Capítulo 8

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Música sugerida para leitura: Chet Faker - Terms and Conditions

O banheiro era apertado e escuro então tratei de tomar um banho extremamente rápido e vestir as roupas que o Fernando me entregou. Era uma blusa branca GG e um short preto que batia no meu joelho e descia a cada passo que eu dava. Tínhamos decido para o primeiro andar subterrâneo e ele tinha me encaminhado até o banheiro. O lugar possuía vários corredores mal iluminados e tive a sensação de ficar perdida ali se ele me largasse. Por sorte assim que abri a porta do banheiro Fernando estava parado me encarando.

- Vamos jantar. Tem macarrão instantâneo de galinha caipira e vinho de quinta categoria.

Sem esperar pela minha resposta ele se virou e foi caminhando pelos corredores até parar diante de uma porta azul. Ele caminhava de maneira decidida e rápida. Fiquei feliz por ter 1,65 de altura e não precisar correr para acompanhar seu ritmo. Assim que entramos fiquei feliz pela iluminação mais amigável e a cozinha montada no cômodo. Os móveis e eletrodomésticos eram simples mas era um ambiente milhões de vezes mais acolhedor que o banheiro.

- Você sabe que precisa me guiar por esses corredores né? - perguntei puxando uma cadeira pequena enquanto Fernando seguia em direção ao fogão para tirar a panela com o macarrão instantâneo.

- Claro que sei. É estranho, não é? Eu nunca pensei que o apocalipse zumbi terminaria comigo comendo miojo escondido no supermercado do meu pai. Imaginei que eu estaria lá fora defendendo a nação - ele disse ainda sem olhar pra mim.

- Sério? Você tem uma estrutura incrível aqui. Caio e eu estávamos na casa dele, que é bem mais simples que esse lugar, e já estávamos nos sentindo sortudos. Você tem muitos mantimentos aqui, é um lugar extremamente seguro e você tem vinho. O que mais você deseja? - disse tentando ser engraçada mas, aos meus próprios ouvidos, sendo petulante.

- Nesse minuto você não faz ideia do que eu desejo, Barbie. Agora vamos comer.

Quando ele finalmente me encarou desisti e virei o rosto. Ele era intimidador. Extremamente bonito mas extremamente assustador. Terminamos o jantar em silêncio e continuamos tomando alguns copos do vinho que, de fato, era péssimo. Em um determinado momento Fernando voltou a me encarar e já fortalecida pelo vinho resolvi arriscar.

- Você quer saber algo sobre mim ou vai me matar e cortar cada pedaço do meu corpo para alimentar os zumbis lá de cima? - perguntei encarando-o de maneira desafiadora e me sentindo ridícula.

- Seria pouco produtivo e extremamente trabalhoso te cortar em pedaços. Você já tentou fazer isso com um animal? Seria mais fácil te jogar lá fora e ver o show acontecer - ele disse sorrindo de maneira maliciosa.

- Você está tentando me assustar? Que tal perguntar logo o que você quer saber. Sua curiosidade é palpável.

- Certo, Barbie. Qual é a sua relação com o idiota que te largou e como vocês conseguiram se manter após o início desse inferno?

- Meu nome é Lara. Caio e eu soubemos das noticiais através do pai do Caio que é militar e estava no primeiro lugar com registro dos zumbis. Estávamos na faculdade e assim que soubemos do caos viemos até aqui para conseguir mantimentos. Decidimos voltar aqui hoje pois ficamos com medo de ficarmos sem mantimentos.

- Entendi. E a relação de vocês?

- É uma relação ótima. Obrigada por perguntar. Posso dormir? Estou realmente cansada.

- Claro.

A frase saiu depois de alguns segundos de silêncio. Percebi que Fernando estava realmente curioso sobre qual era meu nível de intimidade com Caio e decidi que poderia usar aquilo a meu favor. Eu não sei o que passa da cabeça dos livros de apocalipse que narram relacionamentos amorosos no meio de uma merda desse tamanho. Não quero desiludir ninguém mas quando você corre o risco de ser morta por zumbis, homens loucos e até por um amigo idiota que esquece a porcaria do silenciador é necessário ter muito cuidado antes de cada passo. Fernando era um militar, obviamente estrategista e inteligente. Percebi que ele não me faria mal contudo não arriscaria seu refúgio. Enquanto caminhávamos novamente pelos corredores decidi que não seria prudente deixar dúvidas enquanto eu não tivesse uma rota de fuga. Assim que ele abriu um quarto e indicou que eu poderia ficar ali decidi jogar também.

- Se você está preocupado com a possibilidade do Caio tentar invadir esse lugar você pode ficar tranquilo. Ele não fará isso.

- Minha querida, - ele disse rindo de maneira assustadora - aquele merdinha não seria idiota a esse ponto. Se ele tentar só posso te garantir que ele não sairá daqui vivo. Boa noite e bons sonhos.

Os sonhos foram confusos e desconexos. Não conseguia descobrir a hora que desisti de revirar na cama e levantei. Tinha tirado o short preto transformando a camisa GG em um vestido que batia na minha coxa. Me sentei na cama e analisei o quarto. Era escuro e tinha um cheiro horrível de mofo. A cama de solteiro tinha um colchão horrível, nada de travesseiro ou lençol. Nenhum outro móvel além da cama. Era um lugar claustrofóbico. Me levantei e segui em direção a porta que, para minha surpresa, estava aberta. Assim que meus olhos se adaptaram a luz do corredor vi Fernando sentado no chão, cochilando. Eu sorri e comecei a me movimentar tentando ser silenciosa. Tinha dado 10 passos quando ouvi sua voz.

- Bom dia, Barbie. Você está indo na direção errada. A saída é para o outro lado. Se quiser te levo e te entrego para os seus amigos zumbis.

Continuei parada por alguns segundos. Respirei fundo. E voltei andando na direção dele. Tinha sido uma tentativa produtiva. Pelo menos agora eu sabia a direção da saída.

- Não queria te acordar. Só estava procurando o banheiro - disse dando um sorriso gentil enquanto Fernando me avaliava da cabeça aos pés. Ele percebeu que eu estava só com a camisa e sem sutiã. A camisa era branca, o lugar era frio, o bico dos meus seios jamais conseguiria passar desapercebido mesmo em um lugar pouco iluminado. Percebi o exato momento que ele reparou nisso logo antes de virar as costas e seguir andando.

Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora