Respostas (11)

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A água caindo em meu corpo era uma das únicas coisas que eram confortáveis nessa droga de lugar. Sua temperatura era morna, o que colaborava quando o assunto se tratava em relaxar. Algum shampoo estava mergulhado a água, pois ao cair sobre meu corpo criava um pouco de espuma. Pelo menos eles não nos deixavam andar com mau cheiro pelo lugar. Max batia na porta estreita que dividia o quarto do pequeno banheiro que havia em todas as celas. Ele era simples, apenas um vaso sanitário, um chuveiro eletrônico, do qual ligava automaticamente quando alguma pessoa entrava debaixo dele e uma pequena pia da cor branca - o que era esperado - com duas escovas de dente e um tubo de creme dental. Mais uma batita. Às vezes, ele conseguia me deixar fora do sério, principalmente fazendo aquilo. Eu mal acabei de entrar e ele já está impaciente para sua vez, incrível.

- Clark, paciência não é o meu forte! -sua voz abafada invade o pequeno cômodo.

- Nem o meu, mas olha só quem está reclamando. -falo mergulhando minha cabeça na água corrente.

Sua resposta foi apenas o silêncio, sinal de que ele já estava cansado de insistir. Max e eu tínhamos nossos momentos de discussões, mas nada até agora foi extremamente sério para quebrar a nossa amizade.
Alguns minutos se passaram, poderia dizer que foi em torno de catorze à dezesseis minutos. Saio do banheiro com minhas roupas sujas em um braço e minha toalha molhada em volta do meu pescoço. Max me fuzilava com seu olhar, mostrando seu semblante de frustação por tê-lo feito esperar.

- Pronto, madame. -falo ironicamente enquanto me encaminho para a porta incolor de nossa cela. Nela havia um puxador do qual possibilitava a abertura de uma pequena caixa que se ligava a porta. Abro a mesma e jogo minhas roupas sujas e minha toalha ali, para que mais tarde elas sejam lavadas.

Me viro e subo degrau por degrau da escadinha que ligava cama a cama daquela beliche, deito em minha cama de lado e fico observando as paredes da cela.

- Por acaso você não toma banho há séculos? -Max indaga olhando para cima em minha direção, pois estava em minha cama.

- Max, o banheiro está livre agora. Pode ir. Bom banho. -rio levemente olhando para sua cara. Ele se vira e entra em seu destino. Aleluia. Enfim, silêncio.

O clima da cela estava favoravelmente frio, do jeito que eu gostava. Me sento e pulo da minha cama, caindo de pé no chão, já que a altura não era muito grande. Vou em direção a porta e observo o que se passava na cela de Emma. Ela estava deitada em sua cama, como sempre. Deito na cama do Max com uma mão debaixo de minha cabeça e a outro em cima de meu peitoral, olhando para a parte de baixo da minha cama, que inexplicavelmente, não era feita de madeira, como a maioria, e sim do mesmo material da porta das celas. Minhas lembranças começam a tomar conta da minha mente. Meu primeiro dia na PPG. Minha primeira luta com o Julius. E os meus primeiros amigos. Emma se encaixava nesse quesito, mesmo que ela aparenta não gostar tanto assim de mim. Sentia que já a conhecia e que iríamos ser amigos, provavelmente por causa de seu rosto, que deixava a impressão de ser uma pessoa legal - só impressão, aparentemente.

Max sai do banheiro. Faz o mesmo que eu fiz com minhas roupas e se senta na cadeira com a toalha em volta de seu pescoço.
- Que tédio. -falo entre uma inspiração de ar profunda. Aquilo era a pura verdade, não havia nada de legal para se fazer enquanto se estava dentro daquele cubículo.

- Isso que você está aqui há algumas semanas, imagina quem está aqui durante anos... ou até mesmo quem presenciou o início da Prisão. -ele fala se esticando na cadeira e bocejando profundamente, sugando uma boa porcentagem de ar.

- Tem algum Ghramer que está aqui desde o início? -indago curioso sobre o assunto.

- Bem... sim, mas não sabemos se ele é um dos primeiros porque ele não fala nenhuma palavra. Chamamos ele de Implícito. -rio levemente com o nome. Aquilo estava mais para uma piada.

- Já tentou falar com ele?

- Não, não custa tentar nada sabendo que vai fracassar.

- E como ele luta?

- Clark, ele é um Veterano. -ele ri debochando do meu comentário. - Como acha que ele luta?

Sim, admito: minha pergunta não foi uma das mais racionais. Uma pequena chama de curiosidade se acendeu dentro de mim para saber mais sobre esse tal homem, mas como Max acabara de dizer, uma das poucas coisas que eles saberiam é algo sobre ele. Meu pensamento logo é interrompido assim que uma memória se oponha em minha cabeça. O assunto do tal Sr. Black, que Max e eu estávamos conversando durante o início da briga.

- Mas enfim, me conta sobre aquele Sr. Black. - me sento na cama olhando para ele, que se indireita na cadeira.

- Sr. Black, mais conhecido como o desgraçado que nos botou nesse inferno de lugar, para perdermos nossas vidas de um jeito maravilhoso na frente de vários humanos. -ele fala em seu tom sarcástico, porém com traços de seriedade na mesma. - Ele é aquele ser que fica falando aquelas baboseiras antes de uma luta começar.

- Mas... como vocês sabem o nome dele? -hesito em perguntar.

- Não é um nome. É um apelido. Nós nunca conseguimos ver seu rosto ou até mesmo o seu corpo, não pense na malícia, Clark. - um sorriso irônico surge em seu rosto. Seu modo sarcástico estava ligado até nos piores momentos.

- Ele é o que fica naquela torre, certo?

- Sim. Longe de todo o perigo. Covarde. -ele fala entre os dentes, o que deixava claro que Max não gostava dele, o que era o caso de todos.

- E... por acaso... só por interesse. - um riso fraco sai de minha garganta pelo nervosismo. - Ele já desceu na arena?

- Não... -ele semicerrou ou olhos, provavelmente desconfiado de minha pergunta. - Por quê?

- Ah, é, nada. Só queria saber mais sobre ele. E ele já esteve por aqui? Nos corredores das celas?

- Não, o que seria ótimo para a raça dele. Não há portas que impeçam o que ele merece por ter feito isso.

- Isso o que?- sim, eu sabia a resposta, mas uma coisa que eu não queria era fazer o assunto acabar, pois em seguida o silêncio reinaria nossa cela novamente, o que eu temia só de pensar. Ele me olha com seriedade em minha direção, não demonstrando estar animado em falar sua resposta. Um músculo de sua face se contrae e ele engole seco.

- Ter acabado com nossas vidas, Clark.

Meu coração se aperta contra meu peito com sua fala. Ele não deixava nenhum indício de esperança sustentar sua mente, nada fazia Max se animar em ter uma bela vida fora daqui. Sua baixa autoestima era desconfortável para mim, pois acredito que nada seja impossível.

- Todas as nossas vidas...

The GhramersOnde histórias criam vida. Descubra agora