Capítulo #2

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     Limpo com as mãos o vapor que ficou no espelho do banheiro devido a água quente, arrumo meus cabelos loiros em um pequeno coque, ponho a toalha e saio do banheiro molhando o chão com minhas pegadas, abro a gaveta absorvendo as lembranças que aqueles dois objetos me trazem, o pequeno rolo de linha de aço e o par de luvas que recebi na Floresta Do Desespero, eu também tinha o frasco de pilulas da malagueta, mas depois de tanto tempo não achei que seria saudável ingeri-las novamente de modo que joguei-as fora a alguns meses. Sobrou apenas isso da minha vida antiga, todos meus outros objetos viraram história quando minha casa foi abaixo com uma bomba. Fecho a gaveta irritada. Abro  gaveta de baixo e tiro uma blusa sem mangas e um short, depois abro a gaveta novamente, tiro a luva e guardo no bolso de trás do short.

     Vou até a cozinha e vejo meus pais.

     -Oi pai, quando chegou? -digo me aproximando dele. 

   - Ah, oi filha. -diz ele me puxando para si e beijando minha testa. A expressão cansada, o corpo rígido, a exaustão vai acabar corroendo ele, mas quem sou eu para falar sobre esforço em relação ao trabalho, acho que estamos tentando nos ocupar para não pensar tanto sobre tudo que já aconteceu. -Querida, prepara um café rapidinho pra eu levar.

     -Levar? -pergunto. -Aonde o senhor vai?

     -Voltar ao trabalho, meu bem. -diz ele se sentando na cadeira a minha frente. -Passei só pra avisar que irei chegar mais tarde hoje.

     Ah, tá. -pego as torradas com queijo e presunto que minha mãe tinha preparado e vou para o quintal. 

     É impressionante olhar o passado e se arrepender de certas coisas, porque tudo naquele tempo parecia ser mais simples, dou uma mordida na minha torrada degustando a incrível combinação que tem  queijo e o presunto com o pão. Uma mão pousa sobre meu ombro me afastando dos meus pensamentos.

     -Oi. -diz minha mãe sentando no batente ao meu lado.

     -Oi. -digo observando uma formiga tentando levantar uma folha. 

     -A gente não tem conversando muito, você está bem? -pergunta ela se mostrando preocupada.

    -Estou sim. Conversar sobre o que? 

    -A não sei, querida. -diz entrelaçando os dedos, ela sempre faz isso quando tenta encontrar palavras. -Podemos conversar sobre seu trabalho, suas amizades. -ela pondera, dando a perceber que está desconfortável. -Sobre garotos.

     -Agora você foi longe demais. -digo balançando a cabeça em negatividade. -Você sabe que não tenho cabeça pra isso.

    -Eu sei filha, estou apenas tentando me aproximar mais de você, sinto que estamos distantes. -ela abaixa a cabeça.

     -Desculpa mãe. -digo colocando a mão em seu ombro. 

     -Tudo bem, já passou. -ela arruma seu cabelo e coloca ele de lado. -Sabe, seu pai falou que tem se dado bem com seu amigo. Você sabe, o Tyler, ele ajuda seu pai sobre o trabalho no conselho do estado, se mostra muito interessado e aparenta ser um bom rapaz. 

     Depois de tanto tempo eu imagino que seria constrangedor um encontro com meus amigos novamente, mal vejo o Tyler andando por aí, ele foi sempre um mistério mesmo. E Jeremy não dá sinal de vida a bastante tempo, soube que ele estava treinando com um ancião, mas não procuro me atualizar sobre seu paradeiro. 

     -Ele é legal. -tiro a luva do bolso e experimento na minha mão. 

     -Que lindo. -diz minha mãe, olhando para o par de luvas pretas. -Onde conseguiu?

     -Na Floresta Do Desespero, cortesia do líder do estado. 

     -É? o que ela faz? -minha mãe se mostra interessada. 

     -Não sei, ela foi muito inútil. A não ser a noite quando coloquei elas por causa do frio. -digo retirando elas.

     -Posso ver? -pergunta ela como se fosse uma criança de 7 anos. 

     -Claro. -entrego o par a ela e ela o observa ferozmente.

     -Hayley isso é uma luva de impacto! -diz ela mostrando a luva como se fosse a coisa ais obvia do mundo.

     -Luva de impacto? 

     -É melhor eu demonstrar. -diz ela colocando a luva na mão direita. Ela se levanta e caminha até uma pedra com cerca de uma metro, ela cerra o punho da mão direita, se posiciona e soca a rocha.

    Eu esperava que ela irrompesse em lágrimas por causa da dor, mas o que acontece é diferente. A rocha se quebra em vários pedaços, umas caindo aos pés dela, outros fragmentos lançados longe. Meu ouvido ainda abafado pelo estrondo do golpe. 

      -Como você fez isso? -pergunto embasbacada.

     -Eu não fiz nada, foi a luva. -ela ri da minha cara de espanto.

    -Como assim?

     -Essa luva é uma arma, Hayley. -diz ela estendendo a luva. -É chamada de luva de impacto porque ela devolve o impacto. -minha reação deve ter continuado confusa porque ela decide explicar melhor. -Quando você coloca ela e decide socar uma rocha por exemplo, sua mão irá gerar uma força na qual irá se chocar coma rocha e pela rigidez da rocha, sua mão receberia os danos, mas quando você usa a luva, ela devolve o impacto triplicando a força, foi assim que a rocha se quebrou, ela não resistiu ao impacto. Em outras palavras, é como se você tivesse uma super força. Um partida de ping pong com três rodadas, você lança um impacto, a pedra devolve e você devolve com mais força.

     Eu me detesto! Essas luvas poderiam ter me ajudando muito, como não descobri isso antes?

     -Como você sabia o que ela é capaz de fazer? -pergunto avaliando minha mãe, até onde seu conhecimento vai?

     -A filha,tem muito sobre mim que você não sabe. -diz ela dando de ombros. -Mas são coisas do passado que eu decidi deixar no passado. 

     -Quero saber mais sobre a senhora.

     -É uma coisa que não vale a pena meu amor, vamos deixar assim ok? -diz ela com seu sorriso doce, imagino que seja para que eu não insista.

     -Como quiser, mãe.

     -Tá, vou preparar o jantar. Você me ajuda? -diz ela estendendo a mão para me ajudar a levantar. 

     -Claro. -parecendo pouco entusiasmada com a ideia. 

     Ela parece ser menos do que na verdade é, eu poderia esperar até o momento em que ela decidisse me contar, mas eu nunca fui assim mesmo.


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