Capítulo #9

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     O dia já amanheceu, pegamos nossas coisas e saímos da caverna na qual passamos a noite, desembaraço meu cabelo com meus dedos, e ajeito a mochila na minha cintura.

    -Vocês estão prontas? -pergunta meu pai.

    -Sim. -eu e minha mãe respondemos ao mesmo tempo, minha mãe coloca aquelas duas coisas nas costas que classifico com múmias.

    -Ótimo, então vamos. -começamos a correr em direção ao estado Sul.

    Corremos por alguns quilômetros, o clima está bem agradável, deve ser o começo da primavera. A fome bate e decidimos fazer uma pausa em uma macieira, comemos algumas maçãs e decido puxar conversa.

    -Mãe, o que é isso que está enrolado em fachas e está preso em suas costas?

    -Isso você só saberá se for preciso. -diz ela dando uma mordida em sua maçã.

    -É? Isso tem ligação com seu passado no qual você se recusa a me contar? -digo com um tom um pouco provocante demais.

    -Até demais. 

    -Amor, conta pra ela. -diz meu pai tirando mais uma maçã da planta e comendo. -Ela terá que saber mais cedo ou mais tarde. 

    -Ok. -ela me encara e eu me ajeito para não perder nenhuma palavra sua. -Hayley eu não nasci no estado Central.

    O que?

    -Como é? -meu queixo cai.

    -Na verdade sou do estado Sul. -ela olha pro chão, possivelmente lembrando dessa época. -Quando eu tinha 16 anos, fui sorteada para ir para a Floresta Do Desespero. 

    -Mas já que você está aqui, isso quer dizer que... -começo.

    -Isso mesmo. -ela volta sua atenção para mim. -Minha equipe e eu conseguimos vencer o torneio daquele ano, e quando eu cheguei na Torre, eu encontrei seu pai. -ela acha graça e olha pro meu pai. -Naquela época ele trabalhava com um dos fiscais. Eu cheguei na Torre quase morta, tinha perdido bastante sangue por causa de um ocorrido, por pouco a gente não conseguiu chegar e quando chegamos, foi seu pai que me levou direto para a ala hospitalar e ficou comigo até a recuperação.

    -Eu me lembro. -diz meu pai e meus olhos se dirigem a ele. -Eu não sai do lado da sua mãe enquanto ela estava se recuperando, a gente conversava bastante, acabamos criando um vínculo, ela se apaixonou por mim e eu por ela, então ela decidiu ficar aqui comigo. 

    I-incrível! Minha mãe foi uma vencedora em um dos torneios, igual a mim, já posso imaginar ela mais jovem, seu olhar brilhando em meio ao combate, fazendo seus inimigos lhe temer. Nunca que eu ia imaginar que minha mãe -uma senhora que não tem coragem de matar uma barata- pudesse ter feito tal coisa. 

    -Então quer dizer que meu avô e minha avó estão vivos, eles não morreram como você me contou anos atrás, eles estão vivos no estado Sul. -digo.

    -Infelizmente não, meu bem. -os ombros de minha mãe se curvam, meu pai toca seu braço com um jeito carinhoso. -Eles morreram sim, Hayley. Meus pais foram assassinados, meu pai era o líder do estado, e naquela época já existiam umas pessoas chamadas "Desviados". Que hoje você conhece como os Radicais.  -não da pra acreditar, meu avô e minha avó, mortos por Radicais. 

    -Como foi isso? -pergunto.

    -Depois que eu fui para a Floresta Do Desespero, eu encontrei seu pai e decidi ficar, quatro anos depois, minha mãe teve um filho do meu pai, eu voltava de vez em quando ao estado Sul para conhecer meu irmão, ensinei várias coisas pra ele, cuidei dele. O seu tio se chama Enzo. Quando ele completou 15 anos, ele envenenou meus pais, por isso nunca mencionei ele pra você antes. -isso só pode ser brincadeira, que tipo de mostro mataria os próprios pais? -Nessa época você tinha apenas 5 anos. Eu já tenho 45 anos, você tem 18 e o seu tio tem 28. 

     -Ele não é meu tio! -explodo.

    -Enfim. -minha mãe continua. -Depois disso, o Enzo decidiu deixar o estado Sul, e não vejo ele a anos. -uma lágrima escorre no da minha mãe. -E isso é tudo o que você precisa saber no momento, minha querida.

    -Sinto muito, mãe. -nem imagino a dor que minha mãe sentiu causada pela traição do Enzo.

    -Muito bem. -diz meu pai se levantando. -Vamos andando, ainda temos mais um pouco de chão pela frente. Vamos até a Cachoeira de 1000 Tulipas, não queremos perder o inimigo. 

    Minha mãe e eu levantamos, dou umas batidinhas na minha saia para tirar a sujeira, começamos a correr novamente. Após alguns minutos correndo, vemos uma brecha estreita entre duas montanhas,  seguindo por ali, conseguiremos chegar na cachoeira e no estado Sul.  Começamos a descer, a grama abafando o som dos nossos passos rápidos, a floresta já está desaparecendo, dando inicio à um enorme campo verde, tem apenas algumas árvores aqui e ali. Estamos quase entrando no campo aberto, quando duas figuras usando casacos pretos idênticos. Um dele tem o mesmo físico do homem que quase matou o Andrew, meio corcunda, um pouco mais de um metro, mas não vejo a sua cauda de escorpião, a outra figura eu identifico com facilidade apesar da distância. Tyler. 


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