Capítulo 36

1.4K 119 10
                                    

Música sugerida para leitura: Creed - With Arms Wide Open

O prédio de sete andares estava completamente infestado. Levei três granadas e decidi colocar em alguns locais estratégicos. A ideia era fazer os zumbis saírem do prédio. Fernando achou a estratégia razoável. As três granadas explodiram e logo a enxurrada de zumbis começou a sair do prédio. Então algo realmente esquisito aconteceu: um zumbi seguiu na nossa direção gritando.

- Ei! Parem com isso!

A voz dele era parecida com a de Fernando na época de morto-vivo. Uma voz gutural e nada sexy. Os zumbis ao redor rapidamente seguiram a ordem dele e pararam exatamente aonde estavam. O homem era baixinho e ruivo. Estava com uma mordida enorme na barriga.

- Qual é o seu nome? - perguntei de uma distância segura.

- Sou Igor. Fui mordido há três semanas.

- Todos esses zumbis conseguem falar como você?

- A minoria. Não entendemos a diferença, talvez uma quantidade diferente do vírus. Moramos nesse lugar, queremos nos manter seguros.

- Seguros? Vocês são zumbis.

- E tem cachorros zumbis, leões zumbis, lobos zumbis. Vocês acham que não atacaríamos animais quando a fome fosse insuportável? Não sei vocês mas eu não quero receber a mordida de um animal extremamente maior e mais forte do que eu.

- Vocês estão se abrigando nesse lugar.

- Sim. Estamos com fome, fracos e somos zumbis mas não escolhemos esse destino.

- Eu... eu sinto muito - eu disse de maneira sincera.

- Você consegue dar ordens para os zumbis que não conseguem falar? - Fernando perguntou.

- Sim. Eles me respeitam. Creio que no fundo eles me reconhecem como um deles então é mais fácil.

- Vocês mataram a equipe que veio aqui antes de nós - eu disse.

- Me desculpe, senhora. Estamos com fome, desesperados por comida. Eles entraram atirando, eu não poderia controlá-los.

- E por que está controlando-os agora? Acabei de bombardear o prédio de vocês.

- Você está aberta a um diálogo. Eu também. Temos crianças lá dentro, pelo amor de deus, temos centenas de crianças lá dentro. Nós precisamos de ajuda!

Pedi alguns dias para o Igor. Eu precisava conversar com o Carlos sobre esse novo cenário. Talvez algum tipo de vacina, a mesma que usaram em Fernando. Aquelas pessoas poderiam ser curadas. Na estrada, em direção a base militar, Fernando finalmente teve coragem de dizer o que eu não queria ouvir.

- Carlos não vai querer ajudar. Ele vai mandar a gente voltar e acabar com esse lugar.

- Eu sei.

- Então o que você está pensando em fazer?

- Vamos dizer que não conseguimos entrar por causa da quantidade de zumbis e que voltamos amanhã.

- E depois disso?

- Vamos convencer Felipe a fabricar uma quantidade bem grande de vacinas. Uma quantidade suficiente para as crianças dentro daquele prédio. Tenho certeza que Igor será capaz de entender a prioridade. Carlos não precisa saber disso. Nós vamos salvar a maior quantidade de pessoas que pudermos.

-------------

Felipe, Fernando e eu viramos a noite produzindo vacinas. Conseguimos fabricar 300 ampolas. A ideia era arriscada mas não estávamos em condições de ponderar o assunto por muito tempo. Carlos entendeu que eu precisaria de mais um dia para limpar a colônia, aparentemente não desconfiou de absolutamente nada. Fernando e eu voltamos para a colônia de zumbis pouco antes do amanhecer. Igor na entrada do prédio tinha no rosto um tipo de sorriso sinistro.

– Vocês voltaram! – ele comemorou.

– Sim mas não temos vacinas para todos. Só temos 300 ampolas, pensamos que seria importante tentar salvar as crianças.

– Claro, concordo plenamente.

– Você vai conseguir controlar os outros zumbis enquanto fazemos isso?

– Sim. Eu mesmo me encarrego de matar quem ameaçar fazer alguma coisa com vocês dois – ele disse na sua voz sombria e gutural.

E então começamos a tarefa de vacinar 300 zumbis entre 0 e 12 anos. A cada nova criança meu coração se contorcia com a sensação do quanto aquilo era errado. Será que ninguém pensou nisso antes de começar os testes do vírus? Bebês infectados que não sabiam andar. Crianças que nitidamente tiveram a infância arruinada por um espetáculo de horror. Como Carlos conseguia botar a cabeça no travesseiro e dormir sabendo o tamanho do absurdo que eles tinham feito?

Deixei as questões psicológicas de lado e comecei a colocar em prática a segunda parte do plano: o transporte das 300 crianças vacinadas para um lugar seguro. Felipe nos ajudaria nessa. Decidimos levar todo mundo para a mansão de Felipe devido ao espaço e segurança. Em uma semana aquelas crianças estariam normais e eu decidi que aquele seria o nosso propósito: salvar mais pessoas em cada colônia localizada por Carlos.

Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora