Capitulo 56 - Lara

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Música sugerida para leitura: The Temper Trap - Soldier On

Eu definitivamente estava irritada com Fernando. Desde o primeiro momento do nosso reencontro ele mantivera uma postura taciturna é ligeiramente irritante. Sua implicância com Z me irritava ainda mais. Quando sugeri acompanhar o atendimento de Felipe para verificar a bala alojada percebi que Fernando praticamente quicou de tanta raiva. O ignorei e segui acompanhando todas as atividades para evacuação do navio.
Levou cerca de sete horas para que todos chegassem a nossa base em terra. Todas as pessoas receberam a vacina. Z e a mulher grávida receberam uma atenção especial devido as circunstâncias. Quando finalmente respirei aliviado por tudo ter corrido bem me despedi das pessoas e anunciei que estava indo para o meu apartamento descansar um pouco. Assim que abri a porta me arrependi.
Fernando emanava uma raiva tão grande que eu quase podia tocar. Ele levou alguns segundos pra finalmente conseguir me olhar nos olhos.
- Você está apaixonada pelo zumbi - ele disse e eu precisei me segurar para não cair na gargalhada.
- Olha, Fernando, eu juro que eu adoro a nossa relação e me senti uma menininha quando descobri que estava novamente grávida de um filho seu mas vou ser bem franca: você precisa amadurecer. Z é mais uma das centenas de vítimas que nos comprometemos em ajudar. A nossa missão aqui desde o início é levar à cura para as pessoas, é ajudar sem pedir nada em troca. Eu vim até aqui pra isso e você também, se não me engano. Eu amava o Fernando que sabia a prioridade das coisas. Dar uma crise de ciúmes por que ajudei centenas de pessoas é algo extremamente mesquinho.
- Você olha pra ele de uma forma diferente, Lara. Eu estava lá. Eu vi - sua expressão era de dor e raiva ao mesmo tempo. Uma parte minha queria que eu me aproximasse, o abraçasse e dissesse que ele estava sendo bobo. A outra parte queria tacar alguma coisa na cabeça dele até ele voltar a ser coerente. Resolvi respirar fundo e tentar ser razoável.
-  Volto a dizer: eu me sinto muito feliz com você e tenho certeza que podermos funcionar juntos. Contudo isso não significa que vou me curvar aos seus caprichos. Z era o líder daquele lugar e eu consegui convencê-lo a nós deixar ajudar o grupo. Simples assim. Já passamos por dezenas de missões parecidas.  Eu não me apaixonei por ninguém além de você e ter que provar isso agora é patético.
- Mas eu...
- Chega, Fernando. Você queria que eu saísse do navio para me poupar. Eu estou aqui e você está sendo mais cansativo do que as horas no navio. Me deixe tomar um banho e me deitar. Tenho certeza que ao acordar conseguiremos ter uma conversa mais produtiva. Tudo bem?
Fernando me olhou nos olhos e saiu do quarto batendo à porta com força. Eu queria ir atrás dele mas o meu orgulho não deixou. Tomei meu banho. Troquei de roupa e finalmente consegui adormecer com sonhos que envolviam Z e meu filho.

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O calor do quarto me fez acordar. Abri os olhos procurando por Fernando mas só encontrei o quarto vazio. Me arrumei e já estava saindo do quarto quando ouvi um burburinho no corredor. Imaginei que poderia ter sido algum problema com o pessoal resgatado mas quando todo mundo parecia desviar do meu olhar eu comecei a ficar realmente nervosa. Quando finalmente encontrei um dos homens de confiança de Fernando eu o prendi com meu olhar e ele parou pra me encarar.
- O que está acontecendo?
- Dona Lara, acho que não sou a pessoa indicada para falar sobre isso.
- As pessoas estão fugindo de mim. Você pode falar abertamente sobre o que está acontecendo.
- Eu acho que não. Talvez o Felipe consiga te explicar.
Antes mesmo dele terminar a frase eu já estava seguindo em direção ao laboratório improvisado de Felipe. Não encontrar Fernando pelos corredores só fez aumentar meu nervosismo. Eu sabia que ele estava nervoso e isso com certeza poderia ter terminado muito mal. Assim que entrei no laboratório Felipe me lançou um olhar que dizia "eu sinto muito".
- Que merda está acontecendo aqui?
- Fernando estava descontrolado na noite anterior. Ele bebeu demais e acabou fazendo besteira.
- Besteira? Cadê ele, Felipe?
- Esse é o problema, Lara. Ele saiu com uma das nossas motos e ninguém sabe para onde ele foi. Deve ter saído pra dar uma respirada, com certeza.
- O que ele fez?
- Lara, eu acho que isso não precisa ser colocado em questão e...
- QUE MERDA ELE FEZ AGORA, Felipe? - eu disse totalmente descontrolada.
- Eu não vi mas nos corredores surgiu uma boato dele ter passado a noite no quarto de uma das mulheres récem curadas. O boato afirma que eles beberam juntos na noite anterior e ele foi para o quarto dela. Como eu disse: eu não vi nada. Podem ser só boatos.
Antes que Felipe conseguisse falar mais eu sai. Minha garganta parecia se fechar a cada passo no corredor e todos os olhares desviados. Todos ali sabiam da infidelidade de Fernando. Todos ali sabiam que ele era o pai do meu filho e tinha dormido com outras mulher. Eu não sentia raiva da mulher, muito pelo contrário. O filho da puta era ele. Um homem de verdade sabe respeitar seus compromissos independente de quais opções tem disponíveis. Fernando, mais uma vez, deixava claro o quanto era capaz de me foder depois de bancar o príncipe encantado. Mais uma vez eu me ferrava e ele saía por cima mas pela primeira vez eu não senti raiva dele. Eu senti pena. Ele tinha me perdido mais uma vez. Ele tinha escolhido me magoar ao invés de me entender. Ele tinha escolhido acreditar em um ciúme tão doentio que o cegou. Eu não tinha feito escolhas erradas, as escolhas foram dele. Quando finalmente cheguei no meu quarto fechei a porta e sentei no chão. Minhas lágrimas caíram enquanto meu peito doía. Eu, mais uma vez, tinha sido apunhalada por Fernando.  Me permiti chorar e sentir aquela dor o máximo de tempo possível. Duas horas depois eu levantei, lavei o rosto e fui trabalhar. Fernando tinha escolhido seguir em frente. Eu também era boa nisso. A diferença é que o nosso filho estava comigo.

Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora