembra do seu rosto, não se lembra do rosto do próprio noivo.

Louis não conseguiu ficar por muito tempo no velório de Harry. Ele só não desmaiou por um milagre, porque além de ter ficado quase dois dias sem comer nada por pura falta de apetite, de ter dormido só 3 horas o dia inteiro e de sentir as lágrimas o queimando por dentro, Louis ainda teve que tentar consolar Anne, mãe de Harry, que, se não estivesse pior do que ele, estava chegando ao mesmo nível.

Niall, seu melhor amigo, junto a Liam, o levou para casa quando o caixão de Harry começou a ser colocado na cova. Ele se sentia dopado, e suas mãos tremiam.

- Louis, cara. - Niall pegou o rosto de Louis com as duas mãos, desviando seu olhar do caixão de Harry. - Você vai acabar passando mal. Nós vamos leva-lo para casa, tudo bem? - Ele falou naquele dia.

Niall teve que repetir a pergunta até que o cérebro de Louis voltasse a funcionar e ele conseguisse por fim assentir.

Agora, ali, sentado no Baker's sozinho, remexendo seu sorvete e sem a presença de Harry, Louis queria sumir. Era mais um daqueles dias em que ele mal conseguia levantar da cama de tão triste que se sentia. Paul deve ter percebido o tamanho das olheiras nos olhos de Louis, pois colocou cobertura a mais em seu sorvete, e três daqueles canudinhos, ao invés de um só. Paul sabia o quanto Louis gostava daqueles canudinhos de sorvete, pois já fora subornado por Louis a colocar canudinhos a mais várias vezes, mas todos os canudinhos do mundo não descreveriam a falta que Harry fazia a ele naquele momento.

Já faziam três semanas. Quase um mês. Quase um mês e Louis não queria encarar as pessoas no colégio na semana que vem, o perguntando onde estava Harry. Ele havia tentado convencer sua mãe a se mudar para Londres com ele, mas ela negou, dizendo que isso prejudicaria ele e as meninas - suas irmãs - na escola. Louis não discutiu. Louis não estava querendo discutir com nada ultimamente.

Quando começou a nevar, Louis não voltou para casa. Ele só foi para a praça no centro do vale em que morava e se sentou em um dos balanços. Ele se empurrou levemente, o suficiente para não deixar o balanço parado, e olhou para cima. O céu branco era como o seu coração. Gelado e sem cor. Louis não duvidava nada de que se alguém o pegasse nas mãos e o esmagasse, ele viraria pó, de tão duro que estava.

Ele abaixou o olhar novamente e olhou para o balanço ao seu lado. Doía. Doía como o inferno. Doía o fato de Harry não estar ali, sentado no outro balanço ou empurrando Louis, o fazendo "voar" e ter os cabelos jogados em seu rosto.

Não interprete Louis mal. Ele não era depressivo assim todos os dias. Claro, ele sentia a falta de Harry como ninguém ao seu redor, mas ele conseguia se manter bem forte. Mas tinha dias que era simplesmente impossível. Dias como aquele, em que estava fazendo um frio insuportável e ele não havia acordado com Harry o abraçando, e esquentando seus pés com aquelas meias horríveis de carrinhos e ursinhos que mal cabiam em seus pés gigantes.

- Oi.

Louis voltou à realidade quando ouviu uma voz feminina e viu alguém se sentar no balanço ao seu lado. Félicité.

- Por que não volta para casa? - Sua irmã perguntou, pegando a mão gelada de Louis e a esquentando com as luvas que usava. Félicité, ou só Fizzy, como gostava de ser chamada, era a irmã mais próxima de Louis, e a que mais lhe dava forças nos momentos em que ele caía.

Louis só deu de ombros, com um bico chateado nos lábios.

- Você vai acabar ficando doente. - Ela passou as mãos pelos ombros do seu irmão, para tirar a neve fina dali. Eram 5 da tarde, estava tudo bem escuro, e uma neblina fina estava no ar, deixando o clima ainda pior.

Louis repetiu o ato.

- Você só não pode continuar assim, Lou. - Ela suspirou. Ela tinha 15 anos, mas, às vezes, parecia ter 30. - Só... Deixe ir.

- E como eu vou fazer isso? - Ele fechou os olhos.

Fizzy soltou o ar que segurava, inclinando a cabeça e olhando com pena para o seu irmão. Ela balançou a cabeça negativamente.

- Depende de você. Como quer deixar ir?

- Eu não tenho a mínima ideia.

A garota apertou os lábios, suspirando mais uma vez.

- Por que não pensa nisso quando estivermos em casa? Enchemos a lareira de lenha, colocamos alguns cobertores na sala e assistimos um filme, sim? Eu posso pedir para a mamãe fazer seu Yorkshire Tea.

Louis respirou fundo.

No final das contas, ele pulou do balanço e começou a sair do parque, sendo recebido pelos braços de Fizzy quando ela fez o mesmo, tentando esquentá-lo.

Louis deu uma última "checada" no balanço antes que ele saísse de sua visão, e soltou um suspiro baixo, limpando uma lágrima que havia caído, escorregando por sua bochecha.

Como ele deveria desistir de Harry quando Harry era tudo o que ele tinha?

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