Capítulo 13

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Música sugerida para leitura: Feist - Fire In The Water

Fiquei encarando Fernando completamente sem reação durante alguns segundos. Felizmente Caio conseguiu dar conta dos zumbis enquanto nos encarávamos. Me aproximei lentamente com a arma em punho, sabia exatamente o que deveria fazer mas ainda assim hesitei.

– Não precisa atirar. Eu tenho uma ideia – ele disse num sussurro.

Me aproximei um pouco mais e vi a mordida no braço esquerdo. O zumbi tinha devorado um pedaço e a mordida tinha uma aparência horrível. Respirei fundo e voltei a encarar seus olhos.

– O que você tem em mente, Fernando?

– Meu pai acreditava em centenas de teorias da conspiração. Naquele subsolo tem uma sala feita exatamente para manter um zumbi preso. Me leve pra lá, certifique-se de me dar comida e água, em seguida vamos esperar.

– Esperar? Pelo que?

– Pela cura. Tenho certeza que o governo já deve estar pensando em algo do tipo. Me mantenha em segurança e aguarde. Em alguns meses isso já deve estar resolvido.

Caio se aproximou e ouviu o final da conversa. Seu olhar me dizia o quanto discordava da ideia mas ele não falou nada. Simplesmente fez um gesto indicando que precisávamos sair logo daquele lugar.

– Certo. Vamos te levar para essa sala e pensar no que fazer. Mas não vou mentir: ao primeiro sinal de ataque eu atiro na sua cabeça. Tudo bem?

– Ok, Lara.

Percebi um traço de tristeza nos seus olhos mas decidi que aquele não era o momento para sentimentalismo. Não venha me dizer que sou desumana ou tenho sangue de barata. Eu gostava do cara, o sexo realmente era incrível mas nem por isso eu deixaria ele tirar um pedaço do meu braço e me transformar em um monstro.

A viagem até o mercado foi rápida e felizmente a sala de segurança ficava três andares abaixo dos nossos quartos. Era bem iluminada como a cozinha e tinha câmeras de segurança. Do lado de fora três monitores exibiam imagens. Na sala existiam algumas correntes presas a parede de concreto então amarramos Fernando o mais rápido que conseguimos. Ele mesmo nos ajudou. Quando finalmente terminamos o encarei e pude perceber a leve mudança. Seus olhos, antes completamente negros, estavam ficando esbranquiçados. Eu sabia que era questão de horas ou minutos até ele perder completamente sua humanidade.

– Obrigada. Vocês podem jogar a comida e água por baixo da porta. Jamais abram essa porta a não ser que tenham a cura. Fui claro?

– Muito. Você acha que zumbis comem comida normal?

– Eu não sei... mas não custa nada tentar. Traga carnes cruas, talvez abra meu apetite.

Fernando deu um dos seus sorrisos incríveis e eu tive vontade de abraça-lo e dizer que tudo ficaria bem. No fundo eu queria simplesmente sentar ali e chorar por aquela merda toda, por ele não merecer passar por aquilo e por saber que eu sentiria sua falta. Meu lado racional sabia que aquilo só dificultaria as coisas então optei por ser prática.

– Eu juro que vou trazer essa cura o mais rápido possível.

Nos despedimos com um aceno de cabeça. Caio decidiu subir para dar uma olhada no andar superior. Eu sentei no chão e comecei a assistir os três monitores. Fernando estava sentando exatamente como eu dentro da sala. Estava quase caindo no sono quando vi seu primeiro espasmo. Logo em seguida uma convulsão se iniciou e todo seu corpo tremia. Saliva saia da sua boca e quase morri de medo dele mastigar a própria língua. Em exatos 3 minutos a crise passou. Fernando levantou, sentou e em seguida olhou na direção da câmera. Seus olhos negros estavam brancos como leite. Eu coloquei as mãos na cabeça e chorei.

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Acordei deitada no chão e com Caio me balançando gentilmente. Sua expressão era de cansaço mas ele sorriu e me estendeu uma xícara de café.

– Tudo bem lá em cima? – perguntei.

– Sim. Atirei em mais dois zumbis mas não tive problemas. Ele está encarando as câmeras e tentou se soltar das correntes algumas vezes. Assustador.

– Sim. Nós precisamos pensar em como vamos nos organizar para buscar informações sobre a cura.

– Eu consegui sintonizar em uma estação de rádio. Uma voz robótica diz que o governo está restaurando a ordem mas não diz exatamente como. A estratégia de Fernando de ir até a casa do prefeito talvez seja uma boa ideia. Posso ir agora mesmo e voltar antes do anoitecer. Se confirmamos que existem seres humanos vivos por lá a gente pensa no que podemos fazer.

– Não queria que você se arriscasse mas não tenho seu preparo físico. Não posso te obrigar a ir.

– Eu sei, Lara. Está tudo bem. Volto antes do anoitecer. Trate de manter essa porta fechada e vez ou outro dar uma olhada nos pisos superiores.

Nos despedimos com um aceno e voltei a fechar os olhos. As últimas imagens que vi mostravam Fernando encarando a câmera. Uma expressão vazia e um olhar focado. Devo ter apagado por aproximadamente 20 minutos quando ouvi um barulho ao longe. Imediatamente levantei e saquei a arma. Já estava prestes a ir na direção do barulho quando olhei para a porta da sala onde Fernando estava preso 20 minutos atrás. A porta estava escancarada. Fernando estava solto e eu estava presa com um zumbi.

Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora