The Ghramers

A Chegada (1)

Minha visão estava interceptada pelo fato de estar com um saco preto cobrindo meu rosto. Eu estava me debatendo mas o esforço era em vão. Meus pulsos estavam presos com o que parecia ser uma algema, mas uma algema diferente. Meus braços estavam sendos apertados com duas mãos fortes e grandes, iguais à de um segurança de shopping. A cada passo que dava eu conseguia sentir que meu corpo estava ficando cada vez mais pesado, como se meu sangue estivesse se petrificando. O que estava acontecendo? O que estavam fazendo comigo? Tudo aquilo se passava em minha cabeça desgovernadamente. Minha respiração estava acelerada, dava para sentir o suor que se acumulava em meu rosto. Um barulho alto e infernal emergiu do nada como um ataque surpresa. Um som parecido de uma porta de metal sendo arrastada no chão tomou conta do lugar que parecia um corredor.

- Entra pirralho.- uma voz grossa aparece do meu lado, agora tinha certeza que era um homem, provavelmente alto e forte.

Um empurrão em minha cabeça me faz cair ao chão. Um chão liso e gelado do qual tinha a sensação de já ter sentido o mesmo em algum lugar. Logo em seguida, as algemas são tiradas do meu pulso, eu até tentaria me levantar e sair daquele lugar correndo, mas eu estava muito fraco naquele momento. Acho que injetaram algo em meu organismo antes de me levarem para aquele lugar, pois a fadiga da qual estava sentindo era extremamente forte. Ouço mais uma vez um barulho de uma porta se fechando, aquele lugar estava parecendo uma prisão do número absurdo de portas que se abriam e fechavam.

- Olha só, mais um sortudo para a coleção do Black. - ouço uma voz masculina e me assusto por ter pensado que estava completamente sozinho.

Apoio minhas mãos naquele chão e me levanto com uma velocidade incrível ao mesmo tempo em que tirava o tecido que cobria meu rosto. Um menino. Um menino com um topete meio desarrumado estava sentado em uma cadeira branca em frente a uma beliche.

- Quem é você? Onde eu estou? O que está acontecendo neste inferno de lugar? - minhas palavras saíram rapidamente de minha boca sem ao menos dar uma pausa para retomar o fôlego.

- Ei, ei, ei... calma ai novato- ele riu levemente de canto, como se estivesse debochando de minha cara- Olha só. Chamando a PPG de inferno! Você tem super inteligência ou algo assim?

Super inteligência? PPG? O que diabos aquele garoto estava falando? Era tudo o que eu precisava saber para me acalmar. Uma maré de pensamentos estava se remexendo em minha cabeça.

- Sim eu sei, você tem muitas perguntas! Mas eu tenho uma pergunta para você antes...-ele se levantou e se dirigiu à pequenos passos parando em minha frente. Seus olhos eram azuis, um tipo de azul profundo e tão claro quanto ao céu em um dia ensolarado e sem nuvens- Você se lembra do que aconteceu antes de vir pra cá?

Eu não entendi a pergunta dele, porém algo fez com que outro pensamento penetrasse em minha mente. Eu não lembrava de absolutamente nada do que tinha acontecido antes de entrar naquele lugar. Nada. Nem minha família, amigos, nem ao menos minha idade. Apenas um nome. "Clark". Era o nome que circulava em minha mente após a pergunta dele.

- Vamos lá novato! Responda-me!
- Não, eu... eu não lembro de nada.- Eu estava surpreso por ouvir o som da minha voz novamente e não o som de outra porta se abrindo.

- Hum... isso é normal. E você lembra do seu nome? Idade? -afinal, era uma conversa ou um questionário?

- Eu acho que meu nome é Clark...

- Você acha? Bem, "achar" é uma coisa absolutamente normal aqui. Ter certeza que é o complicado.

Semicerro os olhos por um segundo tentando compreender o que ele acabara de dizer, mas em minha mente todas as palavras que ele falava eram sem nexo algum.

- É... o que você quis dizer com "Ter certeza que é o complicado"? -falo fazendo sinais de aspas no ar.

- Ok, você tem que aprender algumas coisas enquanto estiver vivo por aqui. Primeiro: você perdeu suas memórias. Não sabe de absolutamente nada, admito que achei incrível o fato de saber seu próprio nome em tão pouco tempo. Segundo: você está na PPG, "Prisão para Ghramers". Sabe o que é um Ghramer neh? Tecnicamente são os mutantes, aquelas pessoas com poderes e habilidades sobrenaturais e essas coisas de super-heróis, sabe? Terceiro: não pense que aqui será um bom lugar, como uma escola ou algo do tipo. Aqui é o inferno. Aqui é o último lugar em que você sonharia em vir, na verdade, você nem pensaria em vir aqui. Você lutará com outros Ghramers do seu nível. Existem os Iniciandos, os Medianos e os Veteranos. Você é um iniciando, como eu. Mas como eu sei disso tudo? Prazer, Maxwell, tenho o poder da telepatia.

- Poder da telepatia? Ghramers? Luta? É muita coisa para absorver de uma vez só.

- Sim, eu entendo... assim como você, eu já passei por essa de novato. Eu era como uma pessoa em um labirinto sem saída. Perdido. Mas uma pessoa muito especial me ensinou a me encaixar. A encontrar uma solução para esse labirinto impossível. E eu vou ser essa sua pessoa especial. - ele me deu um tapinha de leve em meu ombro esquerdo e se sentou em uma das camas. - A sua cama é a de cima, espero que não se machuque caindo dessa altura. Aliás, você sabe qual é o seu poder?

- Eu não... eu não lembro...- antes que eu terminasse de falar, um estrondo poderoso se ecoou pelo corredor, me virei e vi que a porta era transparente, do outro lado havia outra cela, com uma menina loira. Ela estava olhando diretamente em meus olhos. De repente, um flash de uma memória passada se opôs aos outros pensamentos em minha mente. Uma lembrança borrada. Mas algo me pareceu claro, algo naquela menina era familiar para mim. Eu podia sentir que a conhecia de algum lugar, mas uma imagem atrapalhou aquele momento de trocas de olhares. Uma mulher sendo arrastada por um segurança pelo pé. Em sua testa, um buraco parecido de um tiro. O sangue dela ia deixando um rastro naquele chão branco como a neve. Eu estava em transe com aquela imagem mas o comentário de Max me fez voltar ao normal.

- Mais uma coisa... Clark. Não tente fugir desse lugar. Algo me diz que você ja está ciente do que acontecerá se você der uma de super-herói, certo?

- Eu levo um tiro! Que legal!

- Não, não. Você não leva um tiro.
- Então o que era aquilo na testa dela? Ela decidiu fazer um buraco na própria cabeça por diversão?

- Ela tinha um dispositivo implantado na cabeça dela. Eu tenho. Você tem. Todos nós temos essa maravilha implantada em nossas cabeças. E os guardas tem o botão que se for apertado... BOOOOMM-ele fez um sinal de explosão com as mãos. Aquilo já era o cúmulo pra mim. Minha respiração começou a ficar acelerada, estava difícil respirar naquela cela toda fechada.

- Ei novato... quero que fique calmo agora- ele estava falando entre uma inspirada de ar forte.Eu me virei e vi um gás verde se espalhando pela sala. Max já estava no chão, desmaiado, e não demoraria muito para mim estar assim também.

Me viro e vejo a menina da cela à frente, ela estava desmaiada com uma das mãos apoiadas na porta. Meus olhos foram se fechando lentamente, meu corpo caiu no chão rapidamente e, como era esperado, desmaiei.

Acordei em um lugar diferente. O chão não era mais aquele branco da cor da neve e sim areia. Um estádio, como os de luta grega. Pessoas observando do lado de fora, sentadas em uma arquibancada protegida por uma barreira meio invisível. O que estava acontecendo ali? Será que era uma daquelas batalhas de que Max tinha citado há tempos atrás?

- Olá, meus amigos. Hoje, vocês vão presenciar uma luta... diferente. Um Novato irá lutar com um Veterano, como vocês pediram da última vez. Que o jogo comece!

O barulho da multidão se estendeu pela arena inteira. O som vinha de um microfone em um torre, um homem com uma roupa preta estava narrando aquelas palavras. De repente, um risco vermelho como um laser passa ao meu lado. Era um menino, ele estava com uma roupa cujo tecido parecia elástico da cor azul marinho. Algo me dizia que eu teria que dar o melhor de mim naquele momento. O pior era que nem mesmo eu sabia o que tinha que fazer.