Capítulo #18

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     Passo correndo pela fenda, é bastante frio e escuro também, tropeço as vezes e não sei se é devido a luz escarça ou meus olhos cheios de lágrimas, isso está me atrasando, limpo os olhos com as costas das mãos e acelero o passo. 

    Saio da fenda e machuco os olhos enquanto eles vão se acostumando com a luminosidade, aperto um botão e ligo o rastreador em meus pescoço, ele começa a apitar e me viro em várias direções para descobrir onde seu "bip" é mais constante. Noroeste. Sigo nessa direção e o rastreador começa a indicar que estou chegando perto. Desço uma encosta pouco ingrime e encontro um pequeno riacho no final, tenho que acha-los logo antes que a bateria dessa coisa acabe, se os galhos dessas árvores fossem maiores eu poderia correr sobre eles e aumentar meu campo de visão mas esses galhos irão ceder no momento em que eu encostar o pé, não posso dar a volta nesse riacho, vai levar muito tempo, se pelo menos eu tivesse uma ponte, me encosto numa árvore e descanso enquanto penso. É isso, me levanto e dou a volta na árvore e ponho  minha mão esquerda sobre ela, cerro o punho da mão direta e acerto um soco um pouco acima da base da árvore, várias folhas caem e começo a ouvir o som dela se partindo, ela se inclina e começa a cair, ela cai com um estrondo, uma ponta está nessa margem e a outra ponta chega até o outro lado da margem, piso com cuidado e depois começo a atravessar, a água do riacho acerta o tronco as vezes fazendo-o se mexer um pouco, depois de quase um minuto, consigo atravessar e volto a correr na direção que o "bip" me indica. 

    Encontro outra encosta, lá de cima vejo um campo aberto, um lago e eles.

    Meu pai está estirando no chão e Tyler está sentado sobre seu estômago, limpando as unhas, desço a encosta rápido e desajeitadamente, quando chego no final, ele finalmente me vê. 

    -Seu desgraçado! ONDE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ SENTADO? -berro.

    -Não é uma boa hora para agir feito uma criança.-ele rebate.

    -Pai. -grito mas ele não responde. -Pai o que está fazendo? Sai daí, faz alguma coisa.

    -Ah, isso? -Tyler indica com o rosto, ele usa dois dedos da mão e bate na cara do meu pai. -Não perca seu tempo, ele já está morto já faz um tempo.

    Meu sangue ferve, esse ato de deboche foi a gota d'água, corro em sua direção e ele se levanta rapidamente, tento acerta-lo mas ele desvia, segura meu braço direito com as duas mãos, se deita no chão e me puxa ao mesmo tempo, seus pés encontram meu corpo e eles me arremessam longe para frente. Meu corpo rala na grama, obrigo a mim mesma a levantar mas já atingi o meu limite, aos pouco consigo ficar de joelhos, mas sinto sua mão sobre minha cabeça, ele me empurra e caio novamente.

    -Ah não. -diz ele com uma voz triste carregada de sarcasmo. -Não precisa se levantar,você pode ficar sentada aí enquanto vê o corpinho vagabundo do seu pai ir pelos ares. -ele tira uma bola do tamanho de uma bolinha de ping pong do bolso, imagino ser a bomba. 

    Me levanto rapidamente, ele se vira para mim mas consigo acertar um soco em seu peito, seu corpo sai girando pela grama, quando finalmente para, ele olha pra mim e vejo o sangue escorrer por um dos cantos da sua boca. Caminho um pouco e fico entre meu pai e Tyler.

    -Foi justo, baixei minha guarda mas de todo jeito não se sinta uma vitoriosa por isso. -ele diz se levantando e enxugando o sangue com mão. -Não irá se repetir. Sabe.. -ele começa. -Ainda estou pensando sobre o como que você conseguiu chegar aqui e imagino algumas opções, ou você deixou sua mãe lutar contra o Enzo sozinha, ou de alguma forma absurda e claramente duvidosa, vocês mataram ele, mas vejo também que sua mãe não está aqui, então ela deve estar ferida ou morta. Ela está morta não é? -ele esboça um sorriso. 

    -Cala essa boca. -digo entre dentes.

    -Foi o que eu imaginei. -ele acha graça. -Você deve se achar uma inútil não é? Quer dizer, olha só o que você fez, nem conseguiu salva-los.  -ele caminha de um lado para o outro. -Arrastou os seus próprios pais para a morte certa por causa de um capricho seu em me matar. Que coisa feira, imagino que de uma certa forma, você até achou bom em eles estarem mortos. 

     Me viro para meu pai, mordo a ponta do meu polegar esquerdo e passo sangue na palma direita, minha mão ganha uma tonalidade vermelha e coloco sobre seu peito, é uma tentativa absurda e totalmente desesperada para que ele volte. Sinto algo molhado, minha mão direita volta a cor normal e eu passo ela por dentro da jaqueta do meu pai, sinto algo quente e retiro na hora e vejo minha mão encharcada. Sangue.  

   Não quero mais ficar aqui, não quero mais existir, só quero que isso acabe e que tudo volte a ser como antes, abaixo a cabeça e começo a chorar. 

    -Você realmente sabe ser patética. -esculto ele se aproximar. -Eu te falei que ele já estava morto, você pode conseguir curar ferimentos mas não pode trazer pessoas dos mortos. Como se sente em ter conseguido salvar pessoas da quase morte iminente, mas quando foi pra salvar seus próprios pais, não conseguiu fazer nada. Durante 2 anos eu vi você salvar pessoas naquele hospital mas agora, olhando pra você, só vejo mediocridade.

    Levo as mãos ao rastreador no meu pescoço, retiro ele do meu pescoço e tiro o frio da pequena bateria, raspo o frio com as unhas. Esculto os passos do Tyler se aproximando cada vez mais, quando ele já esta bem atrás de mim, avanço em seu pescoço, ele desvia mas então, consigo encaixar o rastreador em seu braço, coloco o fio descascado novamente na bateria e solto rapidamente, ele começa a se contorcer e leva um choque, a bomba que estava em sua mão direita explode e somos jogados para lugares diferentes. Meu corpo nunca esteve tão dolorido, levanto a cabeça e vasculho o local, avisto Tyler, com sua pele queimada, seu braço direto está completamente roxo, nossos olhares se encontram.

   -O que você fez? -sua voz sai falha. -O que você fez?

    Encosto o rosto no chão e fecho os olhos, respondo mentalmente.

    Você não vai machucar mais ninguém.  

     


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⏰ Última atualização: Dec 14, 2015 ⏰

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